Hora de brilhar

Polimento, ô palavrinha feia do nosso vocabulário! Mas tem tudo a ver. O ato de polir sugere refinamento, cuidado, melhoria, acabamento, aparo de arestas. Ao final do ciclo de treinamento para correr 42km, é isso mesmo que buscamos. Atingir a excelência, encontrar o equilíbrio entre volume e intensidade para que, no dia D, estejamos mais fortes, prontos para a batalha.

É hora de reestocar o glicogênio e reparar ou diminuir os danos teciduais. Deixar as pernas mais frescas, menos estressadas, se sentir mais leve, mais capaz. Dar um basta na sensação de fadiga crônica que nos acompanhou por meses. Deixamos a fase do casulo e nos preparamos para a grande metamorfose que nos levará, uma vez mais, à gloria de servir ao Deus Maratona.

Nessas semanas, dependendo da nossa meta e do nosso estágio de condicionamento, é importantíssimo um planejamento cuidadoso. Se queremos performance, não podemos deixar de lado um treino de ritmo que seja, para lembrar que somos e seremos velozes. Ou um fartlek (olha ele aí!) para, brincando, reduzir e acelerar. Potência, controle, ritmo. E menos quilômetros, progressivamente.

Os longos não mais assustam. Se a brincadeira começava nos 22, 24 e, mais tarde, ia para os 30, 32, as reduções de final de ciclo nos despertam da morosidade da obrigação, fazendo renascer o tesão pelo movimento, intensificado pela proximidade da competição. E não é hora para dúvidas, o que passou, passou. Perdeu treinos? Esquece. Não chegou no peso desejado? Relaxa. Fez o longo 15 segundos acima da meta? Provavelmente é hora de revê-la. O momento é encontrar nosso eu verdadeiro. Conhece-te a ti mesmo e correrás melhor e de forma plena.

Semana que vem é festa. Cuidado redobrado, alguns treinos finais, coisa leve, claro. Boca fechada. Hidratação. Carboidratos. Mais horas de sono. Uma última corrida na quinta-feira, só para dar uma soltadinha e sentir o clima. Quebra gelo total. Mini pré-aquecimento. Sexta e sábado, pernas para cima. Televisão, leitura, meditação para ajudar a concentração. Essa é a hora de, no meio de tantos percalços, encontrar a paz. Abraçá-la e agradecer muito pela oportunidade de ter chegado até aqui. Com fé, que ela não costuma falhar. E sorriso no rosto, sempre. É hora de abraçar o infinito.