Brincadeira de criança

Por: Marcos Paulo Reis

A relação do Pedro com o esporte começou cedo, aos 3 anos de idade. Como eu tinha me separado da mãe dele e ele morava com ela, o garoto ia comigo a todas as provas de triatlo. Eu viajava o mundo como técnico da seleção e ele era meu “assistente oficial”. Era minha maneira de estar com ele e de apresentá-lo ao esporte – coisa de pai querendo ver o filho se tornar um grande atleta. E foi aí que cometi meu maior erro: obrigá-lo a nadar.

Lembro como se fosse hoje porque aquele dia me marcou muito. Nós dois dentro do carro, na porta do clube, e ele olha bem nos meus olhos e diz: “Eu não quero entrar, pai”. Aquilo me doeu. Ele devia ter uns 10 anos, e aquele foi o jeito dele me dizer: “eu

não quero nadar, eu nunca quis”. Depois ele tentou o tênis, chegou até a jogar pela Federação, mas também parou. O Pedro parecia ter enjoado dos esportes, e decidi tirar o time de campo. Sedentário, ele começou a engordar e ficou bem acima do peso.

Até que um belo dia resolvi levá-lo para a Disney, mas não a passeio. Decidi que ele correria a meia maratona comigo. “Detalhe”: ele não corria. Maluquice total, pois isso contraria o bom senso e todas as minhas orientações como treinador. Ele devia ter uns 15 ou 16 anos. No meio da prova, ele veio com um “Putz, acho que aquele gel não caiu bem, vou vomitar”. E eu para ele: “Ah, moleque, não vem me dar trabalho agora não”. Resultado: ele vomitou, ficou zerado – melhor que eu! –, seguiu em frente e ainda inventou de dar um sprint na reta final, perto do Epcot. Na chegada, nós abraçamos, choramos muito, gargalhamos. Foi uma experiência única, extremamente gratificante. E me ensinou muito.

Aprendi que não temos o direito de colocar nossas frustrações esportivas em cima dos nossos filhos, de colocar no ombro deles o peso de satisfazer nossas ambições. Muito mais importante que impor uma modalidade é colocar seu filho em contato com várias

e deixar que ele escolha o caminho. E se eu pudesse dar um conselho, seria este: na infância, esportes coletivos. Eles são fundamentais na formação das crianças entre 6 e 12 anos. Nadar é excelente, correr também. Mas, nessa fase, não há nada como uma boa pelada com os amigos. É ali que ele divide a bola, comemora o gol junto, aceita

a derrota e vibra com as conquistas em equipe. Aprende muito sobre convívio

social, sobre a vida.

Hoje, aos 22 anos, meu filho está de namoro com o triatlo e já fez duas vezes o Meio Ironman. Treina com algum técnico da MPR. Ele não me ouve muito, deve ser chato ser meu filho, né? Com minha filha caçula, a Marina, já fiz diferente: nunca a obriguei a nada e ela sempre foi muito ativa. Ela tem 10 anos e corre, nada, brinca de pique, joga futebol. Aprendi e aprendo diariamente com eles, e fico feliz com isso. E fico feliz por, entre acertos e tropeços, ter cumprido a meta maior: deixar os dois longe das drogas e perto do esporte.