Guia de viagens: América do Sul

Escapadas pela região podem ser a pedida certa para se manter na ativa de um jeito diferente

Turistas sobem o Vale de Punilla, em Córdoba. Foto: Lucas Gomez.

Por Bruno Romano

Grandes escapadas pela América do Sul podem ser a pedida certa para renovar as energias, se manter na ativa de um jeito diferente ou simplesmente relaxar. Confira, abaixo, quatro destinos:

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Córdoba, Argentina
Explore natureza e cidade na medida certa

“Buena onda” é uma expressão em espanhol que indica uma pessoa, digamos, “gente boa”. Ela traduz bem o povo e a receptividade de Córdoba, a segunda maior – mas nem tão procurada – cidade da Argentina. Esse centro urbano de clima interiorano e universitário, bem no centro do país, está repleto de fáceis escapadas ao ar livre, conta com um ótimo custo-benefício (voos diretos do Brasil) e ainda tem se firmado como um novo polo de corridas em trilha e asfalto de qualidade.

Desde que recebeu o título de capital cultural das Américas, em 2006, Córdoba também tem mantido a cena artística em alta. Música, arte e comida contemporânea são marcas registradas das galerias e espaços culinários da cidade, que carrega a justa fama de mesclar “o velho com o novo”. Por trás desse clichê de guia de turismo, Córdoba segue misturando animados bares e restaurantes com as marcantes igrejas jesuítas do século 17, declaradas patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. A parte boa: você visita tudo (o histórico, o artístico e o recreativo) caminhando.

Se a pedida for aproveitar a viagem para manter o treinamento em dia ou até competir, o número de opções de provas por ano disparou desde que Córdoba descobriu o potencial do trail running nos arredores da cidade – e ela ainda recebe anuais meias maratonas e maratonas. As corridas se espalham por destinos turísticos que merecem a visita, seja a toda velocidade ou apenas curtindo o tempo livre.

O mais próximo do centro é a Villa Carlos Paz, entrada para a linda região do Valle de Punilla, ao norte. Serras e vales maiores podem ser encontrados em Traslasierra, a sudoeste, com destaque para as Altas Cumbres. Ao sul, o destino recomendado é o Valle de Calamuchita. Em todos eles há um cardápio variado de trilhas para corrida, trekking e mountain bike. Atividades como parapente, cavalgadas e esportes náuticos nos lagos cordobeses também são boas escolhas. Para uma imersão ainda mais profunda na natureza local, o Parque Nacional Quebrada Condorito é tiro certeiro.

Quando: primavera e outono
Quanto: R$ 1 = 4,7 pesos argentinos
Passagens: até R$ 1 mil
Hospedagem: até R$ 250 a diária
O que esperar: comida, corrida e cross-training
Links úteis: trekkingsierrasdecordoba.com, maratonadecordoba.com.ar, cordobaturismo.gov.ar.

Os ecohabs são hospedagem no Parque Nacional de Tayrona. Foto: divulgação.
Os ecohabs são hospedagem no Parque Nacional de Tayrona. Foto: divulgação.

Santa Marta, Colômbia
Um descanso ativo por praias e trilhas na beira do Caribe

Equilibrar sossego com atividades diferentes do que estamos habituados costuma ser uma ótima combinação em viagens. É por isso que Santa Marta, na Colômbia, merece seu lugar na lista de destinos desejados no continente. O local fica entre o Mar do Caribe e a Sierra Nevada, gigantesca cadeia montanhosa que atinge 5.775m de altura a apenas 42 km da costa. Se não quer ir para o país sem conhecer Cartagena, sem problemas: descendo sentindo sudoeste, a “Pérola do Caribe” está te esperando a 200 km dali.

Santa Marta é uma ótima opção de relax ou descanso ativo na mata e na praia. Mesmo assim, evite os meses mais clássicos de férias. Quando estiver atrás de agito, simplesmente apareça nos arredores da praça e do mercado central. Visite também a Casa Museo Gabriel García Márquez, em homenagem ao ícone da literatura que nasceu perto dali. Mas encare o desordenado centro urbano como ponto de partida para descobrir as maravilhas do pedaço. Guarde a maior parte do tempo para explorar os arredores.

