Caiu? Levanta e tenta de novo

Só na base da tentativa e do erro nos tornamos corredores melhores

Ilustração: Vinicius Capiotti.

Por Marcos Paulo Reis*

“Eu era sempre pior que os outros nos treinos. Mas, competindo, era muito melhor que todos.” Ouvi essa frase outro dia de um aluno e ela me levou a algumas reflexões sobre a importância de um psicológico fortalecido para se ter um bom desempenho.

O treinamento do corredor é um processo palpável e fácil de ser acompanhado pelo lado físico. O cara vai para o parque, a rua ou a academia três ou quatro vezes por semana. Cumpre a planilha. Anota seus resultados e os transmite ao treinador. A cada dia, coloca um tijolinho na construção do atleta que ele quer ser no momento da prova. Pelo que ele “entrega” no treino, conseguimos até projetar as marcas que será capaz de alcançar.

Mas não é só isso. Além de fatores como nutrição, descanso e reforço muscular – que contam muito –, ainda é preciso dar a devida atenção à preparação mental. É necessário manter o foco para dar o melhor de si nos treinos, mesmo que esse melhor seja o pior comparado aos outros. O atleta deve chegar no dia da competição com a certeza de que fez tudo o que tinha de ser feito.

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Existe ainda o que chamo de “escola da pancadaria”, ou seja, aprender com os próprios erros. Afinal, as experiências negativas não devem virar apenas lamentos. A construção de uma atleta melhor passa por derrotas – são elas que vão aos poucos fortalecendo a mente do corredor. Com as novas tentativas, ele ganha resiliência e uma vontade cada vez maior de vencer, ir além e desafiar a tudo e a todos, chegando, assim, à sua melhor forma de treinar e competir.

É justamente a questão mental que faz com que alguns corredores se saiam bem melhor nas provas que outros que exibiam performance até superior nos treinos. Não dá para escapar da velha máxima que diz “treino é treino e jogo é jogo”. E no dia do jogo, meu caro, você tem que estar com o físico tinindo e a mente preparada. Vejo vários casos de corredores que conseguem fazer uma segunda metade de prova melhor que a primeira. Isso também é o resultado da boa preparação mental, da consciência que se tem da própria capacidade. O atleta tem que aplicar o que treinou, claro. Tem de mostrar os resultados de seu suor. Porém precisa aprender a fazer isso do jeito dele, seguindo os comandos de sua cabeça – e se ela está preparada, o resultado sai.

Como técnico, preparo atletas, mostro a direção. Os psicólogos do esporte também são excelentes aliados no processo, com importantes trabalhos para melhorar o foco e a concentração. Mas o caminho, na verdade, são os próprios atletas que percorrem. Na base da tentativa e do erro.

*Sócio da MPR Assessoria Esportiva. Como treinador, foi para duas Olimpíadas e dois Pan-Americanos