Corredor reúne 100 amigos em sua centésima maratona

Por João Ortega, da Runner's World Brasil

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Foto: Acervo pessoal

É comum que corredores estabeleçam metas para si dentro do esporte. Alguns buscam um recorde pessoal, outros querem estrear em uma distância e há aqueles que miram um peso menor na balança. Já o dentista Julio Cordeiro, em 2013, estabeleceu um objetivo de longo prazo um tanto incomum e bastante desafiador por não depender apenas dele: reunir 100 amigos para correr ao seu lado em sua centésima maratona.

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A meta traçada impressiona, tanto pelo volume de provas quanto pela quantidade de colegas. Afinal, quantas pessoas hoje em dia podem dizer que têm 100 amigos próximos?

Natural de Recife, Julio correu sua primeira maratona no Rio de Janeiro em 2008. O corredor de 50 anos de idade define a prova como “imperdível”, “a mais desejada”, “a minha rainha” e “a mais bonita de todas”. Dez anos depois da estreia, escolheu essa mesma prova para a comemoração das 100. Desde então, fez uma média de dez corridas de 42 km por ano.

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Foto: Acervo pessoal

 Os 100 amigos

Ao correr maratonas pelo Brasil e pelo mundo na última década, Julio acabou fazendo amigos por toda a parte. Cativante e brincalhão, como definem pessoas próximas a ele, Julio fez com que muita gente aderisse ao seu objetivo de reunir a turma toda no Rio de Janeiro neste ano.

Uma das pessoas que comprou a ideia desde o início foi a funcionária pública Marinês de Melo. Natural de Fortaleza, ela se mudou para Recife e acabou conhecendo o dentista no grupo de corrida do qual participavam. “A gente se reunia na casa dele, que era um pouco afastada da cidade, para correr ali na região”, conta a cearense de 54 anos. “Das 100 maratonas que ele correu, estivemos juntos em 34.”

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Segundo Marinês, Julio é o companheiro perfeito de viagens. Faz quem estiver por perto rir o tempo todo, criando uma atmosfera leve. “A gente viajou para vários países para correr maratonas e acabou convivendo bastante. Sempre rolam brincadeiras, micos que um ou outro passa, que ficamos relembrando e nos divertem depois.”

A relação do corredor com os colegas de corrida é tão forte que até quem não curte a distância decidiu entrar no desafio. É o caso de Paulo Chaves, professor na cidade de Recife e amigo de longa data do dentista. Ele havia corrido apenas uma maratona na vida, na sua cidade natal, e descreveu os 42 km como “exaustivos e desagradáveis”.

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“No ano passado, eu e Julio fomos juntos ao Rio: ele fez a maratona e eu a meia. Antes da corrida, saímos para jantar e ele me revelou que iria mesmo completar as 100 maratonas em 2018 no Rio de Janeiro e disse que havia me inscrito entre os 100 amigos. Que fazia questão que eu corresse. Naquele momento, eu não poderia recusar um convite dessa natureza”, disse Paulo. “Conversei com o meu treinador e comecei a treinar para que pudesse estar pronto para completar a maratona um ano depois. Comprei a ideia e passei a me dedicar.”

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Marinês partilha da opinião de Julio de que a Maratona do Rio é a prova mais especial do país. “Ela tem uma energia diferente, uma organização muito boa que a cada ano melhora. Da mesma forma que o Julio ficou cativado por ela, eu também fiquei”, conta. Para a turma de amigos, a ideia era completar a prova em grupo e aproveitar a beleza da cidade, sem pensar em performance. O dentista, já experiente, completou o trajeto em 4h12min.

A chegada, para Julio, foi o momento mais emocionante – não só dessa prova, mas dos últimos dez anos de maratonas. “Fizemos uma verdadeira invasão! Meu coração se encheu de emoção. O momento da chegada, com minha família e meus amigos, se eternizará na minha mente.”

Entretanto, para os demais corredores, o melhor momento do domingo talvez tenha sido algumas horas depois da chegada. Uma mesa com
120 lugares em uma tradicional churrascaria no bairro do Botafogo acolheu os corredores para uma comemoração do desafio completo. “Não sei se o pessoal estava mais ansioso para a corrida ou para a comemoração na churrascaria que aconteceu depois”, brinca Paulo.

Na rua ou sentados à mesa, o sentimento geral era de gratidão por estarem entre amigos e colegas de corrida. Como fala Marinês, correr com os amigos é muito melhor que correr sozinha: “Dizem que a corrida é um esporte solitário, mas, para mim, é um esporte super comunitário, de grupo. Estamos sempre ajudando um ao outro”. Na mesma linha, Paulo revela que “um dos motivos de correr é justamente para me relacionar com pessoas que têm os mesmos objetivos, a mesma disposição”.

Por falar em objetivos e disposição, Julio nem cogita abandonar as maratonas. “Já me inscrevi para a 101 em São Paulo”, conta. Se depender do seu carisma, o número de amigos também não vai parar de aumentar tão cedo.