Quando o marcador de distância atingiu exatamente 50K em uma esteira no meio de um ginásio do ensino médio de uma escola, o ultramaratonista Mario Mendoza Jr parou o equipamento e pisou em sua lateral para a sua primeira pausa em pouco menos de três horas. Enquanto isso, centenas de estudantes da Madras High School, em Madras, Estados Unidos, ovacionaram o rapaz de 33 anos que havia acabado de entrar para a história com o recorde mundial em uma esteira.
Leia mais + Mo Farah se pronuncia sobre refazer testes antidoping + Bekele vs Kipchoge na Maratona de Londres 2020? + Esse cara comprou uma bicicleta roubada e a devolveu ao dono
Mario trabalha com a comunidade de Madras há cerca de um ano. Ele administra uma equipe de corrida que possui aproximadamente 20 participantes e organiza atividades, competições e providencia refeições para os integrantes. O homem também treina no Madras High Schoo duas vezes por semana.
Foi por eles que o atleta resolveu quebrar o recorde mundial em uma esteira. Os 50K mais rápidos no aparelho eram antes de Michael Wardian, que havia feito 2h59min49 em 2015. Com a marca, Mario conseguiu angariar US$ 4.000 (cerca de R$17.000) para seus alunos.
Mario Mendoza quebra o recorde mundial em uma esteira
“O que me deixou nervoso foi o ginásio não ter ar condicionado, então eu sabia que ficaria com muito calor”, disse o corredor à Runner’s World US. “Eu tinha a possibilidade de mudar meu desafio para uma sala refrigerada, mas não fazia sentido. Queria mostrar o que eu poderia fazer por aquelas crianças e que, juntos, podemos fazer algo grande.”
Com a ajuda dos administradores da escola, Mario começou a se preparar para o evento no ano passado. Para quebrar o recorde, ele teria que manter um pace de 3:34 min/km, que é uma média de mais de 16,7 km/h.
O número pode até parecer absurdo, mas não foi para o profissional, que se destacou no mundo da corrida nos últimos 7 anos. Desde 2013, ele já foi cinco vezes campeão nacional de trail run nos Estados Unidos (10K em 2013; 42K em 2015 e 2017; 50K em 2015; e 100K em 2018). Além disso, ele já representou seu país em diversas competições ao redor do mundo e pegou vários pódios em provas como a Lake Sonoma 50 Miler e a Flagstaff Skyrace.
Como ele se preparou
Para encarar o desafio, Mario combinou treinos ao ar livre com dias na esteira. Quando estava em casa, ele testava métodos diferentes, como cobrir a tela do aparelho para não ver a distância que já havia feito. Ele então percebeu que essa estratégia o deixava muito ansioso, então optou por deixar tudo visível no grande dia.
“Fiquei pensando em todas as coisas que poderiam dar errado, como uma queda de energia bem no dia ou a vontade de ir ao banheiro”, contou. “Mas levando em conta a minha forma física, eu sabia que pelo menos tinha uma chance.”
Mario esperou as aulas voltarem para correr, no dia 14 de janeiro. Durante um intervalo de 20 minutos entre as aulas, toda a escola assistiu ao início da tentativa. Apesar de ter definido um ritmo médio de 18 km/h, ele sentiu que a esteira estava um pouco lenta.
Dificuldades
“Eu estava rindo de nervoso”, disse ele. “Pensava: ‘Vamos, esteira’. Demorou uns 400 metros para acelerar. Por isso, eu tive que aumentar um pouco mais o ritmo antes de voltar para aquele que eu tinha definido.”
Os estudantes tiveram que voltar para as salas após o almoço, mas alguns deles foram liberados para torcer pelo ultramaratonista. A única torcedora que ficou ao lado de Mario do começo ao fim do recorde mundial em esteira foi sua esposa. Ela estava com uma reserva de géis e bebidas esportivas que o entregou ao longo das três horas.
Quando a marca estava para ser quebrada, nos últimos 10 quilômetros, os alunos foram novamente trazidos para o ginásio. Embora ele tivesse diminuído um pouco o ritmo nos últimos 16 quilômetros, sabia que ainda tinha vantagem. Então, quando a esteira atingiu os 50K, ele parou com 2h59min03. Ficou parado por um tempo enquanto a plateia ia à delírio.
Recorde mundial em esteira
“Não acho que os jovens tenham percebido o quão perto eu fiquei de não conseguir”, disse Mario. Ele bateu a marca anterior em apenas 46 segundos. “Eu tentei até um sprint final para terminar em 2h59, mas meus músculos começaram a doer demais e minhas pernas não aguentaram.”
Agora, ele está descansando e se recuperando de um resfriado que pegou dois dias após o evento. Ele participará de grandes provas no fim do ano e espera decidir qual será sua preparação nas próximas semanas.