Doping, um grande negócio?

Para a gente que vibra com cada conquista (literalmente) suada na corrida, fica difícil entender o que leva um atleta a usar substâncias ilícitas para turbinar a performance. Mas a lógica do doping é relativamente simples. Para atletas de elite, é questão de

(muito) dinheiro, fama e poder.

Para atletas amadores, é um pouco mais complexo, mas eu resumiria em uma palavra: ego. Fazendo uma analogia com o mundo dos negócios, o amador que não se dopa seria o Jorge Paulo Lemann, dono da maior cervejaria do mundo: um exemplo de que para chegar lá é preciso dar o sangue, perder muito e ganhar pouco. Para o amador dopado, o caminho seria mais curto. Ele seria o Eike Batista, aquele que vende projetos, sonhos, papel, mas, no fundo, tudo não passa de ficção e mentira.

Para entender melhor esse negócio tão obscuro quanto lucrativo, contatei entidades como o Conselho Federal de Nutricionistas e a Associação Brasileira de Controle de Doping, além de médicos e atletas. E comecei do início: afinal, quando surgiu essa praga? O doping existe desde o século 19, quando os africanos, em guerra contra a invasão holandesa, tomavam uma bebida à base de ervas chamada Dupe (palavraem holandês que originou o termo doping). Nas Olimpíadas, primeiro caso detectado foi no México, em 1968. Por causa de uma cervejinha, um atleta sueco foi pego e a equipe de pentatlo perdeu a medalha de bronze.

A novidade é que a trapaça vem ganhando força entre os amadores. Entre os corredores, os casos, se existem, são muito bem camuflados. Já entre os triatletasamadores, os casos são mais comuns (embora ainda minoria). O que geralmente acontece é o seguinte: o amador tira férias prolongadas, come e bebe o que não deve, engorda e, claro, a retomada dos treinos fica difícil. Ao mesmo tempo, ele vê a evolução dos amigos que não pararam de treinar. Para não ficar tão atrás, ele procura um endocrinologista, que prescreve um medicamento para emagrecer: aí começa o doping. Em poucas semanas, o corpo sarado volta, o ego infla. As provas começam, e os resultados aparecem. Tudo muito rápido e eficiente.

Para aqueles que eu chamaria de “amadores de mentira”, há vários atalhos, entre eles o hormônio testosterona para treinos de velocidade (tiros) e musculação, a EPO (eritropoietina, que estimula a formação de hemácias) para resistência e recuperação e as anfetaminas (Jack 3D é uma delas) para dar gás, energia.

São poucos laboratórios no mundo acreditados para fazer o exame antidoping – só 35 dos 7.500 existentes –, e isso encarece o processo e dificulta o controle, especialmente entre amadores. Por outro lado, hoje qualquer um pode comprar substâncias dopantes pela internet. Basta escolher e ir fundo. Mas a escolha que deveria ser feita é: você quer ser um atleta de verdade ou não? Porque quem se dopa não é. E é por isso que corro limpo – dentro dos limites do meu corpo e da minha mente.