Um recomeço

fotos: Gazela fotos

No ano passado, eu tive a minha vida transformada de uma hora para outra. Como de costume, fui no sábado pela manhã à USP para fazer o meu longo de 28 km. Era parta da planilha para minha estreia na maratona.

Nesse dia, meu treinador André Lyra decidiu correr comigo e com outra amiga e, após 6km percorridos, vi um carro desgovernado vindo em nossa direção. Além de nós três, outros dois corredores também foram atingidos por um motorista bêbado. Um deles, o Sr. Álvaro Teno infelizmente não resistiu.

Quando acordei, tive a sensação de ter sonhado. Consegui aos poucos virar a cabeça e vi a Eloísa, minha amiga, caída do meu lado e tive a real noção da gravidade do acidente. Ainda assim, precisava saber como estavam minhas pernas. Bem devagar, levantei e abaixei as duas, uma de cada vez, e uma sensação de alívio tomou conta de mim: conseguia mexer as duas.

As dores começaram a aparecer por todo lado e eram insuportáveis. Já no hospital, veio o laudo: cinco ligamentos dos joelhos rompidos, três ligamentos no joelho esquerdo, dois no joelho direito e fratura nas duas fíbulas. Foi então que minha ficha caiu: o sonho da maratona seria adiado.

No dia da alta, cheguei em casa e a primeira ação que tive foi abraçar os meus filhos. Eu ainda tinha tudo que precisava: a minha vida. Após uma consulta com um médico do esporte, especialista em joelhos, recebi a notícia de que seriam necessárias cirurgias para reconstrução dos ligamentos, além de um longo processo de reabilitação, mas que sim, eu poderia voltar a correr!

Nos cinco primeiros meses, as sessões de fisioterapia eram diárias e duravam cerca de 3 horas. Eu tive que reaprender a andar. Mesmo em cadeira de rodas, continuei frequentando a academia, saía para ver minhas amigas e tentei levar uma vida quase normal.

Com a evolução na fisioterapia, em março deste ano, dei o meu primeiro trote na esteira e, em maio, fiz minha primeira prova de 5 km. Terminei radiante, feliz por novamente voltar a fazer o esporte que mais amo.

O processo de retorno na corrida foi lento e me cobrei muito a todo instante. Comecei a treinar em agosto com a Race Consultoria Esportiva focando na meia maratona. A prova alvo foi a W21k da Asics, corrida a que me dediquei e pela qual esperei ansiosamente.

Na noite antes da corrida, recebi uma mensagem que dizia: “quero que você se recorde de toda sua trajetória pra chegar até aqui” e esse foi o mantra que usei a cada km da prova. Lembrava de tudo que passei e queria fazer os 21km abaixo de 2 horas. Só não imaginava ganhar de presente um recorde pessoal. Segundos antes de cruzar a linha de chegada, quando vi o meu tempo – 1h53 min – não pensei duas vezes: cruzei a linha de chegada pulando!

Acredito muito que o melhor ainda está por vir, pois quando você desperta para um grande sonho e se dedica a ele de corpo e alma, todo o universo conspira a seu favor. Estou inscrita para a maratona e não vou desistir de completar esse sonho!