Jornalista começa a correr depois dos 30 e conquista 30 pódios em três anos

Por Patrícia Beloni

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Corrida não tem idade, e Priscila Dempsey sabe disso. Ela que começou a correr depois dos 30 anos, criou um vínculo de amor e comprometimento com o esporte e conquistou 30 pódios em três anos de corrida.

Depois dos 30: ela conquistou 30 pódios em três anos

A ideia nem era praticar exercícios naquela tarde. Priscila Dempsey curtia mais um dia de praia quando os cunhados mandaram um: “Vamos nessa?”. E ela foi. Sem nunca ter percorrido nem 100 metros antes, correu ao lado deles os 7 km da planilha. Impressionados, eles a convidaram para uma prova de 10 km dali a um mês: a Track & Field Run Series de 2014. “Eu não entendia direito esse negócio de distância e de tempo. Mas fiz a prova em 55min38 e, pelo que entendi pela reação da turma, era um tempo bacana de estreia para quem nunca havia treinado”, lembra.

Foi ali que Priscila tomou gosto pela corrida, mas ela não pensava em procurar uma assessoria, só queria treinar quando tivesse vontade. E o mais impressionante: foi evoluindo mesmo passando longe da recomendada evolução lenta, gradual e supervisionada. Resolveu partir para uma nova distância e, em 2015, estreava na meia maratona. “Mas é claro que eu não tinha noção nenhuma do que estava fazendo”, brinca. Nesse mesmo ano, ainda faria a São Silvestre, prova em que conheceu o ultramaratonista Wladimir Souza, que a convenceu a correr uma maratona.

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Foto: Daniel Akira Yossio/Runner’s World Brasil

Rumo aos 42 km

Depois da São Silvestre, Priscila fez uma viagem e ficou com aquilo na cabeça. Entrou na internet, pegou uma planilha e resolveu se preparar. A próxima era dali a três meses, a Maratona Internacional de São Paulo, em abril de 2016. Começou a treinar, porém ainda não estava muito confiante. O primeiro treino era um longo, com cerca de 2h30, e sem quilometragem predeterminada. Era um domingo, ela estava doente, mas mesmo assim pensou: “Tem que ser hoje, preciso começar”.

Priscila nunca tinha feito um treino tão longo, mas traçou uma meta: se chegasse ao fim, seguiria à risca a planilha para os 42 km. Se não desse certo, abortaria a ideia. Ela venceu sem grandes traumas aquelas 2h30 e passou a treinar seis dias por semana.

Priscila, que esperava fazer sua primeira maratona em 4h, conclui o desafio em 3h50 e chegou tão bem que resolveu investir no seu potencial: foi em busca de uma assessoria de corrida. Pediu o contato do treinador dos cunhados e começou a correr sob a supervisão de Ademir Cruz, que ela havia conhecido antes de fazer a maratona. “Senti uma coisa diferente – nunca tinha conhecido alguém com quem eu tivesse vontade de treinar. E naquele momento eu queria evoluir”, conta.

O primeiro pódio

Depois de se superar com os 42 km, veio um vazio. Ela precisava de um novo objetivo. Assim, acabou se inscrevendo para a SP City Marathon, em julho de 2016, dali três meses novamente. “Ademir falava que eu possuía muito potencial, que logo ia pegar pódio. Dizia que eu tinha que parar de correr escutando música para prestar mais atenção nas minhas sensações e, especialmente nos meus adversários, mas eu não acreditava”, confessa.

Até que conquistou seu primeiro pódio, nos 16 km do Circuito das Estações: o tempo de 1h12min50 lhe rendeu o 3º lugar no geral. Durante a prova, ela estava de fone de ouvido, correndo focada no ritmo predeterminado. De repente percebeu que uma moto e uma mulher se aproximavam dela no último quilômetro. “Eu não estava entendendo o que estava acontecendo até me explicarem que eu era a 3ª colocada no geral. Chorava por ter conseguido pegar pódio. Eu tinha feito a prova inteira em 2º lugar, mas, distraída, deixei outra pessoa me passar. Depois desse dia nunca mais escutei música em provas, mesmo sabendo que seria difícil correr 42 km no silêncio da minha mente.”

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Ela não corre, atropela

Seis vezes por semana, Priscila acorda às 5h da manhã para treinar. Além da planilha de corrida, ainda faz dois treinos semanais de força. Na fase de treino para a maratona, acorda ainda mais cedo (às 4h), sendo que, duas vezes por semana, faz um segundo treino, que termina entre meia-noite e 1h. “Eu não vou parar nunca. Corro para ser melhor do que fui ontem. E sempre há mais para se conquistar.”

Dois treinadores ensinam como começar a correr no início da manhã

Superação

Em um ano, ela completaria quatro maratonas. Em 2016, correu a Maratona Internacional de São Paulo (abril), a SP City Marathon (julho) e uma etapa do Circuito Rios e Ruas da Caixa (agosto), prova esta que lhe rendeu a 2ª colocação no geral e as despesas pagas para a Maratona de Paris em abril de 2017. “Corri com muita dor nos glúteos já que estava com tendinite nos isquiotibiais. Mas ali eu bati meu recorde pessoal: terminei em 3h20”, recorda. Já em janeiro de 2017, Priscila completou os 42 km da Disney com os termômetros marcando 3ºC, vento forte e um belo piriri. Mesmo assim, fechou em 3h26. Ainda em 2017, foi campeã na Meia de Sampa, com o tempo de 1h31min40.

Hoje Priscila integra a Team Life Qualite, projeto da marca Track & Field que reúne dez atletas inspiradores. Logo que foi chamada para treinar com o time, teve que enfrentar um belo contratempo: uma fratura no calcanhar. Perdeu uma prova nos Estados Unidos para a qual já estava inscrita e ficou de molho por 50 dias. Mas, no início de 2018, estava de volta aos treinos. E recomeçou o ciclo de vitórias com um gosto especial. “Venci a primeira e a segunda etapas de “A Chance do Kaic”, sequência de quatro provas em prol de um menino que possui uma doença muito rara – a leucoencefalopatia”, conta.

Família unida

Nesta altura você pode estar se perguntando: e a vida pessoal, como fica? Lado a lado, correndo junto! O marido de Priscila, Fabiano Pascarelli, tinha colesterol alto, fez tratamento e foi orientado a praticar exercícios físicos. Então ela começou a incentivá-lo a correr também. Fabiano não acreditava que seria capaz, mas logo foi se apaixonando pelo esporte. Hoje ele também treina com Ademir Cruz e corre 21 km com tranquilidade.

Duas planilhas para seu recorde pessoal nos 21 km

Talvez o grande feito de Priscila não seja somente a conquista dos 30 pódios em três anos de corrida, mas fazer isso equilibrando treinos e provas com as vidas pessoal e profissional. Priscila faz parte da equipe de produção do programa Casos de Família, da emissora de televisão SBT. Ela trabalha em horário comercial e, mesmo assim, arruma tempo para treinar seis dias por semana. Acorda antes de o sol nascer para correr, chega no trabalho às 9h, sai às 18h e duas vezes por semana treina novamente às 20h. “Porque corrida é só questão de treino. Com foco e determinação, qualquer um é capaz.”