Conheça os benefícios da música na corrida

Por Lisa Nevitt

música na corrida - Mulher usando fones de ouvido enquanto está encostada na parede

Dá para identificar os corredores amantes de música pelos fones de ouvido pendendo de suas orelhas durante o treino. Eles estão em transe com o estímulo sonoro e as endorfinas liberadas pelo organismo — uma combinação que a ciência já comprovou aumentar a motivação. Mas correr ouvindo música é um assunto complexo, e há preocupações a respeito da falta de segurança durante o treino com fones de ouvido. Então veja aqui como se manter seguro, se divertir mais e aproveitar ao máximo sua playlist e todos os benefícios da música na corrida

6 benefícios da música na corrida

1Animação

A psicóloga sul-africana Lindy Emsley é uma das corredoras “pró-música”. Ela ama combinar corridas rápidas na rua e na esteira com faixas animadas de música eletrônica. Lindy é o que os psicólogos do esporte chamam de “dissociadora”. Ela busca maneiras de ignorar os protestos de seus quadríceps quando exige muito deles.

“Acho que ouvir músicas animadas me distrai do meu cansaço”, diz Lindy. “Às vezes, uma distração é tudo de que preciso durante uma corrida para me estimular.”

Pesquisadores da Universidade Dalhousie, no Canadá, examinaram a influência da música na corrida com ritmo autodeterminado. Eles descobriram que os participantes que ouviam canções mais rápidas — em contraste com os que não ouviam nada — estavam mais propensos a impor um ritmo de corrida mais acelerado, elevar a frequência cardíaca a níveis mais altos e achar a corrida mais agradável.

Além disso, Robert Jan Bood, pesquisador do Instituto de Pesquisa Move, de Amsterdã, na Holanda, descobriu que a música atrasa significativamente a exaustão. Isso acontece porque músicas motivadoras ajudam a focar nos aspectos positivos da corrida e menos nos negativos. “Um estímulo externo como a música pode de fato bloquear alguns estímulos internos que tentam chegar ao cérebro, como mensagens de cansaço dos músculos”, diz Costas Karageorghis, psicólogo do esporte de Londres que estuda os efeitos positivos da música na performance dos atletas.

De acordo com Robert, a música aparentemente não influencia o modo como você se sente (seus músculos ainda vão doer e sua respiração vai ficar difícil em um percurso desafiador), mas, sim, como você se sente sobre isso. Ela molda positivamente sua interpretação de esforço, fadiga e dor.

2Mais rápido

Os humanos são em geral seres rítmicos. Nós balançamos os pés e batucamos junto com a batida da música que ouvimos. Além de participar de aulas como spinning e step, em que a música determina quão rápido ou devagar nos movemos. Por que correr seria diferente?

Em 1998, o etíope Haile Gebrselassie conquistou o recorde mundial de 4:52:86 nos 2.000m.

O atleta olímpico revelou que, durante o treino, ele combinava sua cadência (passadas por minuto) com a canção “Scatman”, de Scatman John.

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De um ponto de vista científico, diz Robert, seguir a batida ajuda os corredores a manterem um pace constante, combinando a cadência com o ritmo da música. Quando Lindy tentou correr com uma música cuja batida era proeminente e consistente, ela diz ter notado uma melhora em seu pace, de 5min10/km para 4min30/km. “Música me faz correr muito mais rápido. Meu corpo inconscientemente se adapta ao ritmo. Quando a batida fica mais rápida, eu costumo acelerar com ela.”. E explica por quê: “O ritmo da música viaja pelos nossos ouvidos e nosso sistema auditivo até chegar ao telencéfalo. Lá une forças com a atividade cerebral responsável pela sinalização do movimento, nos ajudando a manter o passo”.

Os corredores se esforçam mais, como resultado do aspecto motivacional da música, e de forma mais eficiente, graças a uma batida consistente que combina com sua cadência, diz Robert.

