Pai termina maratona segurando filho com Down

Por Caitlin Giddings, da Runner's World US

Pai de criança com síndrome de Down termina maratona com filho no colo
Foto: Elizabeth Griffin

Robby Ketchell, pai de criança com síndrome de Down, teve sua foto viralizada recentemente nas redes sociais. Nela, ele carrega no colo seu bebê Wyatt, de poucos meses de vida, enquanto passa pela linha de chegada da Maratona de Nova York de 2018. O motivo? Levantar fundos para incentivar mais pesquisas sobre a síndrome. E deu certo: apesar da meta de US$ 3.210 (uma homenagem ao cromossomo a mais que essas pessoas carregam), ele conseguiu juntar mais de US$ 11.000. Confira agora o depoimento que Robby deu à Runner’s World US: 

“Já fiz muitas corridas de trilha e ultramaratonas, como a Leadville Trail 100. Mas a Maratona de Nova York seria minha primeira prova de 42 km de asfalto, ano passado. 

No começo do ano, no dia 12 de março, minha esposa, Marya, deu à luz nosso filho, Wyatt. Ele nasceu com síndrome de Down. Eu queria uma forma de homenagear a ele e a todas as outras pessoas afetadas pela síndrome. Então decidi correr Nova York e levantar fundos para outras pessoas na mesma situação.”

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História com o pequeno

“2018 foi um ano difícil. Depois de Wyatt nascer prematuro, passamos 67 dias na UTI neonatal. Ele saiu do hospital alimentado por uma sonda, e lutamos todos os dias para que ele não precisasse voltar a utilizá-la. Há muitas coisas envolvidas em mantê-lo saudável – intervenção precoce, fisioterapia, terapia ocupacional. Tem sido uma jornada dura. 

Pai de criança com síndrome de Down termina maratona com filho no colo
Foto: Elizabeth Griffin

Todo mundo com síndrome de Down tem uma terceira cópia do cromossomo 21 em todas as células do corpo. Mas cada um deles é único porque isso pode afetá-los de inúmeras formas. E os efeitos podem ser de moderados a severos. O que torna a pesquisa difícil de ser aplicada ao longo de todo espectro. 

Defeitos no coração são um dos maiores problemas, e Wyatt passará por uma cirurgia cardíaca em abril. Ele também tem dificuldades para comer porque seu tônus muscular é realmente baixo. Além da anatomia de sua boca ser diferente. Não há muitas pesquisas sobre como melhorar isso, então é importante financiar mais intervenções e fontes que possam ajudar ele e os outros. 

Entrei em contato com a Lu Mind Research, uma instituição de caridade que arrecada dinheiro para pesquisas sobre a síndrome de Down. Tive a ideia de bater o tempo de 3h21 na maratona em homenagem às três cópias do cromossomo 21 de Wyatt. Meu objetivo de arrecadação de fundos também era US$ 3.210. Simbólico, certo? Acabamos arrecadando mais de US$ 11.000.”

Preparação para as provas

“Em 2017, corria de 80 a 110 km semanais para treinar para corridas de trilha. Mas ano passado tive que me esforçar para encontrar tempo para correr 55 km por semana com regularidade. Quando estávamos no hospital, não havia tempo. E eu alinhei na largada com fascite plantar nos dois pés. 

A principal coisa que quero fazer é lembrar as pessoas de que não se trata de colocar limites a si mesmo – trata-se de superá-los. Isso é uma grande coisa para qualquer um com síndrome de Down. Lutamos com isso todos os dias, à medida que as pessoas tentam limitar Wyatt ou simplesmente vê-lo como um diagnóstico. Para mim, correr em 3h21 era algo importante. Não consegui. Mas dei tudo para chegar lá. 

Por volta do quilômetro 13, soube que estava em apuros. No 27º, tive que tomar uma decisão. Ou aliviar meu pace de 4min40/km o suficiente para acabar em cerca de 3h40. Ou continuar dando tudo de mim e ver o que aconteceria. Eu sabia que estava acabado, mas me mantinha disposto a tudo. 

Pai de criança com síndrome de Down termina maratona com filho no colo
Foto: Elizabeth Griffin

Minha técnica estava muito ruim. Eu dava bofetadas no asfalto, mas conseguia correr a 4min40/km e seguia avançando. Por volta do Km 32, caí de joelhos. Tinha a sensação de que minhas pernas estavam a ponto de quebrar. Era isso. Sabia que eu ainda podia terminar andando desde aquele ponto, mas gostaria de dar o meu melhor.”

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Como o pai de criança com síndrome de Down acabou com o filho no colo

“Sempre quis cruzar a linha de chegada com Wyatt no colo, mas tinha consciência de que, se conseguisse bater o tempo de 3h21, seria por pouco e não teria tempo suficiente para levá-lo comigo. 

Depois do Km 32, andando, mandei uma mensagem à minha mulher para lhe contar o que tinha acontecido e lhe dizer que estava indo pegar o Wyatt. Ela teve que se esforçar para chegar perto da linha de chegada, pois a maratona é enorme. Mas ela pôde me dar o Wyatt pouco antes do Km 42. E eu cruzei a linha de chegada com ele no colo. 

Para mim, foi quase melhor que bater o tempo de 3h21. Tinha expandido meus limites, essa era a questão. Não podia ir além. E tínhamos podido desfrutar do momento de atravessar a linha de chegada juntos. Realmente não sou de chorar, mas lágrimas começaram a brotar. 

As pessoas ao meu redor choravam – mesmo gente que não conhecia a história, que simplesmente tinha me visto carregando meu filho. Normalmente, quando você corre uma maratona, coloca seu nome no número de peito para que todo mundo torça por você. Eu coloquei Wyatt no meu, então as pessoas gritavam por ele. Isso tornou tudo emotivo a partir do primeiro quilômetro. 

Enquanto eu caminhava com ele no colo, todo mundo continuou gritando seu nome. Eu disse a todos: “Este é o Wyatt”. E isso tornou tudo muito especial.”

Foto do pai de criança com síndrome de Down viralizou

“Vi a foto na manhã seguinte da corrida, e nós entramos em contato com o fotógrafo pelo Instagram, onde Marya conta a história de Wyatt em @tour_de_wyatt

Ter um filho com síndrome de Down nos mudou da melhor forma possível e nos deu uma perspectiva de vida diferente. A quantidade de amor e a jornada que estamos atravessando são simplesmente incríveis. Sei que voltarei no ano que vem para bater o tempo de 3h21.”