Amor como tempero

Eu achava que comia direito até me apaixonar pelo Felipe. Não foi de um dia para o outro que caí de amores. Os primeiros meses de relação foram bem tumultuados, para falar a verdade. É um período meio nebuloso na minha memória. Mas a gente foi se conhecendo, se descobrindo e, quando eu vi, estava entregue ao maior amor da minha vida. Foi ele quem me ensinou o sentido da palavra nutrição.

Percebi que alimentar um filho é um ato de entrega, de amor. E que pode ser até poético. Temos na nossa frente uma folha em branco, que é o paladar daquele bebê de seis meses. Uma grande responsabilidade, mas com tantas possibilidades… E a nós cabe apresentar-lhe o mundo e deixar que ele faça suas escolhas, como em tudo na vida. Claro, damos uma guiada, uma editada na informação. Nesses dois primeiros anos, priorizamos uma parte do mundo – a que consideramos a melhor fatia.

Mas pense na beleza de dar o exemplo, de compartilhar o alimento, de fazer da refeição uma comunhão. E de ver que seu filho está criando, dia a dia, uma relação harmoniosa e prazerosa com a comida. Nesse primeiro contato, não há vícios e preconceitos. É a grande chance de o Felipe sentir o verdadeiro gosto dos alimentos. Sal, nem precisa. Mais para frente ele deve entrar, em pequena quantidade, na comida de casa (porque o excesso já é marcante nos alimentos prontos). Mas acho muito importante meu filho sentir o gosto do brócolis, da mandioca, da beterraba. Edas ervas frescas que uso como tempero: salsinha, orégano, manjericão, endro, tomilho.

Aliás, foi com o Felipe que troquei o sal por um mix de ervas na minha alimentação. Também não ofereço açúcar para que ele consiga apreciar o doce das frutas. E são tantas, tão lindas e suculentas! Com meu filho, nunca mais “faltou tempo” para encher a casa de frutas, legumes, verduras. Falta papel higiênico, mas não as frutas preferidas dele – as favoritas da vez, porque há uma saudável alternância entre as eleitas. No mercado, deixei de lado a lista e abri a cabeça para novos sabores, aromas e texturas. E, por ele e por mim, parte das frutas e legumes (pelo menos as que comemos com casca) e as verduras são orgânicas. Dá mais trabalho, compro direto do produtor para economizar, tenho que estar em casa no horário da entrega, mas vale: com o Felipe, aprendi também a nutrir o amor próprio.

Muita gente fica inventando dieta da lua, do abacaxi, da papinha Nestlé (sim, isso existe!). Porém, para manter a forma e a saúde, basta seguir o cardápio do filho, preparado com tanto amor. Se a gente prioriza alimentos frescos, integrais e saudáveis, em pouco tempo pais e filhos estarão à mesa dividindo a mesma dieta e filosofia de vida. Sabe de uma coisa? Ao contrário de outras paixões, a pelo Felipe me deu é fome. Fome de vida, amor, comida. Que bom que filho é para a vida inteira!