Dia Mundial de Alimentação: carência de vitaminas e minerais

Uma alimentação equilibrada reflete significativamente na qualidade de vida. O Dia Mundial da Alimentação, celebrado em mais de 150 países em 16/10, é uma ótima oportunidade para promover a conscientização da população sobre as questões da nutrição. E neste contexto vale entender o papel do sistema digestivo, que além da absorção dos nutrientes fornecidos pelos alimentos, ainda produz neurotransmissores relacionados ao bom humor, ao sono e à saciedade.

O intestino, um importante órgão do aparelho digestivo, merece atenção especial. Seu mau funcionamento pode ser um dos indícios da Fome Oculta, que é a carência crônica de vitaminas e minerais devido ao baixo consumo ou mau aproveitamento dos nutrientes pelo organismo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS-2004)1 revelam que uma em cada quatro pessoas sofre de fome oculta. "Embora ingeridos em pequenas quantidades, os micronutrientes estão envolvidos em várias funções metabólicas. Porém, a deficiência dos mesmos muitas vezes não é observada", explica o nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Durval Ribas Filho. Uma alimentação completa auxilia para o bom funcion amento do intestino.

E o funcionamento do intestino do brasileiro não anda muito bem. De acordo com a Pesquisa Manifesto do Corpo Saudável2, desenvolvida pela ABRAN, em parceria com Centrum, 35% dos brasileiros com acesso à internet relatam mau funcionamento do intestino. Desse universo, 57% são mulheres. Entre quem não considera sua alimentação saudável, 51% descrevem o problema.

Com o tempo, a fome oculta também cria condições para o desenvolvimento de doenças não transmissíveis como diabetes, dislipidemia, hipertensão e câncer. Além do intestino, outros sinais podem ser manifestações de fome oculta: apetite irregular, mau humor, falta de disposição para as atividades do dia a dia, unhas quebradiças e pele sem brilho, baixa resistência a doenças, sono não r estaurador e ossos e dentes fracos.

Arroz e feijão não são suficientes
A adoção de uma alimentação rica em fibras, incluindo alimentos como aspargo, erva-doce, couve e alcachofra, e o consumo regular de água são fundamentais para o bom funcionamento do intestino. É preciso observar o consumo dos macronutrientes (proteínas, carboidratos e gorduras) e também a ingestão dos micronutrientes (vitaminas e minerais) para manter a disposição e a energia, a resistência a doenças, o bom humor e o apetite normal, evitando, desta forma, a fome oculta.

O problema é que a maioria dos brasileiros acredita que se alimenta bem. Mas a constatação de diversas pesquisas é justamente o contrário. Os hábitos alimenta res da população colaboram para o desenvolvimento da fome oculta.

A Pesquisa Manifesto do Corpo Saudável2, por exemplo, mostrou que 68% dos brasileiros consideram a sua alimentação saudável, mas somente um em cada três ingere a quantidade ideal de alimentos fontes de vitaminas e minerais – a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de seis porções de frutas, verduras e legumes diariamente. Quando a pesquisa se aprofunda sobre a qualidade e o tipo de alimentação revela que 59% não comem produtos integrais mais de três vezes por semana, 47% consomem produtos industrializados (congelados, salgadinhos, chocolates, bolachas e refrigerantes) mais de três vezes por semana e 23% optam pelo fast food mais de duas vezes por semana.

O presidente da ABRAN alerta que, em virtude da chamada ocidentalização da nossa alimentação, estamos ingerindo poucas vitaminas e minerais. "Estamos consumindo bastante os macronutrientes (proteínas, carboidratos e gorduras), mas poucos micronutrientes (vitaminas e minerais)", diz Durval.

O Estudo Brazos4, feito pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), também comprovou essa realidade e ainda acabou com o mito de que o tradicional prato de arroz, feijão, salada e carne atende todas as necessidades nutricionais. Essa refeição típica da mesa brasileira é rica em macronutrientes, mas não oferece as quantidades necessárias de vitaminas C, E, A, selênio e zinco. A pesquisa aponta ainda que nos últimos 50 anos houve um decréscimo na ingestão de frutas, verduras e grãos.

Referências:
1 – World Health Organization – 2003http://www.who.int/dietphysicalactivity/publications/f&v_promotion_initiative_report.pdf
2 – Pesquisa Manifesto do Corpo Saudável (2014).
3 – Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009 – Despesas, rendimentos e condições de vidahttp://www.ibge.gov.br/home/estatisti ca/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/
4 – Pinheiro MM, et al. Antioxidant intake among Brazilian adults – The Brazilian Osteoporosis study (BRAZOS): a cross-sectional study. Nutr J. 2011;10:39.