Condromalácia: como lidar com o problema quando o assunto é corrida

Por Wagner Castropil 

condromalácia
Fonte: Shutterstock

Condromalácia ou condropatia é o problema mais frequente do consultório do especialista de joelho. Ambas as denominações tratam do mesmo assunto: o desgaste da cartilagem da patela.

Mais frequentes nas mulheres, o termo condromalácia significa literalmente o “amolecimento da cartilagem”. Enquanto condropatia pode ser traduzido como “doença da cartilagem”.

A explicação é que, com o passar dos anos, a cartilagem da patela passa por um processo natural de envelhecimento. O resultado são alterações na sua estrutura interna e fissuras superficiais, podendo levar a fissuras mais profundas e diminuição da sua espessura.

Joelhos e sabonetes

Costumo dizer aos meus pacientes que a estrutura de uma cartilagem se assemelha à de um sabonete, onde existem camadas concêntricas de fibras colágenas, e na medida que envelhecemos vamos usando estas camadas e a cartilagem vai ficando mais fina. O problema acontece quando sobrecarregamos esta estrutura. É como se deixássemos esse sabonete imerso na água até o ponto de ficar amolecido (condromalácia). Neste caso a cartilagem perde a sua capacidade de absorção de impacto e pode trazer sintomas (dor, derrame) e gastar mais rápido.

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O que traz sintomas, em geral, são lesões mais profundas ou desequilíbrios entre a capacidade de absorção de impacto da cartilagem e o estímulo a que ela é submetida.

Explico: um indivíduo com uma condromalácia, acima do peso e sem um adequado preparo muscular pode não sentir nada nas suas atividades diárias. Mas ele pode ter dor quando corre, pois passa da capacidade de absorção de impacto desta cartilagem. O mesmo indivíduo, reduzindo o seu peso e fortalecendo a sua musculatura poderá fazer o mesmo estímulo (correr) sem sintomas, mesmo sem o tratamento da condropatia.

O diagnóstico é clínico e pode ser complementado por uma ressonância magnética. Mas atenção: o simples achado de uma condropatia na ressonância magnética, sem sintomas, não tem significado clínico. Isso pode explicar porque muitos atletas podem conviver com suas condropatias, mesmo na prática do esporte em alto rendimento.

Como lidar com a condromalácia

A boa notícia é que a condropatia, quando diagnosticada no início, tem tratamento e na maioria das vezes é conservador. Medicamentos condroprotetores, fisioterapia e adequação da musculatura são suficientes.

Os condroprotetores são suplementos à base de glucosamina, condroitina e colágeno do tipo II. Quando tomados à longo prazo, eles podem prevenir a condropatia.

Um trabalho de fortalecimento e alongamento são importantes, associados à uma orientação de treinos e uma correção da biomecânica da corrida.

Indivíduos com sobrepeso, alterações posturais e que desejam correr grandes distâncias devem ficar particularmente atentos.

Em casos mais avançados ou que não respondem à estas medidas, um recurso é a viscosuplementação, que é a infiltração de ácido hialurônico nos joelhos. Esse ácido tem a capacidade de acelerar a recuperação da cartilagem. O ácido hialurônico tem a capacidade de fazer “secar” a cartilagem, devolvendo a sua resistência, mas não a sua espessura.

Em resumo, condromalácia ou condropatia são termos que denominam o processo natural de desgaste da cartilagem da patela. E não significa que você está condenado a nunca mais correr. É preciso um tratamento e uma adequação da equação peso, musculatura e sobrecarga.

wagner castropilWagner Castropil é formado em Medicina e especializado em Ortopedia e Medicina Esportiva pela USP. Mestre e Doutor pela USP, ele foi responsável pela Confederação Brasileira de Judô e do Esporte Clube Pinheiros. Wagner é fundador do Instituto Vita para desenvolvimento de pesquisa, ensino e assistência a atletas carentes, onde atua desde 2003.