3Relaxado

Os pesquisadores da Universidade Dalhousie também descobriram que ouvir músicas lentas após o exercício — em contraste com não ouvir música nenhuma — resulta em uma recuperação mais rápida da frequência cardíaca e dos níveis de ácido láctico no sangue.

Isso acontece porque a música aciona as partes do sistema nervoso que conservam energia. E um dos jeitos de fazer isso é abrandar a frequência cardíaca. Já escutar ruído estático (ou música rápida) não diminuiu a frequência cardíaca em repouso.

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Indivíduos saudáveis e atletas que praticam treinos de alta intensidade podem usar músicas lentas durante períodos de repouso ativo para acelerar a recuperação. Um estudo publicado no Journal of Clinical and Diagnostic Research revelou que o fator mais importante para o relaxamento foi o quanto os participantes gostavam da música. O estudo também constatou os efeitos da música na corrida: ouvir canções com um ritmo que “casa” com nossa cadência ajuda a melhorar nossos tempos, ao passo que canções calmas aceleram a recuperação.

4Desligado

Lindy diz que a música tem espaço cativo em seus intervalados e treinos de ritmo (tempo runs). Mas e nas trilhas? Nem tanto. “Tem coisa suficiente acontecendo nas montanhas para me manter distraída, sem ter que escutar música. Eu gosto da paisagem desafiadora, e estar quieta na natureza é uma boa oportunidade para refletir e tomar decisões importantes.”

Além disso, a música na corrida não é o único jeito de melhorar sua performance. Na verdade, o ultramaratonista Sean Robson a vê como uma distração indesejável em seus treinos. De acordo com cientistas do esporte, Robson é um “associador”. Dessa forma, ele prefere focar em seu interior durante as corridas.

“Eu gosto de interagir com o som do ambiente, seja ele de cachorros latindo ou mães empurrando carrinhos”, ele diz. Correndo sem música, Sean fica mais consciente dos sinais de seu corpo: respiração, passadas e rotações de perna, além de qualquer dor ou desconforto. “Quando você corre ouvindo música, não consegue perceber esses sinais, então não aprende a associá-los ao seu nível de esforço”, explica Jim Denison, treinador e sociólogo norte-americano.

“Não preciso de música na corrida para me motivar”, diz Sean. “Eu lembro a mim mesmo que nunca me arrependi de uma corrida, mesmo quando não estava a fim de começar.  A energia e o entusiasmo que vêm de correr com outros, sejam parceiros ou estranhos, são muito especiais.”

Sean também não precisa “viajar” nos sons calmos das músicas da Enya para diminuir sua frequência cardíaca. Ele simplesmente faz uma caminhada para desaquecer e termina com agachamentos e afundos.

5Ouça com sabedoria

Contudo, há outra consideração a ser feita. A segurança é um aspecto importante. Pergunte a si mesmo: você dirigiria um carro ou andaria de bicicleta com fones de ouvido? Provavelmente, não. Correr ouvindo música significa que você talvez não escute o que está acontecendo ao seu redor.

Por isso, diversas provas ao redor do mundo não permitem que os participantes corram com fones de ouvido. “Isso porque, quando os corredores ouvem música, eles tendem a se distrair e não escutam os outros participantes ou instruções dos coordenadores do evento”, diz Sue Ullyett, organizadora de provas na África do Sul. “Eles ficam desatentos ao que está havendo ao seu entorno.”

6De mãos dadas

Enfim, pesquisas mostram que corrida e música podem andar de mãos dadas — se você quiser. A música definitivamente tem seu espaço (e ritmo!) no nosso esporte, ainda que alguns escolham evitá-la enquanto correm. Cada um no seu quadrado.

Para finalizar, aqui vai um dado para reflexão: 52% dos brasileiros estão acima do peso, e 24,4% das mulheres e 16,8% dos homens são obesos, segundo dados do IBGE. Uma razão comum para não praticar exercício é simplesmente não gostar disso. Portanto, se a música na corrida ajuda as pessoas, ela não pode ser usada para tornar o país mais saudável?

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