Planeje uma passagem tranquila pelo parque Tayrona, a 35 km da cidade. Esse litoral recortado por grandes baías, com as serras nevadas de fundo, leva o nome do povo original do lugar. Alguns indígenas das etnias kogui, arhuacos, kankuamos e wiwua ainda habitam parte da selva, ainda que a colonização espanhola tenha dominado a área na busca por ouro, fundando Santa Marta, mais antiga cidade colombiana e uma das mais velhas da América do Sul.

Na zona conhecida como Cañaveral, dentro do parque, é possível se hospedar em confortáveis cabanas chamadas de ecohabs. Inspiradas nas habitações dos índios, elas trazem conforto na parte interna e ficam bem no meio da floresta. O Tayrona se espalha por 85 km de litoral, entre areais e mares claros e vegetação nativa. Praias como El Cabio e La Piscinita são ótimas para relaxar, enquanto lugares como a praia Cristal são acolhedores para passeios de snorkel.

O acesso para o Tayrona pode ser feito por estrada – taxis, vans fretadas ou ônibus circular saindo de Santa Marta – ou pelo mar, zarpando da praia de Taganga. Fora da alta temporada, Taganga é um tranquilo vilarejo de pescadores de onde partem excursões de mergulho. Trilhas curtas saindo dali também levam a praias mais reservadas. Ainda é possível desbravar os caminhos locais, variando um pouco da corrida no asfalto. Um roteiro mais “cascudo” é o trekking de até seis dias rumo ao Parque Arqueológico Teyuna. O local se esconde atrás da Sierra Nevada e recompensa a dura caminhada.

Quando: março, abril, outubro e novembro
Quanto: R$ 1 = 906 pesos colombianos
Passagens: R$ 1 mil a R$ 2 mil
Hospedagem: 250 a R$ 400 a diária
O que esperar: relaxamento, flexibilidade, cross-training e sol
Links úteis: ecohabsantamarta.com, colombia.travel/pt.

Aproximação do vulcão Misti pela rota Aguada Blanca. Foto: Carlos Zarate.
Aproximação do vulcão Misti pela rota Aguada Blanca. Foto: divulgação.

Arequipa, Peru
Curta o visual da montanha e teste seu fôlego

Não é à toa que Arequipa é conhecida como um oásis natural e cultural no meio de uma zona árida dos Andes peruanos. Atrás de Lima e Cusco em procura turística, essa cidade colonial e de altitude merece entrar como alternativa à rota mais explorada do país. Rodeada por três vulcões, que ultrapassam os 5.800m, a “cidade branca”, como é conhecida pelas suas construções, registra 2.328m acima do nível do mar na parte mais alta e 2.041m de altitude no centro histórico, considerado patrimônio cultural da humanidade.

Os locais costumam brincar que é preciso outro passaporte para entrar em Arequipa. O regionalismo é mesmo bem marcante na cena política e social. Mas, discordâncias com Lima à parte, a região se sustenta como destino certeiro para uma verdadeira imersão cultural e culinária andina. É também um bom teste para o corpo em zonas de altitude. Não precisa se arriscar em um treino de corrida de atleta de elite, mas expor o organismo a novos desafios, da forma correta e sem pressa, sempre traz evolução.

Para se acostumar com a altura, comece explorando o centro histórico e os bairros típicos como Yanahuara, desenhado em ruas tranquilas e estreitas. Próximo ao bastante visitado monastério Santa Catalina, o museu dos Santuários Andinos esclarece as nuances do lugar e situa bem as peculiaridades de Arequipa. Como a região tem uma média de 300 dias de sol por ano, dá para programar escapadas da cidade com facilidade. Merece a visita o Valle del Colca, a caminho de Puno, porta de entrada para o lago Titicaca, na divisa com a Bolívia.

