Para correr melhor, chame você mesmo de ‘você’

Por Scott Douglas, da Runner's World US

Foto: Shutterstock

Pense em uma corrida recente que tenha sido realmente desafiadora para você. Quando as coisas começaram a ficar difíceis, como você falou consigo mesmo? Você disse coisas como “eu só tenho que correr mais 15 minutos” e “eu posso fazer isso”, ou foi mais “você só tem que correr mais 15 minutos” e “você pode fazer isso”? Afinal, como usar autofala na corrida?

Se sua resposta for a segunda opção, ponto para você! De acordo com pesquisadores da Bangor University, no País de Gales, falar consigo mesmo como se você fosse outra pessoa deve ajudá-lo a correr melhor em treinos desafiadores.

Para esse estudo inédito, 16 homens fizeram dois testes de 10 quilômetros em uma bicicleta ergométrica. Na primeira vez, eles falaram com eles mesmos na primeira pessoa (“eu”). Na segunda vez, na segunda pessoa (“você”). Os pesquisadores mediram não apenas a rapidez com que os ciclistas percorreram os 10 km, mas também variáveis ​​como potência e classificação do esforço percebido.

Um ponto importante sobre o desenho do estudo: Em ambos os testes de tempo, os ciclistas usaram conversa interna positiva. Ao invés de “isso é cansativo”, por exemplo, eles diziam “eu posso fazer isso” ou “você pode fazer isso”. Com isso, os pesquisadores queriam saber se a forma como eles se motivavam – “eu” ou “você” – aumentava o desempenho.

Ao se referirem como “você”, os ciclistas completaram os 10 km, em média 2,2% mais rápido. O tempo médio durante o teste em primeira pessoa (“eu”) foi de 17:48, em comparação com os 17:24 na segunda tentativa. No entanto, ele relataram o mesmo nível de esforço nos dois casos.

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Por que “você” e não “eu”?

O que pode explicar a vantagem de falar consigo mesmo na segunda pessoa quando está se exercitando? O pesquisador James Hardy disse à Runner’s World que isso permite uma perspectiva distanciada que deve ajudá-lo a “se afastar e observar o que está acontecendo”. “É como estar em um balcão olhando para a pista de dança em vez de estar na pista de dança. Isso promove um pensamento mais claro, melhores escolhas e melhor desempenho.”

Noel Brick, pesquisador em psicologia de resistência que revisou este estudo antes da publicação, disse que esse ponto de vista externo é chamado de “autodistanciamento”. Essa técnica pode ser realmente eficaz, disse Brick, “quando realizamos tarefas que exigem força de vontade e autocontrole. Com efeito, recuamos mentalmente do que nós mesmos vivenciamos e assumimos a perspectiva de um observador solidário”.

Mitchell Greene, psicólogo do esporte em Haverford, Pensilvânia, também aconselha essa abordagem. “Eu enfatizo a criação de uma certa distância para o atleta entre o ‘eu’ e o ‘você'”, disse ele. “O pensamento “eu posso fazer isso” é mais apto a produzir o pensamento oposto, “eu não posso fazer isso”. Esse aumento da sensação de fracasso potencial pode aumentar a pressão, instigar o medo e diminuir o desempenho.”

Embora, em geral, o grupo tenha se saído melhor ao usar a conversação interna na segunda pessoa, três dos 16 sujeitos não correram mais rápido ao se chamarem por “você”. Os pesquisadores alegam que em pessoas com alto índice de narcisismo, “como a perspectiva em primeira pessoa é mais central”, eles podem não se beneficiar da perspectiva de autodistanciamento.

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Como usar a autofala na corrida

Se você está motivado para investigar este fenômeno durante sua próxima corrida difícil use frases positivas. Tente algo como “você passou da metade do caminho” ou “você pode ​​acompanhar esse ritmo” ou simplesmente “você está indo muito bem”.

Greene aconselha a preparar uma lista de declarações de segunda pessoa e ter um plano para quando usá-las. “Quanto mais preparado você estiver para as quedas físicas e psicológicas, mais rapidamente você poderá usar suas frases. Assim, será menor a possibilidade da fadiga física, a insegurança e pensamentos negativos te atrapalhem.”