Correu e inchou?

Por Patrícia Julianelli – Redatora-chefe da Runner’s World Brasil

“Estou arrasada, fui me pesar e engordei. Como pode?” “Acho que dei uma inchada depois que comecei, as calças estão mais justas.” Não aconteceu com uma, nem com duas amigas minhas. Várias delas quase me processaram por propaganda enganosa. “Você fala um monte, me faz madrugar para correr e dá nisso?”

Eu nem levo para o lado pessoal, até porque a bronca não é comigo, é com a corrida. Quando uma relação fracassa, sei que nosso primeiro ímpeto é culpar o outro. É mais fácil olhar para fora que para dentro. Se fui com tudo, me joguei de cabeça e a coisa deu errado, a culpa não é minha. Eu estava lá, inteira; a minha parte eu fiz.

Bom, sei bem o que diz o ditado, mas nessa relação eu preciso meter a colher. Até porque não consigo lidar com injustiça. E desculpe a franqueza, mas se você começou a correr e engordou, a culpa foi sua. A corrida fez a parte dela.

Ela te ajudou a queimar mais calorias, liberou as tais endorfinas que deixaram você com aquele sorriso bobo no rosto, te fez ter vontade de dar um trato na dieta e no visual. Mas inconscientemente rolou uma autossabotagem. Você pode ter caído em uma destas ciladas:

SUPERESTIMAR O GASTO CALÓRICO

Por falta de conhecimento ou excesso de empolgação, a gente acha que se livrou de mais calorias do que de fato queimou naquela corridinha. Até porque, no começo, o treino nem de corrida é: primeiro vem a caminhada, depois a caminhada intercalada com trote e só então a alegria de meia horinha de trote direto. Sim, a gente já sente mais pique, está mais feliz, dorme melhor, mas vale esperar um pouco para “computar” as calorias no saldo diário – e ter mais parcimônia nos cálculos.

SUBESTIMAR A INGESTÃO CALÓRICA

Para desequilibrar ainda mais a balança, a gente tende a achar que ingeriu menos calorias do que consumiu. Erramos nessa conta porque bobeamos no tamanho das porções, porque ignoramos as beliscadas ou porque conhecemos pouco sobre o que comemos.

COMER COMO A ELITE DO ATLETISMO

Barras energéticas, bebidas esportivas, géis de carboidrato, shakes deproteína… Muita calma nessa hora. Se você vai correr até uma hora e se alimenta direitinho durante o dia, são grandes as chances de só precisar de água para o treino. Acredite: especialmente no começo, aquela garrafinha de isotônico (repleta de carboidrato) ultrapassa facilmente sua queimacalórica durante a corrida.

“Corri, posso comer” é uma das maiores falácias do universo da corrida. O exercício é um excelente aliado da boa forma, mas não faz milagre sozinho. Sem a tal da reeducação alimentar, não tem longão nem intervalado que dê jeito. E, para mim, reeducar significa saber mais sobre o que comemos, priorizar os alimentos frescos e evitar os ultraprocessados. É como dizem por aí: descascar mais e desembalar menos.