O que você precisa saber sobre implantes hormonais

Por Thieny Molthini, da Runner’s World Brasil

implante hormonal
Foto: Shutterstock

Faz parte da vida: com o passar do tempo, a performance tende a diminuir, bem como a nossa massa magra, e melhorar os seus números já não é mais tarefa simples. Some a esses fatores os incômodos gerados pela menstruação. E eis aqui os principais motivos que têm levado corredoras, especialmente aquelas com mais de 35 anos, aos consultórios médicos. Por lá, elas podem conhecer um tal de implante hormonal.

Exatamente, a ajuda que elas buscam está chegando em forma de pequenos cilindros de silicone com aproximadamente 4 cm. Com aplicação rápida e indolor e “efeitos colaterais” almejados por muitas mulheres – como aumento da massa magra e força –, os implantes hormonais estão cada vez mais populares entre esportistas. 

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O que é o implante hormonal?

O cenário é comum para muitas mulheres: gravidez, amamentação, avanço da idade, perda da massa magra e piora da performance. Você treina, mantém a dieta em dia, mas correr mais e melhor ficou mais difícil… É para melhorar esse quadro que muitas corredoras têm buscado os implantes hormonais. Mas é preciso entender bem com o que estamos lidando. 

O implante hormonal é um pequeno tubo de silástico com substâncias ativas que são lentamente liberadas no organismo. Quais são essas substâncias ativas? Os hormônios.No Brasil, um dos grandes nomes quando se fala em implantes hormonais é Elsimar Metzker Coutinho. Endocrinologista – hoje com 88 anos –, ele estuda a saúde da mulher há mais de 50 anos. E depois de observar como os hormônios no corpo humano atuam, desenvolveu os implantes hormonais.

Em 1982, Elsimar uniu seu conhecimento às práticas e aos estudos do ginecologista Malcolm Montgomery. Entre 1989 e 1990, a dupla começou a colocar os implantes na clínica particular deles, em São Paulo. Foram quase 20 anos pesquisando e atuando juntos. “Só fala mal de implante hormonal quem não conhece”, afirma Malcolm. 

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Por dentro do implante hormonal

Os implantes hormonais, segundo Malcolm, são indicados para mulheres que precisam tratar distúrbios hormonais e repor hormônios que deixam de ser produzidos naturalmente na menopausa. Ou que buscam por um método de contracepção ou suspensão da menstruação. Não são indicados, em nenhuma circustância, apenas para fins estéticos. Ainda mais se o procedimento for feito por um médico sem experiência com a técnica ou do histórico da paciente. 

Cada tubinho possui um hormônio, que pode ser a progesterona modificada ou um hormônio bioidêntico (que são iguais aos produzidos pelo organismo). De acordo com as necessidades da paciente, pode ser implantado um ou mais hormônios. O objetivo final é sempre o equilíbrio, ou seja, a redução da oscilação hormonal no corpo da mulher. 

Há seis implantes disponíveis no mercado. Quatro deles são progesteronas modificadas e atuam como contraceptivos: gestrinona, nestorone (ou elcometrina), nomegestrol e levonorgestrel. Os outros dois são os bioidênticos estradiol e testosterona. 

Como cada médico pode trabalhar com um tipo de implante, é preciso conversar muito e esclarecer todas as dúvidas sobre o procedimento. Malcolm orienta que as mulheres busquem por profissionais que atuam há mais de dez anos nessa área. E pesquisem sobre a empresa que fabrica o implante que será colocado. 

Cada implante contém cerca de 50 mg, que são liberados em pequenas doses, devido à estrutura do silicone do tubinho. Alguns implantes “duram” mais tempo, outros, menos. “O nestorone, por exemplo, é um anticoncepcional eficiente por seis meses. Já a gestrinona garante eficiência por um ano”, explica Malcolm. 

Implante hormonal na prática

Ginecologista endócrina e especialista em longevidade e genética do antienvelhecimento, Fabiane Berta buscou pelos implantes há quatro anos, quando estava com 30 anos. A médica estava cansada de sofrer com as crises de enxaqueca. “Eu passava dois dias em casa. Uma enxaqueca muito forte, com vômito. Anticoncepcionais orais só pioravam a situação”, conta a ginecologista. 

“Quando coloquei os implantes, senti o cabelo oleoso e tive um pouco de acne. Mas isso foi apenas no começo, durante meu período de adaptação, que durou 26 dias. Depois fiquei bem. Hoje as dores de cabeça surgem casualmente, se eu tiver picos de estresse.”

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Performance como efeito colateral dos implantes hormonais

Mas, se os implantes hormonais já são usados no Brasil há aproximadamente 20 anos, por que a busca por eles tem aumentado entre esportistas? O que acontece é que se percebeu que, dependendo da dose e do histórico da paciente, os “efeitos colaterais” dos implantes podem ir da diminuição do inchaço e da celulite até o aumento da massa magra (proporção de músculos no corpo) e da libido. Vários desses efeitos ajudam e muito no desempenho esportivo.

Segundo Guilherme Dilda, médico do esporte da clínica esportiva Care Club, a procura pelos implantes vem aumentando justamente pela possibilidade de melhorar a saúde e o desempenho. “Se considerarmos que a morfologia da pessoa é um dos pilares da performance, uma melhora na composição corporal poderia possibilitar uma melhora no rendimento da corredora”, explica o especialista.

