A corrida não pode parar

Para quem gosta do prazer sadomasoquista, ler jornais todos os dias tem sido uma orgia! Pelo menos quando o assunto é economia. Para os que vivem do esporte, a coisa também não anda fácil, mas, acredite, tem gente comemorando. Apesar da crise que atolou o Brasil em um dos maiores buracos político e econômico da história, há assessorias esportivas e empresas de eventos tirando leite de pedra. Rodrigo Taddei, sócio da Limiar Assessoria Esportiva, apesar de preocupado, diz que o mundo segue girando. Para ele, com tanta notícia ruim no cenário econômico, os executivos estão usando o esporte para desintoxicar a mente. A assessoria não perdeu alunos, e as viagens para correr maratonas seguem sendo programadas, ainda que cada vez com mais antecedência. Para a maioria de seus corredores, não importa se daqui a oito meses o dólar vai estar R$ 3,50 ou R$ 4,50 – maratona demanda planejamento e é difícil alguém mudar de ideia nas semanas que antecedem a largada só porque a Operação Lava Jato prendeu mais um político. Para Taddei, o público de alto poder aquisitivo não sentiu a crise.

Já Marcos Paulo Reis diz que nunca trabalhou tanto para manter o resultado dos anos passados. A MPR também não perdeu alunos por conta da crise, mas os sócios não param de pensar em como passar essa fase sem sofrer o que quase todo o Brasil sofre. Acabaram de lançar um produto com 40% de desconto do preço regular – em que o aluno tem direito a usar a infraestrutura de treino, como água, isotônico, alongamento e professores nos parques, sem receber planilhas. Treino na crise também pode ser assim: de baixo orçamento, desde que se siga adiante!

Para as empresas que organizam corridas de rua, o cenário não é muito diferente. Segundo Anuar Tacach, sócio-fundador da agência OOF – Out of Office, os organizadores brigam pelo mesmo público. Há muitas provas para não tantos corredores. Nesse jogo, ganha quem vende mais inscrição, e para isso é preciso preço baixo e kit bacana, com medalha, camiseta e otras cositas más.

Como Marcos Paulo, Anuar está trabalhando mais para manter resultados. Se antes precisava de três patrocinadores para viabilizar um evento, hoje são necessários oito. As cotas estão mais baratas, a mão de obra mais cara e a rentabilidade, comprometida. A solução está em buscar novas ideias e produtos. A OOF lançou recentemente a primeira meia maratona só para mulheres do Brasil, a Girls on the Route, evento apoiado pela Runner’s.

Pode-se dizer que o momento atual do Brasil é muito similar ao Km 30 de uma maratona: é ali que se separam os homens dos meninos, é nessa hora que devemos ser fortes e buscar soluções para superar a dor. Se o Brasil anda de lado, os bons seguem em direção à chegada. É na dor que as boas ideias surgem, para esse público não tem crise que o faça desistir.