A recompensa dos esforços para quem encarar caminhadas na montanha é das melhores. Arequipa tem ajudado a colocar o Peru nas principais listas gastronômicas do planeta. E é mais fácil (e às vezes mais barato) conseguir se deliciar com a culinária lá que na capital. As picanterias da cidade costumam reunir opções clássicas e contemporâneas no cardápio. Também dá para reservar uma experiência mais refinada nos restaurantes Tanta e Chica, ambos do celebrado chef Gastón. Além do ceviche, pratos típicos como tacu-tacu, a base de legumes, e outras iguarias que misturam as culturas inca e espanhola dão um sabor bem especial à visita.

Quando: de setembro a abril
Quanto: R$ 1 = 1,06 novo sol
Passagens: R$ 1 mil a R$ 2 mil
Hospedagem: 250 a R$ 400 a diária
O que esperar: comida, corrida, cross-training e sol
Links úteis: chicha.com.pe, zarateadventures.com, whc.unesco.org.

A praia de Anakena "vigiada" pelos moais Ahu Nau Nau. Foto: divulgação.
A praia de Anakena “vigiada” pelos moais Ahu Nau Nau. Foto: divulgação.

Ilha de Páscoa, Chile
Recarregue as baterias e desvende os mistérios de Rapa Nui

Uma das melhores coisas de viajar é conseguir dar um respiro no dia a dia, mergulhar em outras culturas e enxergar um pouco a sua própria vida de fora. Na longínqua Ilha de Páscoa você não vai ter problemas em conseguir fazer tudo isso. Por mais que seja um dos pontos mais isolados do planeta – 3.700 km a leste do Chile, no meio do Oceano Pacífico –, atividades não faltam na terra dos moais, os gigantes e misteriosos totens espalhados por Rapa Nui, o nome da ilha no idioma local.

A vila de Hanga Roa concentra as hospedagens, empresas turísticas e casas nativas. São quase 6.000 residentes fixos. Como o turismo é a grande fonte de renda local (e tudo está bem longe) não espere uma viagem tão barata. Uma boa escolha é visitar a ilha no começo de fevereiro, época do festival cultural e esportivo Tapati Rapa Nui. Rituais centenários se misturam com o curioso Taua: os nativos remam barcos artesanais dentro da cratera do vulcão Rano Raraku, correm com imensos cachos de bananas nos ombros e cruzam um lago com pranchas rústicas.

Se a ideia não for apenas assistir, mas fazer esportes, há roteiros de mergulho, trekkings e excelentes picos de surf. A praia de Pea costuma ter constância de ondas para iniciantes, enquanto em Mataveri e Tahai o mar cresce e engrossa. Caminhadas de meio dia como Hanga Roa a Rano Kau ou Rano Kau a Vai Atare passam pelo vulcão símbolo da ilha, são tranquilas e saem da vila principal. Já trajetos como Tahai a Anakena, de 18 km, exploram costas mais remotas, cavernas e moais menos visitados. Ainda dá para encarar uma trip de mountain bike, organizada por brasileiros, cortando os principais atrativos.

A Maratona Rapa Nui rola sempre no inverno; neste ano será no dia 5 de junho. Disputada desde 2005, ela une Hanga Roa com a costa de Anakena, em um percurso de ida e volta. Há inscrições para distâncias de 21 e 10 km. Você também pode, claro, escolher uma praia de areia branca e ver o dia passar. Desde 1935, grande parte do território de Rapa Nui, incluindo os sítios arqueológicos, é área de parque nacional administrada pelo governo chileno. Contrate um guia ou siga exatamente as regras de visitação independente sinalizadas nas trilhas.

Quando: verão (melhor tempo) e inverno (menos gente)
Quanto: R$ 1 = 208 pesos chilenos
Passagens: acima de R$ 2 mil
Hospedagem: acima de R$ 400 a diária
O que esperar: exercícios, relaxamento, corrida e sol
Links úteis: maratonrapanui.cl, conaf.cl, sampabikers.com.br, rutarapanui.com.