Descanso também é treino

Nestes meus 22 anos como atleta, sendo os últimos dez também como treinador de corrida, percebi que a busca pela performance tem levado atletas amadores e profissionais a altas cargas de treino e pouco tempo de recuperação entre elas. Viajo muito e nunca sou questionado sobre meus períodos de descanso, mas sempre sobre meu volume de corrida e meu trabalho anaeróbico na fase de preparação.Existe a falsa percepção de que quanto mais o corpo for submetido a níveis elevados de estresse, melhores serão os resultados.

Atletas com grande potencial têm sucumbido durante as competições por sofrerem de overtraining (síndrome por excesso de treino). O que geralmente acontece é que esses atletas, depois de um “fracasso” em uma competição, acham que as altas cargas de treinoforam insuficientes e que deveriam treinar ainda mais no próximo ciclo.

Mas, independentemente do quanto você dê duro nos treinos, só vai colher os benefícios se respeitar a relação entre descanso e carga de trabalho. Não importa quem você é ou a quais níveis de estresse físico é capaz de se submeter – você não vai ficar mais forte até que dê ao corpo o tempo adequado para ele se restabelecer.

Infelizmente, como corredores, muitos de nós somos irresponsáveis na questão da recuperação. Ouvimos à exaustão o com conselho de respeitar o corpo e incluir o descanso na planilha, mas muitas vezes somos incapazes de admitir que estamos cansados e que precisamos “tirar o pé”.

Eu entendi a importância de dar o tempo necessário antes de me sentir pronto para a próxima sessão de treinos. Percebi que em determinados ciclos do treinamento meu corpo precisava de mais dias de descanso para executar um treino mais puxado com qualidade. Se no primeiro semestre eu precisava de dois dias de recuperação, no segundo precisava de três ou quatro dias.

Podemos discernir o que é melhor para nossos corpos com mais frequência e sabedoria do que imaginamos. O que não quer dizer que somos disciplinados o

suficiente para fazer o que sabemos que é o certo. Mas, geralmente, depois que cometemos alguns erros, ficamos mais dispostos a deixar a teimosia de lado e realmente colocar a teoria em prática.

Algumas das pessoas que me procuram como treinador já chegam dizendo que querem fazer uma ultramaratona – isso sem nunca terem feito uma maratona no asfalto. Eu não estou aqui para falar que você deve treinar menos. O mais provável é

que você esteja precisando descansar mais e planejar sua preparação de modo

mais consciente. Por isso, converse com seu treinador e avalie com cuidado seu plano de treino e suas metas. E bons treinos!