Relógio inteligente?

Imagine a cena: você correndo a Maratona de Nova York, no km 39, pernas pesadas, minutos finais. De repente toca o celular, ou melhor, seu relógio: é sua mãe querendo saber se está tudo bem. Essa é uma das tantas funções (pouco úteis para quem corre) do Apple Watch.

Segundo a Slice Intellegence, empresa de pesquisa com foco no mercado de tecnologia, o Apple Watch já vendeu mais de 1,8 milhão de unidades nos Estados Unidos – nada mal para um relógio que custa US$ 349 (ou cerca de R$ 1.100) na versão básica. Como sou um apaixonado por corrida e tecnologia, topei o investimento e resolvi testar o produto que promete revolucionar o mercado. Usei o Apple Watch Sport 38 mm (há dois tamanhos: 38 e 42 mm) ininterruptamente por duas semanas no trabalho, de terno, mas, principalmente, com tênis, nos treinos de corrida.

O relógio é um “espelho” do iPhone, quase todas as funções do celular funcionam nele – dá para atender chamadas, checar a agenda e a previsão do tempo, ler e-mails, ver fotos. Também tem um sistema que monitora a saúde no dia a dia. Além disso, é gostoso de usar: seu software é divertido, como quase tudo feito pela Apple. Mas nem tudo é alegria, e isso ficou evidente quando saímos para correr.

De cara, percebo que a função “touch” – de tocar na tela para iniciar o cronômetro – é difícil de usar devido ao tamanho do botão “virtual”. A tela de retina com force touch (que reconhece a diferença entre um toque e uma pressão mais forte para acessar alguns controles) perde a sensibilidade quando estamos suados. O mesmo ocorre com a medição dos batimentos cardíacos: não é necessário usar a fita no peito, pois o monitoramento é feito no pulso – o problema é que o medidor não funciona com precisão quando transpiramos muito.

As informações que o relógio fornece são boas – quilômetros percorridos, ritmo atual, tempo, calorias, batimentos cardíacos. Também é possível customizar o treino ou colocar seu objetivo de tempo, distância ou calorias, e o relógio avisa quando você cumpriu a meta. E, ao terminar o treino, o relógio sincroniza automaticamente com o celular (desde que tenha internet). É entretenimento puro, tudo muito legal, se não fosse por um “detalhe”: as informações do “relógio inteligente” são burras. Fiz o teste em uma pista de atletismo de 400m: em um pulso, o Apple Watch, e no outro, o Garmin 620. A diferença foi enorme! O Garmin marcou corretamente os 400m, e o Apple marcou 500m, ou seja, cem a mais. E foram semanas com o mesmo erro, o que “descalibrou” as informações. Além disso, em treinos de velocidade o relógio não é ágil, enquanto nos treinos de natação ele não pode entrar na piscina (é apenas resistente à água). Sou mais meu bom e velho Timex, só com cronômetro!

Que a Apple é um sucesso, todo mundo sabe. Mas se o relógio seguirá o mesmo caminho, ainda é cedo para dizer. Segundo os últimos relatórios da Slice (a própria Apple não divulga esses números), as vendas estão caindo mais rápido que os amadores nos quilômetros finais da Maratona de Nova York.