Corrida e futebol: combina ou não?

Dá para conciliar as duas práticas ou não? Descubra mais

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Será que é possível correr e jogar futebol sem prejudicar nem um nem outro? O fisioterapeuta Cássio Siqueira conta tudo abaixo
Por Cássio Siqueira
A Copa do Mundo vai começar. Aqui em São Paulo, o assunto ainda anda morno. Isso porque pouco se vê de bandeiras nas ruas, pouco ouço falar de seleção. Mas não me engano. Assim que a bola rolar, não se falará mais de outra coisa.
Gente que não acompanha futebol no dia a dia vai assistir aos jogo e o nome de atletas até então desconhecidos logo vai estar na boca do povo.
– Tite, tira o Casemiro, põe o Fernandinho, avança o Paulinho! – dirá o mais novo comentarista esportivo da sua família.
Então, todos se tornam especialistas em futebol e em seleção nesta época. Todos, menos um. Um amigo, excelente treinador de uma grande assessoria de corridas de São Paulo, aproveita os horários de jogo da seleção para ir treinar.
– A academia fica vazia – diz ele.
Tirando o seu lado ranzinza , este mesmo treinador fica maluco quando fica sabendo que um de seus alunos jogou futebol no fim de semana.
– Vai se machucar, &¨%$#*!!!!!

Lesões da corrida x futebol

Mas será que ele tem razão? Futebol realmente machuca muito? Afinal, combina ou não ser corredor e jogar bola? Eu, que tenho como esporte principal o futebol, ouço de todo corredor.
– Você é louco de jogar futebol! Machuca demais! Eu parei.
Vamos aos fatos. A corrida, em número de lesões, machuca mais que o futebol. A literatura científica apresenta muita variação quanto a esse tema.
Entretanto, alguns estudos falam em 90% de incidência de lesões na corrida, enquanto outros falam em 18%.
Essa variabilidade toda se deve às definições de lesão que cada estudo considera. Mas não vou entrar nisso.
Fato é que corredores apresentam alto índice de lesões. Mas são lesões que denominamos “Lesões de sobrecarga” ou “Lesões de microtrauma de repetição”.
É o mecanismo de água mole em pedra dura. São lesões que atrapalham a vida do corredor, mas não costumam ser graves. As famosas “tendinites” (melhor chamadas de tendinopatias), bursites, fascites, canelites e assim por diante.
Já as lesões do futebol, costumam ser “Lesões de macrotrauma”. São as contusões (lesões causadas por pancadas), entorses, estiramentos musculares.
São lesões que acontecem em menor número que na corrida, mas com gravidade normalmente maior. Um entorse de joelho pode tirar um jogador dos gramados por cerca de 6 a 8 meses. Daí a má fama.

Corredor pode jogar bola?

Entendido que a corrida machuca mais. Mas o futebol pode machucar mais seriamente? Continua a pergunta. Estes dois esportes combinam?
Não. Não combinam. O treinador ranzinza estava com a razão. O futebol é um perigo para corredores de longa distância! Mas qual a razão disso?
Isso acontece porque são esportes de demandas muito diferentes. Enquanto na corrida de fundo corre-se devagar e sempre, e sempre pra frente, sem freadas, com pouquíssimas mudanças de direção, o futebol é o extremo oposto.
Já no futebol há constante alternância entre caminhadas, corridas em velocidade máxima, mudanças de direção em alta velocidade, freadas, giros, saltos, contato com oponentes…
E é aí que mora o perigo! O corredor treina muito os músculos de resistência que têm pouca potência (explosão) e fazendo sempre o mesmo movimento.
Quando vai jogar futebol e precisa fazer todos os movimentos que a modalidade exige, ele não está preparado. Por isso, acontecem as lesões. Mesmo se o corredor passar ileso pelo jogo, em um ou dois dias ele estará todo dolorido.
Por mais que tenha sobrado pulmão durante a pelada, os músculos estarão em frangalhos após. Justamente por que eles não estavam preparados para o tipo de movimentação do futebol.
Então, você corredor, aproveite a Copa para torcer muito pelo Hexa. Mas passe longe dos gramados.
Foto: arquivo pessoal.

Cássio Siqueira é supervisor de fisioterapia do esporte do curso de fisioterapia da USP e fisioterapeuta da Care Club, onde trabalha com reeducação funcional de corredores. É formado em fisioterapia na USP, com especialização em fisioterapia no esporte e fisioterapia em neurologia, mestre e doutorando em ciências da reabilitação também pela USP.

 

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