Eugene, a cidade do atletismo

Eugene, Oregon, costa oeste dos Estados Unidos. Segunda cidade mais populosa do estado depois de Portland, ela não se mostra logo de cara. Sua verdadeira estrela é a Universidade do Oregon, lar dos “Ducks“, nome pelo qual seus integrantes são conhecidos e deriva do mascote da universidade, o Pato Donald. O lema da escola é “Go, Ducks” e a figura do pato é onipresente na cidade. Em alguns lugares, você vê até mesmo patinhas desenhadas na calçada. O negócio é sério e ao mesmo tempo, bem divertido!

Eu sempre quis conhecer a universidade, especialmente, seu estádio de atletismo, o histórico Hayward’s Field. Construído em 1919, especialmente para abrigar o time de futebol da universidade, ele foi revelando, pouco a pouco, sua alma e sua verdadeira vocação: ser um celeiro de excelência, principalmente para corredores. E, graças a um certo Bill Bowerman, treinador da universidade de 1948 a 1973- e a um de seus comandados, Phil Knight – nasceu o que é hoje a marca mais poderosa do esporte mundial: a antiga Blue Ribbon Sports. Hoje, 11 entre 10 esportistas a conhecem como Nike.

Bowerman foi um inovador em todos os sentidos. Após visita à Nova Zelândia, inspirado pelo treinador Arthur Lydiard, implantou um programa de corrida aberto ao público na universidade e que foi a semente da popularização do esporte entre os não atletas, nos Estados Unidos. E, se faltava alguma coisa para a atividade bombar, isso aconteceu com a vitória de Frank Shorter na maratona dos jogos olímpicos de 1972. Nascia o primeiro grande boom da corrida no país, apoiado também pelos estudos de Kenneth Cooper. Lembram da expressão, “vou fazer um cooper”? Pois é.

Treinador de muitos atletas, inclusive de nível olímpico, ele implementou o treinamento em altitude para os atletas de pista, antes das olimpíadas de Munique, em 1972. Entre seus atletas do período, um cara se destacava: Steve Prefontaine. Natural de uma pequena cidade costeira do Oregon, Pre -como era chamado – se notabilizava por correr sempre na frente, desprezando as táticas tradicionais de fundo e meio-fundo. Como ele mesmo dizia, corria com o coração. Pulverizou a maioria dos recordes americanos desde a escola secundária e era a grande esperança americana nos 5.000m em Munique. Terminou em quarto lugar. Em maio de 1975, quando estava se preparando para as olimpíadas de Montreal, no ano seguinte, se acidentou ao sair de uma festa e, preso em seu carro, acabou falecendo no local. Virou mito.

Pre foi o primeiro atleta patrocinado pela Nike e é hoje uma figura lendária, um ícone cultural, tanto em Eugene e na Universidade do Oregon, quanto para a Nike que, em sua sede na vizinha Beaverton, tem um prédio dedicado a sua memória, o Steve Prefontaine Hall. Treinando sob a batuta de Bowerman, foi um dos primeiros a experimentar o famoso solado preto tratorado, desenvolvido pelo técnico… numa máquina de waffle! Ainda hoje, em algumas edições retrô da marca, podemos ver o solado como ele foi inicialmente concebido.

E o que fui fazer por lá? Bem, depois de muita pesquisa, descobri que a a universidade oferece um tour de corrida. Na verdade, o objetivo principal é apresentar o campus e seus arredores aos interessados em ingressar como alunos. Troquei alguns e-mails com um dos embaixadores da universidade, o Hayden, e ele me disse que poderíamos participar, sem problemas, era só chegar! Foi a senha. O evento acontece sempre na primeira sexta-feira de cada mês e você deve reservar com antecedência.

Saímos do Ford Alumni Center, um prédio bacanérrimo que é usado pelos alunos para várias atividades, incluindo a recepção de novos estudantes e eventos como o tour de corrida. Preenchemos um formulário com algumas informações básicas e pronto! Conduzidos pelo Hayden (outro Hayden!) e escoltados pelo Austin, éramos nove pessoas no total. Atravessamos o rio, entramos em um parque depois do outro, em altas trilhas, até chegarmos a que foi batizada como “Pre’s Trail”. Não, não é exatamente ou exclusivamente onde Steve treinava, mas a energia é incrível. Ao longo de todo o percurso, Hayden nos dava várias informações sobre a universidade, suas instalações e seu passado histórico. Aliás, faltou dizer: antes de sairmos, houve um leve briefing e pudemos ver, ali mesmo no saguão, a máquina de waffle original usada por Bowerman. Ela mesmo!

Ao final do treino, o momento mais especial: entramos no sagrado Hayward’s Field e pudemos correr uma volta na pista e tirar fotos. O lugar é tão bem cuidado e tratado com tanta deferência que nem os atletas de outros esportes podem usá-lo. O fato do pessoal do tour fazê-lo já gerou até polêmica, dentro e fora da universidade. De qualquer forma, com todo o respeito pelo local, demos nossa volta e foi possível imaginar tudo o que já se passou nessa pista. E o que ainda vai acontecer. Grandes meetings, como a Prefontaine Classic, seletivas olímpicas (2016 tem!) e por aí vai. O dia estava lindo e foi emocionante. Ao final do tour, os simpaticíssimos embaixadores ainda nos deram brindes. Sacola ecológica, garrafa térmica da universidade e uma meia de corrida. Adivinhem de qual marca?