O começo de uma grande mudança

A paulista Giselli Souza sempre foi uma garota ativa: não parava quieta e praticava vários esportes. Na adolescência, chegou a colecionar troféus na natação e na patinação artística. Mas o jogo se inverteu na faculdade: em 1998, ao se mudar para São Paulo para cursar jornalismo, seus hábitos alimentares e sua rotina também mudaram. “Passei a fumar, trabalhar muito e deixei o esporte de lado. Engordei e perdi qualidade de vida e minha autoestima”, conta Giselli, que viu seu peso ir dos habituais 60 kg para 83 kg.

O ganho de peso foi gradativo, só caiu a ficha quando perdi todas as roupas.” O sobrepeso incomodava, mas ficou pequeno diante de um problema maior: a doença da mãe. Com um câncer em fase terminal, Giselli precisava estar ali, para dar amor e apoio. E foi então que ela resolveu mudar de vida. “Precisava me cuidar, cuidar da minha saúde, estar bem para poder cuidar dela”. E assim, em 2007, Giselli começou a correr.

Os anos seguintes foram de adaptação. “Não é fácil começar a correr pesando 83 kg. Minhas coxas assavam, os tops me machucavam e eu ficava sempre muito cansada. Mas não desistia porque percebia que me sentia melhor depois do treino”, conta. Em 2010, vieram as primeiras provas de 5 km e 10 km. “A estreia na São Silvestre, um mês depois da morte da minha mãe, foi libertadora”, afirma Giselli.

Em 2013, quando se preparava para sua primeira maratona, Giselli criou o Divas que Correm, um blog que tinha como objetivo ajudar e unir as corredoras amadoras. “A ideia é que funcionasse como um clube, onde as corredoras trocassem experiências.” No blog, Giselli faz entrevistas com especialistas e dá dicas de treino, nutrição, vestuário e tudo ligado ao universo da corrida. E, claro, divide suas experiências e motiva outras mulheres a darem o primeiro passo. Ela conta que vive sua melhor fase: hoje pesa 60 kg e tem uma relação saudável com seu corpo e com a comida.

O Divas também conta com uma página no Facebook (com 34 mil seguidoras) e um perfil no Instagram (com 21 mil seguidoras) e promove encontros em parques e pelotões em provas tradicionais. “Eu vejo a evolução de muitas leitoras que se tornaram amigas. Fico muito feliz em perceber que a corrida é um esporte transformador.” Giselli conta que a mudança não é só na parte estética, mas no estilo de vida. “Muitas atletas eram introspectivas, mas no Divas fizeram novas amizades. Algumas tinham depressão, e com a corrida e as amizades puderam dispensar a medicação. Inúmeras recuperaram a autoestima”, conta.

Como no Divas a maioria das mulheres treina por conta, Giselli firmou uma parceria com o treinador de corrida e triatlo Wagner Spadotto. “Elas chegam empolgadas, sem orientação, que é fundamental para irem mais longe e evitarem lesões”. A ideia é que a corrida não seja apenas um pontapé na vida dessas mulheres, mas o esporte que vai acompanhá-las por muitos e muitos anos.

Corredora da vida real

O ano de 2012 foi marcante para a analista de marketing Fabiana Kumai, de 35 anos. Por causa de uma oferta de emprego ao marido, ele e ela se mudaram de São Paulo para Sorocaba (SP). “Estava sem emprego, acima do peso e sem amigas. Comecei a entrar em depressão.” A comida se tornou uma válvula de escape, e o peso de Fabi não parava de subir. Até que uma amiga a chamou para correr os 5 km da Night Run e ela foi: caminhou, sofreu, mas chegou lá. E não parou mais de correr. “No começo ia na esteira, de bata, porque tinha vergonha do meu corpo. Mas quando descobri o Divas que Correm, eu me identifiquei com muitas histórias reais e me senti encorajada. Hoje estou satisfeita comigo, de corpo e mente.”

Meia Maratona à vista

A analista de mercado Pauliane Claro, de 31 anos, sempre foi boa de garfo. Em 2013, quando viu suas fotos de uma viagem de férias, percebeu que precisava tomar uma atitude. Procurou uma assessoria esportiva e começou a correr. Estimulada pelo Divas, estabeleceu sua meta mais ambiciosa: estrear em uma meia maratona. “Estou treinando sério há cinco meses com o treinador Wagner Spadotto, que tem uma parceria com o blog, e sinto uma evolução enorme. Estou mais magra, mais disposta e confiante. Eu me encontrei!”, conta Pauliane, que corre três vezes por semana.