E, quando falamos em performance, a gestrinona merece menção especial. Segundo Guilherme, trata-se de um hormônio com potencial androgênico, ou seja, que pode funcionar como a testosterona. Dessa forma, “ela pode aumentar o ganho de massa magra – tanto em volume quanto em força – e a perda de gordura”. Como cerca de 20% das mulheres podem sentir a pele mais oleosa com a gestrinona, muitas vezes o hormônio estradiol pode ser associado para aplacar esse efeito indesejado. 

Na visão de Guilherme, o uso indiscriminado do procedimento é perigoso. E, como também trata-se de algo muito particular, os efeitos variam muito de mulher para mulher. “Além disso, com esse aumento artificial de performance, podem vir aumentos bruscos de intensidade e volume de treino. Isso, no geral, causa fadiga e até lesões”, complementa o médico do esporte Gustavo Magliocca, diretor da Care Club. 

Cuidados adicionais com os implantes hormonais

Segundo os especialistas em implantes, não há uma contraindicação para o uso permanente do método. Apenas pessoas que foram diagnosticadas com câncer e fizeram tratamento, sofreram com trombose ou tiveram problemas de fígado devem esperar para fazer uso desses hormônios, ou seja, já devem estar curadas há um bom tempo. 

E, como cada hormônio age de maneira diferente no corpo de cada mulher, Guilherme ressalta que há o risco de efeitos colaterais indesejáveis. “Em algumas mulheres, pode haver efeitos como o aumento na produção de pelos, engrossamento da voz, queda de cabelos, ganho de peso e alterações de humor”, pontua o médico. 

Malcolm, por sua vez, afirma que, com a dosagem correta, não há riscos. “O nível de testosterona da mulher vai de 9 a 90. Então, se no exame dela mostrar 20, eu posso colocar para 25. Mas aí estou aumentando 5 mg por dia, eu não estou colocando acima de 90.”

Tanto Malcolm quanto Fabiane ressaltam que os efeitos positivos dos implantes dependem também do estilo de vida de cada mulher. Idade, índice de massa corporal (IMC), ser fumante ou não e praticar atividade física são fatores relevantes para a individualidade de cada dose. 

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Implantes hormonais: é doping ou não?

Guilherme enfatiza que os implantes são uma forma de tratamento hormonal, que precisa de um diagnóstico médico e uma indicação bem realizada. “Hoje o Conselho Federal de Medicina, órgão que regula as condutas médicas, proíbe o tratamento hormonal para fins exclusivamente estéticos ou de performance esportiva. Existem métodos anticoncepcionais e de melhora de rendimento mais seguros e com maior embasamento científico”, explica. “Por isso aconselho às atletas discutir a respeito do tema com seu médico e definir em conjunto as estratégias mais seguras para alcançar os resultados.” 

Gustavo acrescenta ainda que tanto a gestrinona quanto a testosterona são consideradas esteroides no esporte. “E eles são proibidos no esporte profissional competitivo. Já entre os amadores, os esteroides são tratados como medicamento e a indicação está vinculada à identificação de necessidade médica.”

Já para Fabiane, os implantes hormonais não podem ser classificados como esteroides ou anabolizantes. “A testosterona é um hormônio natural. No caso dos implantes, a testosterona usada é a bioidêntica, ou seja, igual à produzida pelas nossas glândulas endócrinas. Ao contrário dos anabolizantes, que são hormônios quimicamente modificados. E esses, sim, causam malefícios à saúde”, reforça. “A gestrinona que usamos, por sua vez, é um análogo hormonal que pode ter um efeito anabólico, não anabolizante. Assim, entre os seus benefícios, estão o aumento da massa magra e a melhora da circulação e da massa óssea.” 

Diretor da MPR Assessoria Esportiva, Marcos Paulo Reis é absolutamente contrário ao uso de implantes hormonais para melhorar o desempenho na corrida. Para ele, seu uso deve ser restrito à real necessidade médica. “O especialista deve buscar, primeiro, todas as formas naturais de equilibrar a mulher. E, se ela realmente precisar de ajuda, então entra o médico do esporte, um médico que entende o que ela está fazendo, que sabe sobre o seu esporte.”

Depois do implante hormonal, o que fica?

De acordo com os ginecologistas escutados pela reportagem, se você decidir tirar o implante ou simplesmente não quiser fazer outra aplicação, porque não se sentiu bem com o método ou porque decidiu engravidar, nenhum efeito negativo deve ser sentido.  Segundo Fabiane, não há problema porque você apenas repõe o que está faltando, de acordo com a deficiência do metabolismo e a saúde endócrina da paciente. Mesmo no caso do uso contínuo de gestrinona com testosterona, Fabiane afirma que, se for usado de acordo com a recomendação médica, para fins medicinais, não há riscos. 

Mas há ainda a possibilidade do chamado “efeito rebote” com a retirada do implante. “Por conta da perda hormonal, a mulher pode voltar a perder músculo e engordar”, afirma Guilherme. “Por isso a retirada deve ser acompanhada pelo médico em um período que chamo de adaptação. Claro que há a perda de variáveis de condicionamento, mas, com disciplina e regularidade, tudo volta ao normal [ou seja, ao quadro de antes do uso dos implantes].”

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