Seu mestre mandou

Saiba o que esperar de um treinador de corrida. E o que só você pode fazer pela sua evolução

Por Mario Sergio Andrade Silva – Atleta, treinador e fundador da Assessoria Run&Fun, de São Paulo

Cada vez mais corredores buscam assessorias esportivas e treinadores para correr melhor e com mais segurança. O que é excelente, porque mostra um amadurecimento do mercado e do próprio corredor. Mas vejo que para muitos atletas ainda está um pouco nebuloso o papel do educador físico no processo. Parte deles subestima o preparo desse profissional, enquanto outros chegam a superestimar a influência dele no desempenho do corredor.

O treinador, além da formação como educador físico, frequentemente tem especialização, pós-graduação. Muitas vezes ele faz parte de uma equipe multidisciplinar com médicos, nutricionistas e fisioterapeutas para que essa troca se reflita em ganhos para o atleta. É ele que analisa o corredor, levando em conta diversos aspectos, como idade, peso, histórico esportivo, tempo disponível para treinar, metas, hábitos de sono, técnica de corrida. E a partir daí elabora um plano que traz o chamado macrociclo do atleta, ou seja, o planejamento estratégico dos treinos, os mesociclos (como os treinos funcionarão mês a mês visando o objetivo final) e os microciclos (o que será praticado em cada treino).

Mas um bom treinador faz mais do que elaborar um plano de treino que “case” com o perfil e as metas do corredor. Ele motiva, orienta e se preocupa com o atleta. Com frequência, ele pergunta “você tem dormido bem? Anda estressado? Alguma indisposição?”. O treinador pode ajudar o corredor a ter uma melhor conexão com os sinais do corpo e, assim, a treinar e evoluir de forma mais segura.

Claro, há uma linha que ele não deve ultrapassar. O treinador trabalha em conjunto com uma equipe disciplinar, mas não deve invadir a área alheia. Dieta personalizada é para o nutricionista esportivo. Medicamento, só o médico deve receitar. Tratamento para lesão, também: com o médico do esporte, ortopedista, fisioterapeuta. O treinador pode ser um excelente aliado desses profissionais, encaminhando seu aluno a um deles e trocando experiências.

Há outra função que também definitivamente não cabe ao treinador: a de babá de aluno. Não é ele que o colocará na cama na hora certa ou que ficará controlando o que ele come ou bebe. E não deverá ser dele a tarefa de fiscalizar se ele correu o que manda a planilha ou “roubou no jogo”, para mais ou para menos. É preciso haver confiança das duas partes. E também diálogo permanente: o feedback do aluno é fundamental para o trabalho do treinador. Afinal de contas, quem melhor conhece seu corpo é o atleta, não é mesmo?

Encare o treinador como um investimento em você. No fim, pode apostar que você vai economizar e aprimorar aquilo de mais valioso que tem: sua saúde e seu tempo.