Sete maratonas em sete dias

TUDO COMEÇOU quando Marcelo Alves viu uma foto sua, em 2010. A barriga saliente o deixou alarmado: era hora de mudar de hábitos. Três anos antes, ele, que sempre praticara esportes, havia relaxado totalmente a rotina devido ao nascimento da filha, Sophia, hoje com 8 anos. Como viajava muito a trabalho, o administrador de empresas escolheu a corrida como sua nova atividade física. E o esporte não só o livrou da barriga como levou Marcelo a desafios inimagináveis para esse pai de família que mora em Curitiba.

Com a ajuda de um treinador, o administrador de 41 anos começou a competir em provas de rua, e suas distâncias foram crescendo até chegar a meias-maratonas. Foi quando o corredor conheceu a Ice Marathon, na Antártida, e decidiu tentar a sorte na competição que cruza 42 km da região polar. “Sempre acalentei o sonho de conhecer a Antártida e, como eu já estava correndo há algum tempo, resolvi me desafiar nessa prova, nesse lugar tão inóspito. Uni o útil ao agradável”, diz.

Marcelo treinou com um preparador físico por um ano e meio, participando de provas diversas, antes de embarcar para o Polo Sul, em 2012. “Fiz treinos duríssimos porque iria correr na neve: chegava a correr 70 km me pre-parando para os 42k na friaca. É muito mais difícil correr na neve, é pior que na areia fofa”, explica o atleta, que conquistou um glorioso 8o lugar na maratona gelada. No ano seguinte, surgiu o convi-te para ir ao Polo Norte disputar a North Pole Marathon, na qual chegou em 7o. Uma prova foi le-vando à outra e, em 2013, Marcelo correu a Jungle Marathon, que percorre a floresta amazônica. O evento seguinte também não decepcionaria em matéria de grandeza: a Everest Marathon, que percorre a região do acampamento-base do Everest, em 2014.

Mas a cereja do bolo veio no começo de 2015: ele foi o único brasileiro a participar da World Marathon Challenge, em que 12 competidores correram sete maratonas em sete dias, nos sete continentes.

A partir do momento da largada, em 17 de janeiro do ano passado, contaram-se os sete dias de eventos na Antártida, Chile, Estados Unidos, Espanha, Marrocos e Emirados Árabes, até chegar à Austrália. Marcelo garante que a pior parte foram as viagens de avião feitas entre os destinos. Assim que a corrida acabava, os participantes pegavam um voo para o destino seguinte. A despressurização da cabine, somada à alimentação ruim dos aviões e à falta de espaço para dormir direito mesmo na classe executiva tornaram-se novas barreiras para serem superadas. “Na noite em que consegui descansar mais, foram 5 horas”, conta. Mesmo assim, seu desempenho mostrou-se constante, e ele concluiu o desafio com uma média de 4h20m por prova, finalizando em 4o lugar entre os 12 corredores.

Foram 8 meses de preparo para a prova de proporções colossais. A recuperação rápida era o principal foco dos treinos. Por isso Marcelo passou a correr todos os dias, em uma média de 180 km por semana. “Meu treino ‘regenerativo’ era uma meia-maratona”, brinca.

Marcelo hoje conta com patrocinadores e uma equipe de profissionais para auxiliá-lo. Além de um educador físico e um nutricionista, ele visita periodicamente um laboratório bioquímico, onde são feitos testes fisiológicos detalhados para saber se está tudo bem em seu organismo. O treinamento de Marcelo é mais intenso quando ele está na fase de preparo para alguma prova específica. Quando não há nada em vista, corre em torno de 40 km e faz duas sessões de pilates por semana. Mas esses períodos, ao que parece, não costumam durar muito – para ele, o importante é ir logo para a estrada.