Guerra dos sexos

Recentemente, uma pesquisa analisou 92 mil maratonistas e chegou à conclusão de que as mulheres se cansavam menos do que os homens na segunda metade de uma prova de fundo. Segundo o estudo, as mulheres desaceleravam em média 11,7%,enquanto o ritmo dos homens diminuía 15,6%. Você talvez se pergunte por que, já que as provas de fundo femininas são geralmente mais lentas que as masculinas. Mas isso é facilmente explicado fisiologicamente.

Os homens são mais agressivos e correm em um ritmo mais intenso no começo da prova – o que faz com que se cansem mais na segunda metade da competição. Porém, devido a sua maior força muscular e capacidade aeróbia, eles suportam o esforço mais tempo do que as mulheres, fazendo com que, mesmo cansados, concluam a prova mais rapidamente.

Contudo as mulheres têm uma vantagem hormonal. O estrogênio, um hormônio basicamente feminino, facilita a produção e absorção de óxido nítrico, que proporciona relaxamento muscular e vasodilatação, o que favorece a nutrição e o retorno sanguíneo. Como as mulheres têm um volume muscular menor, o retorno sanguíneo mais eficiente faz com que elas se sintam menos fadigadas no final da prova. Já no caso dos homens, quanto mais desenvolvidos os músculos dos membros inferiores, mais comprimido fica o sistema circulatório, prejudicando principalmente o retorno venoso.

Mas, como as provas de fundo dependem muito de força muscular, além da resistência, os homens sempre chegarão na frente. Eles têm mais testosterona – hormônio que lhes dá força, mais volume muscular e um VO2 (capacidade máxima de usar oxigênio durante o exercício) superior. Eles também têm uma caixa torácica maior, que possibilita uma melhor troca gasosa. Há também a estatura diferenciada, que faz com que as alavancas de força e a amplitude de passada funcionem a seu favor.

E tem mais: o atletismo feminino começou na era moderna, enquanto os homens praticam amodalidade há séculos ou até milênios. No Brasil, as corridas de rua eram basicamente masculinas até os anos 1970; apenas um pequeno número de mulheres corria algumas provas. Reforçando ainda mais a diferença fisiológica, por muito tempo o treinamento passado para as corredoras era muito menos intenso que o elaborado para homens com os mesmos objetivos.

A evolução feminina no atletismo é certa, mas isso não quer dizer que os tempos nas provas de ambos os sexos serão iguais. Mesmo com a evolução nos métodos de treino e as performances cada vez mais incríveis nas provas femininas, as mulheres nunca chegarão a fazer os mesmos paces dos homens – pelo menos não na elite do atletismo.