Linda, leve e solta

Por Thaise Zaupa

Acredito que minha história não seja diferente da de tantas outras mulheres. Nunca fui magrinha, sempre tive quadril largo, pernas grossas. Com a morte do meu pai, entrei em depressão e, em poucos meses, cheguei a pesar 104,8 kg (para os meus 1,70m). Passei a me esconder em roupas largas e também dentro de casa: não saía, com vergonha das pessoas.

Até que um dia minha melhor amiga me chamou para acompanhá-la em uma prova de corrida. Confesso que estranhei o convite: ela já corria há anos, era magrinha e estava acostumada com aquele universo, mas eu era sedentária, estava obesa e não me imaginava correndo nem 100m. Mesmo assim eu fui e, andando e correndo, completei os 5 km em 40min09. Foram os 5 km mais libertadores da minha vida.

Na sequência, fiz uma bateria de exames, me matriculei em uma academia, procurei uma nutricionista e entrei em uma assessoria de corrida. Não foi fácil virar corredora. Eu sentia vergonha de dizer que participava de provas, afinal, eu era gorda, e as pessoas logo de cara me perguntavam “Mas você corre?”, “Seus joelhos não doem?”, “Não corre o risco de ter um infarto?”. Era o jeito de elas me dizerem: “Menina, se enxerga, você é muito gorda para correr”. Mas eu ia levando e, para evitar o interrogatório, muitas vezes me antecipava: “Pois é, sou um trator que corre”, eu dizia.

Eu sempre tive ajuda de profissionais, o que fez uma grande diferença. Seguia planilhas elaboradas pelo meu técnico, que intercalavam caminhada e corrida, e fazia musculação. Com uma alimentação adequada e treinos regulares, fui perdendo peso e evoluindo. Passei a escolher provas com percurso plano para que eu mantivesse o ritmo entre 6min20 e 6min40 por quilômetro e conquistasse meu primeiro objetivo: 5 km abaixo de 32 minutos.

Fui ganhando confiança e aumentamos as distâncias. As poucas perguntas deixaram de me incomodar – passei a encará-las como admiração pela minha evolução. Estava em paz comigo, eu me aceitava. Cheguei até a correr de saia e top. É uma satisfação inenarrável usar roupas femininas para quem, até pouco tempo atrás, só vestia camiseta masculina e legging escura.

Já são dois anos como corredora e mais de 25 provas. No início de agosto, tornei-me uma meio maratonista com o tempo de 2h44. Hoje, aos 40 anos, peso 82 kg, ou seja, sou “pesada” para os padrões vigentes, mas tenho orgulho do meu corpo e de ser uma corredora. E sempre digo às pessoas: “Você não nasce corredora, você se torna uma, basta ter coragem e acreditar”. É preciso coragem para se desafiar,superar limites, acreditar mesmo quando ninguém mais acredita. Se esse é seu sonho, não deixe que seu peso seja um obstáculo. Sei que o começo pode parecer assustador, mas as conquistas fazem valer cada gota de suor derramada.