O risco exercício

Por Gustavo Magliocca

Um estudo dinamarquês recente, divulgado em uma importante publicação científica – o Jornal do Colégio Americano de Cardiologia –, concluiu que correr de forma leve ou moderada pode proteger sua saúde, diminuindo o risco de mortalidade. Até aí nenhuma novidade para nós, corredores que sentimos na pele diariamente os benefícios do esporte. Porém o mesmo estudo aponta um risco tão elevado quanto o sedentarismo para aqueles que correm de forma intensa (considerando “intenso” uma associação entre ritmos, distâncias percorridas por semana e frequência de treinos semanais).

O estudo, que tinha como um dos objetivos alertar para o risco de “altas doses” de corrida, caiu como uma bomba na comunidade científica, colocando em cheque a prescrição de atividades extenuantes. Apesar das inúmeras críticas à metodologia e às conclusões do estudo, ele serviu como embasamento aos profissionais que defendem o “menos é mais” na corrida.

A verdade é que, antes mesmo de debatermos se a corrida pode ou não encurtar os anos de vida de um indivíduo, devemos relembrar alguns fundamentos do treino esportivo. O primeiro deles é a individualidade biológica. Em linhas gerais, ela diz que não somos todos iguais e, portanto, não devemos iniciar um programa de treinamento sem antes termos as nossas individualidades – nossa condição de saúde, nosso estado psíquico e nossa aptidão física, entre outros fatores – investigadas e exploradas. De forma simples e objetiva: o que é corrida forte para mim pode não ser para você

Depois, é preciso pensar nos princípios de adaptação e sobrecarga, que dizem que as respostas de nossos órgãos e sistemas são decorrentes dos estímulos gerados pelo treinamento. Assim, quanto mais apto um indivíduo está, maior será sua capacidade de adaptação e, consequentemente, maiores serão as necessidades de estímulo (volume e intensidade) para que aquele indivíduo continue a colher benefícios gerados pelos exercícios. Daí a importância de termos um treinador capaz de periodizar as cargas de treinamento, buscando o máximo de ganhos e minimizando os riscos.

Em resumo, antes mesmo de esperarmos novos dados científicos que comprovem ou derrubem o argumento de que atividades extenuantes são prejudiciais ao organismo, proponho um exercício simples. A tarefa é tentar conhecer nossos atuais limites e buscar a evolução dentro de um programa de treinamento que respeite nossas individualidades. Os riscos, os danos e as lesões aparecem quando não respeitamos nossos limites e nossa necessidade de descanso entre as sessões de treino. Converse com seu treinador, seja mais crítico em relação às “verdades absolutas” que surgem por aí e siga treinando em busca de seus objetivos.