Enxaguante bucal pode diminuir benefícios do treino

Por Selene Yeager, da Bicycling US

Enxaguante bucal pode diminuir benefícios do treino
Foto: Shutterstock

Você já sabe que o exercício ajuda a baixar a pressão arterial. Mas você provavelmente não sabe como isso acontece. Justamente porque, durante anos, os cientistas também não tinham descoberto. Agora, eles encontraram a resposta no lugar mais improvável: sua boca. As bactérias que vivem lá ajudam a manter a pressão baixa após o exercício. E se você matar esses insetos microscópicos, também estará jogando isso pelo ralo. Por isso, o enxaguante bucal pode diminuir os benefícios do treino. Pelo menos é o que um novo estudo publicado na Free Radical Biology and Medicina sugere.

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Além disso, ainda é provável que o produto prejudique seu desempenho pelos mesmos motivos. Veja o que você precisa saber: 

Como o enxaguante bucal pode diminuir os benefícios do treino

Os pesquisadores fizeram 23 homens e mulheres saudáveis ​​realizarem dois testes de 30 minutos em uma esteira. Durante a primeira sessão, os voluntários fizeram uma corrida e enxaguaram a boca com um enxaguante bucal (0,2% de clorexidina) ou com um placebo de menta. Na segunda sessão, eles repetiram o teste em esteira, trocando os produtos que usavam. Nem os corredores nem os pesquisadores sabiam qual líquido cada participante tinha utilizado. 

Os cientistas mediram a pressão sanguínea dos corredores e coletaram amostras de sangue e saliva antes de cada sessão. Depois, repetiram novamente a ação duas horas após os exercícios.

Quando os corredores lavaram a boca com o placebo sabor menta, suas pressões arteriais sistólicas (o nível mais alto de pressão que o coração exerce para fazer o sangue circular) foram reduzidas em média 5,2 mm/Hg por até uma hora depois do exercício. 

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Mas quando eles utilizaram o enxaguante bucal antibacteriano, o efeito benéfico do exercício foi menor. A pressão sanguínea caiu em 2 mm/Hg no mesmo período. E o pior:  esses efeitos não apenas diminuíram em mais de 60% como também desapareceram completamente depois de duas horas. 

E aqui está o mais importante: os níveis de nitrato no sangue não aumentaram após o exercício quando os corredores usaram o enxaguante bucal antibacteriano – só aumentaram quando usaram o placebo.

O que isso significa?

“Pela primeira vez, mostramos que as bactérias orais desempenham um papel fundamental nos efeitos cardiovasculares do exercício. Especialmente a vasodilatação e a pressão arterial mais baixa após o esforço”, disse o principal autor do estudo Raúl Bescós, professor de dietética e fisiologia na University of Plymouth, no Reino Unido, à Bicycling US.

Entenda como funciona: quando você se exercita, as células dos vasos sanguíneos e dos músculos produzem óxido nítrico, o que dilata os vasos para aumentar o fluxo de sangue para as regiões em movimento. Esse efeito continua após o treino e você desfruta de uma resposta para baixar a pressão arterial chamada hipotensão pós-exercício.

“Temos a hipótese de que o nitrato formado durante o exercício pode ser absorvido pelas glândulas salivares e secretado na boca (onde as bactérias de lá podem reduzi-lo a nitrito) durante o período de recuperação após o exercício”, disse ele. “Uma vez que o nitrito é ingerido, uma pequena porção é rapidamente levada para a corrente sanguínea e pode formar novo óxido nítrico. Este, por sua vez, ajuda no suprimento de sangue para os tecidos anteriormente ativos”.

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“Pense nesses bichinhos da boca como a “chave” para dilatar os vasos sanguíneos”, disse o co-autor do estudo, Craig Cutler, em um comunicado à imprensa. Sem eles, seu corpo não pode produzir o nitrito necessário para relaxar os vasos sanguíneos e diminuir a pressão sanguínea.

Conclusões

Embora este estudo tenha examinado o efeito agudo do uso de enxaguante bucal imediatamente após o exercício, pesquisas anteriores sugerem que provavelmente também há um efeito crônico. Como Cutler disse no comunicado, estudos anteriores chegaram a encontrar uma relação entre o enxaguante bucal antibacteriano e um aumento da pressão sanguínea enquanto você descansa.

Além disso, por mais que a pesquisa não tenha analisado os nitratos da dieta – por exemplo, suplementos de suco de beterraba, que muitos corredores usam para aumentar a resistência -, o mesmo mecanismo pode mexer com sua pressão arterial e colocar seu desempenho em risco. 

Se você usa enxaguante bucal antibacteriano e toma uma dose de suco de beterraba, pode não receber o benefício ergogênico que aumenta a circulação. “O enxaguante bucal reduz a capacidade das bactérias de converter nitrato em nitrito. Isso foi demonstrado por estudos anteriores”, afirmou Raúl.

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Contudo, ainda não é possível saber se o enxaguante bucal pode interferir no desempenho real do exercício. 

“Não temos evidências suficientes até o momento”, disse Raúl. “No entanto, assim como o enxaguante bucal pode reduzir benefícios do treino, ele pode prejudicar a resposta cardiovascular associada ao exercício. O que, por sua vez, pode ter efeitos prejudiciais no desempenho do exercício. Precisamos de mais estudos para investigar a questão mais detalhadamente.”

Enquanto isso, eles recomendam evitar enxaguantes bucais antibacterianos logo após o treino. A menos que tenha sido prescrito por um médico ou dentista. “Uma dieta saudável e exercícios são as melhores abordagens para garantir a boa performance”, disse ele. “Evitar fumar e consumir álcool e açúcar também podem ajudar substancialmente.”