O barato sai caro

Eu já consegui poupar. Muito quando morava com meus pais, bem menos quando passei a pagar aluguel. Mas sempre sobrava a graninha da tranquilidade futura. Porém, de um tempo para cá, o desafio tem sido manter a saúde sem entrar no cheque especial. Dizem os entendidos que ninguém sentiu tanto a crise quanto os setores petroquímico, siderúrgico e o da construção civil. Eu, humildemente, devo discordar: quem sofreu um baita golpe foi a alimentação saudável.

Se já era caro comer bem, agora está quase insustentável. Inflação de 10% é só na fonte, com o efeito cascata, vemos legumes, verduras, carnes e outros itens de uma dieta nutritiva com até 70% de aumento. Isso sem falar nos orgânicos – lado a lado no mercado, duas bandejas de sobrecoxa de frango: uma por R$ 5 reais e outra por R$ 17. Mais à frente, uma embalagem com nuggets que traz muito, mas muito mais que frango – na verdade, são 25 ingredientes –, mas está ali, tudo prontinho, tão prático. E barato.

Os nuggets são só um exemplo de como a comida industrializada vem desenvolvendo métodos de produção e ingredientes cada vez mais baratos (e altamente viciantes) para aumentar a margem de lucro. E de como nós estamos sendo jogados para o lado mais fraco dessa balança comercial. Comer bem custa mais caro porque comida de verdade é feita com carinho, geralmente em pequena escala, sem facilitadores de crescimento e, infelizmente, sem muito incentivo do governo. Esse, aliás, faria um belo favor para a humanidade se sobretaxasse os ultraprocessados. Sim, invertesse o jogo: o que é saudável fica mais barato, e as tranqueiras – carregadas de açúcar, sal e gordura trans – custariam os olhos da cara. Já seria um incentivo para repensarmos nossos hábitos. Outra opção seria um alerta em embalagens, como nos cigarros: “Este produto consumido em excesso pode levar à obesidade, diabetes, hipertensão e outros males à saúde”.

Porque do jeito que anda não está fácil para ninguém. Como apontar o dedo para a família que vai jantar na famosa rede de fastfood? Eu nem considero comida o que vendem ali, mas temos o direito de julgar? Tente sentar com seus filhos em um restaurante gostosinho e levantar da mesa sem deixar pelo menos R$ 200 (sendo uns 30 em suco, que custa quase o dobro do refrigerante). Agora multiplique isso por quatro, pensando que vocês vão se controlar e comer fora apenas uma vez por semana. Puxado.

Mas é preciso continuar fazendo o possível. Porque o barato pode sair caro lá na frente, em eventuais gastos com consultas, medicamentos, cirurgias cardíacas, tratamentos para diabetes. Mais do que nunca, vale a pena dedicar tempo ao preparo dos alimentos. Planejar, organizar, congelar o que for possível. Ir à feira comprar diretamente do produtor. E também programar refeições na casa dos amigos, revezando quem vai para a cozinha. Eu tenho feito disso um hábito e assim voltei a aplicar. Não dinheiro, mas tempo, em um investimento que faz um bem danado à saúde: amizades verdadeiras.