Comida de verdade

Vai comprar pronto? Prefira os produtos que mofam, juntam bicho e estragam logo

Por Patricia Julianelli – Redatora-chefe da Runner’s World Brasil

Tem muita gente que se baseia na lei dos cinco segundos para saber o que pode ou não levar à boca. Se caiu no chão e pegou logo, pode comer! Mas eu prefiro a lei dos cinco ingredientes: se compro um produto industrializado, dou preferência àquele com até cinco itens na lista. Se ela é interminável, geralmente trata-se de um produto altamente processado, em que sobrou muito pouco do que fazia dele um alimento nutritivo (na verdade, do que fazia dele um alimento). Não consigo chamar de comida um item que tem 20 ingredientes e 15 deles terminam em “antes”: acidulantes, aromatizantes, conservantes, corantes, edulcorantes, emulsificantes, umidificantes. Entre tantos nomes, alguns merecem uma nota mental (ou, no meu caso, digital, no celular, porque meu HD interno não comporta tanta informação):

GLUTAMATO MONOSSÓDICO

Também atende por nomes como proteína (ou levedo) hidrolisada e caseinato de sódio e é adicionado a “alimentos” sem sabor para que fiquem palatáveis. Está no macarrão instantâneo, nos enlatados, congelados, caldos de carne, de galinha e de legumes. Como ele “superexcita” as células nervosas, seu uso excessivo vem sendo associado a problemas como enxaqueca, irritação, Alzheimer e Parkinson. Ele também parece causar resistência à leptina, hormônio que avisa o cérebro que estamos satisfeitos. E se a gente não recebe esse sinal, basicamente vive com fome.

EMULSIFICANTES

Melhoram a textura dos alimentos e fazem com que eles durem mais. Há os sintéticos e os naturais, com nomes que vão de polisorbato 80 e carboximetilcelulose a lecitina de soja, carragena e goma xantana. Vários produtos sem gordura só ficam cremosos graças a eles. O problema é que estudos apontam que, em excesso, podem alterar nossa microbiota intestinal e as taxas de glicose no sangue, além de promover o ganho de peso.

NITRATOS E NITRITOS DE SÓDIO

São os mais ilustres entre os conservantes, ainda mais depois que a Organização Mundial de Saúde (OMS) ligou o consumo de carnes processadas, como presunto, bacon e salsicha– ricos em nitratos e nitritos –, a uma maior predisposição ao câncer. Mas outros conservantes, como o benzoato de sódio (presente em molhos de salada, sucos e conservas) também estão sob suspeita há tempos, e pelo mesmo motivo.

Claro: vou além dos cinco ingredientes se eles são de qualidade, e sei que há algumas tranqueiras com dois ou três itens na lista. Quando digo que acho importante evitar os ultraprocessados, não falo do consumo de fim de semana ou do jantar depois de muita hora extra. A coisa fica séria se fizermos desses produtos a base da dieta. Corremos o risco de virarmos cobaia de uma indústria que visa muito mais o lucro que a nossa saúde. No dia a dia, prefira comida que estraga logo, que mofa, que junta bicho – e fuja das que até as bactérias desprezam.