Corrida pós-parto

Era uma quarta-feira, 12 de dezembro de 2012. O treino tinha sido daqueles que eu mais amo, tiros fortes, de perder o fôlego. Cinco de 500m e outros três de 1 km. Fui até o meu limite, como sempre fazia, até sentir gosto de sangue na boca (e dá-lhe ácido láctico). Horas mais tarde, já em casa, passei mal. “Exagerei”, conclui. Três dias depois, descobri que o mal-estar não tinha sido só por causa da corrida. Dois testes de farmácia apontaram: eu estava grávida. Alice, minha primeira filha, ainda um pontinho de 9 mm dentro do útero, já sacolejara e sentira as delícias da endorfina pela primeira vez.

Aquele foi o meu último treino de planilha até aqui. Ensaiei algumas vezes voltar às corridas, mas nada de conseguir engrenar. Caminhei, dei meus trotes, cheguei a rodar até 8 km, mas tudo ainda muito distante da forma e da performance de antes. Por que é tão difícil recuperar a disposição, o fôlego, a vontade de largar tudo e ir para a rua suar a camisa? Demorei para descobrir a resposta.

Fiz treinos leves durante a gravidez. Como eu já corria havia muito tempo (tinha quatro maratonas no currículo), meu treinador liberou. Consegui manter a atividade física até o sétimo mês, sempre apostando que, assim que a pequena nascesse e eu fosse autorizada, voltaria para os treinos.

Quando Alice completou dois meses, aluguei uma esteira. O plano era correr quando ela dormisse. Durante os três meses mínimos de aluguel daquele trambolho, só subi nele quatro vezes. Quando a pequena, enfim, dormia, eu dormia também. Morta de cansaço e sono, a última coisa que eu podia imaginar fazer era correr.

Enfim as mamadas noturnas deram uma trégua e passei a dormir melhor. Fiz uma nova tentativa de retorno, mas também estava voltando a trabalhar. E quem já passou por isso sabe o quanto é duro encaixar a nova rotina de profissional, mãe, mulher e dona de casa nas 24 horas do dia. Se eu não ia para a academia ou para a rua, ficava me cobrando, me sentia culpada. E, se ia, acontecia a mesma coisa! Não que eu achasse errado reservar aqueles minutinhos da semana para mim – eu achava justíssimo –, mas a cabeça não desligava. Insisti, corri algumas vezes, até que assumi que preferia estar rolando no tapete da sala com a minha bebê do que estar ali.

A descoberta foi libertadora. Perceber que tudo bem deixar de ser corredora por um tempo para ser a mãe que queria para minha filha me tirou um peso das costas. Sou corredora amadora e sempre corri mais e melhor por prazer. E se o prazer da minha vida agora atendia pelo nome de Alice, não havia mal algum naquilo.

Hoje a pequena e eu estamos menos dependentes uma da outra, e voltei (juro!) a correr no mês passado. Saio para meu treino feliz, sem pressa. O corpo ainda padece, está se readaptando, mas a cabeça enfim parece pronta para encarar os quilômetros. Que venham muitos pela frente!