Estica e vai!

À primeira vista, alongamento pode parecer um tema batido. Mas já lhe adianto: não existe assunto batido no mundo da corrida. Ainda mais em áreas sobre as quais são feitos estudos constantes. E que geram polêmica e discordâncias. Por isso eu gostaria hoje de falar um pouco sobre a minha visão dessa prática. Tomo como base o que a literatura vem demonstrando em seus estudos mais relevantes e recentes e a minha vivência de 15 anos à frente da seleção brasileira de atletismo.

Muita gente me pergunta se pode mesmo “pular” o alongamento antes dos treinos, já que ele teria pouca serventia naquele momento. Antes de responder a essa dúvida, queria diferenciar o alongamento estático do dinâmico. O estático é aquele em que o atleta coloca a musculatura em uma determinada posição e a mantém por cerca de 30 segundos. Já no dinâmico, são feitos exercícios educativos de corrida que distendem as fibras musculares e, assim, promovem o alongamento de uma forma ativa. Dito isso, eu costumo indicar os alongamentos dinâmicos, como elevação de joelhos e agachamentos unilaterais – assim como trotes mais leves e/ou caminhadas – antes de provas ou treinos intensos, pois eles ajudam a ativar a musculatura que será submetida aos estresses do exercício.

Dou preferência ao dinâmico, pois julgo mais importante um aquecimento nesse momento que um trabalho específico de flexibilidade. Mas nunca li nenhum estudo que relaciona o alongamento estático pré-treino a uma piora no desempenho. Claro, com

a musculatura hiperdistendita, a contração é mais lenta, mas estamos falando de milissegundos, algo praticamente imperceptível.

Já depois de provas e treinos, eu não recomendo o alongamento. Isso porque a musculatura sofreu microlesões durante o exercício e deve ser poupada. Nessa fase, o alongamento pode aumentar essas lesões e comprometer a recuperação do atleta. Após grandes esforços, indico o gelo em diferentes formas, especialmente a imersão do atleta em um tonel com pedras de gelo. Se for possível o atendimento com um fisioterapeuta, existe um aparelho muito utilizado com o alto rendimento, chamado de Game Ready, que é uma espécie de dois em um: alia crioterapia (o frio que ajuda a reparar as microlesões) com compressão ativa, que aumenta o fluxo sanguíneo e ajuda a “eliminar” as impurezas metabólicas produzidas pelo exercício.

Você pode estar se perguntando: “Então para que serve o alongamento estático?”. Para ajudar a prevenir diversas lesões: com a musculatura flexível, você pode ganhar ou manter a sua amplitude de movimentos. Mas o mais recomendável seria investir

nessa atividade em dias intercalados aos da corrida. Assim não submetemos músculos que já trazem microlesões da corrida ao estresse da tensão no alongamento. E, dessa forma, você só fica com a parte boa dos treinos de corrida e dos exercícios de flexibilidade!

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