Juntas somos mais fortes

"A CORRIDA TRANSFORMOU MEU MODO DE PENSAR". Aprendi a me amar, a amar minhas curvas do jeito que elas são.” Foi assim que Flávia Stefani, 37 anos, resumiu a relação que tem com seu corpo. Como a modalidade fez isso? “Ela mostrou que cuidar da saúde é sinônimo de me sentir bem e que emagrecer é uma consequência”, conta. E, com a lição que aprendeu com o esporte, Flávia uniu mais de 200 mulheres em sua cidade, Itapetininga (SP), para conhecerem, juntas, os benefícios da corrida. O grupo passou a se chamar Correr e Prosear – “porque a gente fala muito”, diz Catharina, uma das integrantes, aos risos – e tem como meta o resgate da autoestima feminina por meio desse esporte.

Tudo começou porque Flávia queria perder os quilos que ganhou durante a terceira gravidez. As caminhadas logo viraram

trotes, e sua cunhada, Mariana Marques, que já era corredora na época, decidiu acompanhá-la. Outra amiga se juntou à dupla e as três criaram no Whatsapp, aplicativo de mensagens, o grupo “Correr e Prosear”. “Em dezembro eu já tinha emagrecido 18 kg, e a minha cunhada postava fotos no Facebook dos nossos treinos. Muita gente veio nos procurar interessada em fazer parte do grupo”,

recorda Flávia.

As mulheres encontraram umas nas outras o incentivo que precisavam para largar o sedentarismo. Hoje são três grupos

no Whatsapp que elas usam para agendar os treinos e até ajudar as outras a acordar. “O treino acontece todas as terças, quintas e finais de semana, às 5h50 da manhã ou às 19h da noite. Nós sabemos que de manhã é mais difícil, então ficamos

mandando mensagens para o pessoal despertar”, conta Catharina Hungria, 48 anos, a mais velha do grupo. Nos outros dias da semana, elas aproveitam para fazer musculação ou outros exercícios que ajudem no fortalecimento.

“Apesar de nos incentivarmos, os treinos são muito particulares. O ponto de encontro é o mesmo, na Marginal do Chá, mas algumas

fogem do percurso, correm em outro lugar. Cada uma tem um ritmo, um percurso e uma distância”, diz Flávia. “Em média, corremos de 7 a 10 km por treino. No final de semana fazemos um longão, que pode ser de 7, 16, 21 ou até 35 km, dependendo do nível de condicionamento de cada uma.”

NÃO É COBRADA nenhuma taxa ou mensalidade das integrantes do Correr e Prosear. “Nós não temos treinador, não existe mensalidade. Mas temos uniforme, carteirinha, boné, adesivo de carro e até toalhinha, tudo personalizado”, explica Catharina.

Nos treinos, quem ajuda são as famílias. Durante a semana, os maridos levam água, isotônico e géis. Aos domingos, maridos e filhos as esperam em uma tenda feita pelo grupo, com bolos e cafés. “No final, tomamos o café da manhã juntos”, conta ela.

Os motivos para as mulheres se juntarem ao grupo são inúmeros, mas, segundo Catharina, existe um padrão. “Muitas eram

sedentárias, com a autoestima lá embaixo, algumas até depressivas.” Além de incentivá-las, o Correr e Prosear tem a questão da não obrigação, que atrai as mulheres em busca de uma relação mais natural com o esporte. Foi o caso de Mariana Mercadinho, de 33 anos. Mari confessa que desistia de tudo que fazia, da hidroginástica à musculação, por causa da cobrança. “Eu queria

aquilo tudo muito chato”, diz. Na época, Maripesava 110 kg. Em janeiro de 2015, sua vida mudou com um telefonema: “Eu vi

no Instagram que a Flávia estava correndo e liguei para ela. Na conversa ela me contou do grupo e já me adicionou no chat do

Whatsapp”.

Mari respeitou seu tempo: começou caminhando e, quando se sentiu preparada, deu início ao trote. Hoje ela faz provas de

10 km, mesmo conseguindo correr apenas 5 km seguidos, e emagreceu 13 kg. “Tantas vezes eu tentei e não consegui. Com o grupo não tem compromisso financeiro, somente o da amizade”, ela diz.

No Correr e Prosear, o respeito à individualidade é sagrado. A grande maioria é de corredoras, mas há as que só caminham e as que preferem a dança. O incentivo mútuo é uma constante no grupo. “Depois de entrarmos no Correr e Prosear, temos mais disposição, sentimos que somos capazes de fazer qualquer coisa, mas o mais bonito é a amizade. Eu não vivo mais sem

elas”, diz Catharina