Popular demais?

Ultimamente tenho visto alguns corredores experientes reclamarem do tanto que se comenta sobre corrida. Iniciantes, mal saídos das fraldas, marcando viagens internacionais para correr meias. Grupos compulsivos em todas as mídias sociais falando e repostando coisas relacionadas ao esporte como se não houvesse amanhã. Pelo visto, a corrida realmente virou moda. É chique dizer “sou corredor”. Todo mundo fala que é legal, etc… Mas até onde é saudável? Já tenho falado sobre isso em alguns posts recentes mas, como as coisas estão ganhando corpo, acho que vale uma reflexão. Mas antes uma pequena história.

Outro dia vi um amigo descascando uma marca no Facebook. A acusação: patrocínio de amadores famosos. Pergunto: em quem as marcas estão mais interessadas: no 1% de atletas amadores de alto rendimento ou nos 99% onde este humilde e sensato colunista se inclui? Temos nossas marcas preferidas por entender que, tendo elas experiência ao produzir os melhores produtos de alta performance, serão nossas escolhas para, pangaremente, praticarmos o mesmo esporte. Muitas vezes é comum emularmos os atletas profissionais como o garoto que joga com a raquete do Nadal e se acha o próprio bezerro miúra. E com as celebridades? Acontece o mesmo, por identificação.

O interesse maior de qualquer empresa é, sem dourar a pílula, o lucro ou, melhor ainda, sua maximização. Ora, o cenário que vemos por aí fala totalmente a favor desta relação. Afinal, quanto mais se vende, mais se lucra, se a margem da operação se mantiver constante. Economia básica. Logo, não dá para esperar outro tipo de compromisso por parte das marcas. E na hora da onça beber água, elas querem mais é que todos nós trabalhemos, mesmo de forma involuntária, como seus embaixadores. E escolhem a dedo os que vão receber por isso.

Ah, mas isso sempre existiu, alguém pode argumentar. Claro, não tem mistério nisso mas, se existe alguma coisa que mudou nos últimos anos, foi a forma de compartilhar informação. Com a evolução tecnológica dos últimos vinte anos, ficou muito mais fácil produzir conteúdo, mesmo que seja apenas uma foto ao final do treino. E, com as redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas como o What’s App, o corredor que “enchia o saco” dos outros pessoalmente, agora o faz de forma virtual. Afinal, corredor é um evangelista por vocação. Antes conversávamos sobre corrida com colegas do esporte, família ou amigos, mas hoje, queremos gritar ao mundo sobre como somos maravilhosos e que a corrida é uma verdade absoluta.

Incomoda? Sim. Mas o ser humano é, na essência, um solitário que busca o aceite do próximo. A cada mensagem, post e foto queremos selos de aprovação para diminuir um pouco a sensação de que não somos bons o bastante. No meio do caminho, vai ter muita gente trolando os excessos. Mas, em 2016, o que não é exagerado? Uma dica? Cansou, despluga. E vai treinar!