Over o quê?

Sabe o famoso “passei do ponto”? Pois é, ele é responsabilidade sua e minha. Ninguém decidiu por mim nem me obrigou a correr tantas provas seguidas, ninguém me influenciou a fazer nada que eu não quisesse e ninguém colocou uma arma na minha cabeça para correr.

Foram escolhas erradas e minhas. Não comecei a correr ontem e sei de todos os malefícios do overtraing, sei de toda a carga física e nas últimas semanas pude conhecer também a carga emocional de se passar do ponto.

Correr é maravilhoso, nos mantém com a cabeça em ordem e o corpo saudável, mas não é novidade para ninguém que correr demais faz mal. A maioria das lesões vem como resultado da sobrecarga que jogamos no nosso corpo e o problema não é lidar apenas com isso, sobrecarregar a cabeça com um ritmo insano de treinos pode comprometer não só o relacionamento com a corrida, mas também com a nossa saúde mental.

Ano passado segurei e só corri o que realmente me importava, já em 2015 soltei. Há meses venho numa sequência desnecessária de provas e recordes pessoais, que cá entre nós não mudou nada na minha vida. Não estava em momento de bater recordes nem de correr tantas provas seguidas, mas ao colocar cada um dos números de peito assumi a responsa e paguei a conta.

Não me machuquei, mas tive que lidar com a dor física por umas semanas e pior do que isso: comprometi minha relação com a corrida. Em vários momentos me peguei pensando em fazer outra coisa ou em virar uma corredora de final de semana. Em vários momentos chorei, senti uma tristeza que não sabia de onde vinha e procurava em todos os cantos uma vontadezinha (pequena que fosse) de correr.

Quando achava essa pontinha de vontade saía para correr, mas não sentia prazer algum. No segundo km já queria que o treino acabasse…Nunca havia me sentido assim, nem depois de Chicago nem de nenhuma maratona. Foi horrível, mas não dividi com ninguém porque não sabia se era algo passageiro ou se realmente azedei com tudo… Tentei organizar e resgatar as coisas boas dessa relação, procurei fazer outras atividades e sentir prazer de outras formas até que tudo voltasse ao normal.

A yoga teve um papel importante, pois me ajudou não só nas dores físicas, mas também na reorganização das ideias. (Vou escrever depois sobre isso)E finalmente há alguns dias a rotina voltou ao normal e a chama do amor voltou a brilhar. A parte boa é que tenho o Wanderlei, que foi super compreensivo, não forçou a barra e me deu ótimos conselhos durante a “depressão pós provas”.Não quero mais me sentir assim, não quero mais estragar o relacionamento.

Acho que a gente precisa falar menos e praticar mais o equilíbrio de vida. É delicioso correr forte, ser “tigrona” e ter história legal para contar, mas não quero ser uma pessoa quebrada e infeliz daqui há alguns anos.

Todo mundo erra, e desta vez passei do ponto. Não quero ser refém da corrida, quero ser amiga dela! Correr prova todo final de semana é um erro infantil, quase inadmissível. Seja por um recorde ou por qualquer outro motivo, a partir de agora só vou me inscrever no que realmente for importante para mim.

E você? Sabe identificar os sinais de que passou do ponto?