No topo da cadeia

Quem come para viver bem – e não apenas muito – costuma valorizar o alimento, conhecê-lo a fundo.Busca opções saborosas, nutritivas e saudáveis. Mas será que aquele peito de frango grelhado está mesmo vendendo saúde? Responda rápido: você sabe o que come o que você come?

Na ração de frangos, bovinos e suínos, é comum a presença de antibióticos. Em alguns casos, não apenas para tratar doenças, mas para preveni-las. Nas aves, por exemplo, ajudariam a evitar infecções que afetariam a absorção de nutrientes. Já os bois confinados no Brasil (uma minoria) comem soja e milho para engordarem mais rápido. O problema é que eles vieram ao mundo para digerir grama e nãoessa mistura, que gera umafermentação tão forte que pode até matá-los. Então, dá-lhe antibiótico na ração. Para alguns estudiosos, esse uso indiscriminado pode dar origem a bactérias resistentes a antibióticos. Ou seja, esses medicamentos deixam de surtir efeito – um risco para os animais e para todo mundo que se alimenta deles.

Os peixes criados em confinamento, como o salmão e a tilápia vendidos no Brasil, também recebem antibióticos, mas, pelo que apurei, apenas em caso de doença. Na verdade, a maior polêmica envolvendo o salmão tem sido a “corzinha” que ele ganha no confinamento. Enquanto no salmão selvagem o tom alaranjado vem da alimentação à base de crustáceos e moluscos, o salmão confinado é “tingido” por um corante presente na ração. Dizem que esse pigmento é derivado do petróleo e pode causar intoxicação e até câncer. Pura lenda. Trata-se de uma pró-vitamina inócua e, de acordo com estudos, a dose necessária para gerar um câncer jamais seria consumida por nós, humanos. O valor nutricional (teores de ômega 3 e 6, por exemplo) desses peixes de confinamento depende da qualidade da ração. Mas a quantidade de ácidos graxos também pode variar de acordo com a região em que um peixe foi pescado. Além disso, estamos falando de uma diferença de centésimos.

Se, por precaução, você decidir priorizar os peixes vindos da pesca para evitar o antibiótico residual, a tarefa não é tão fácil. No Brasil, sardinha, robalo e beijupirá seriam opções certeiras. Mas tambaqui, pacu e pirarucu, por exemplo, podem tanto ter sido pescados como criados em confinamento. Como saber? E se a água de rios, lagos e mares estiver contaminada com mercúrio, espécies no topo da cadeia alimentar (que comem outros peixes), como cação, tucunaré e atum tendem a acumular maior quantidade desse metal. Mais uma vez, a dúvida: como saber?

Eu continuo priorizando o peixe na dieta, minha principal fonte de proteína. Pescado e também confinado, mas vario as espécies para obter o máximo de nutrientes. Benefícios comprovados superam supostos riscos. Consumo menos carne vermelha (e mais grãos) e só compro frango orgânico (criado sem antibióticos). Porque nossa saúde depende da saúde do que comemos.