Muito além do chip

Por Rodrigo Gerhardt/ECP, OMEGA

POUCOS LUGARES no mundo serão tão monitorados quanto o Estádio Olímpico durante os Jogos do Rio, onde acontecerá a maior parte das provas do atletismo. Cada movimento dos atletas será cuidadosamente acompanhado pelo batalhão de árbitros e também por um extenso aparato tecnológico.

Menores, mais sensíveis e precisos, os equipamentos são os responsáveis por fornecer todos os dados, em tempo real, sobre o desempenho dos atletas. No caso das corridas, eles já são capazes de precisar o tempo em até um centésimo de milésimo de

segundo, ou seja, em seis dígitos, embora as federações esportivas divulguem o tempo apenas em até três dígitos.

Do uso da primeira câmera em uma Olimpíada, em 1948, para as câmeras que registram 2.000 frames por segundo, como a usada em Londres, em 2012, nada mais escapa das lentes e sensores – hoje um suporte fundamental ao trabalho da arbitragem. Se nos 100m ou 400m com barreira, por exemplo, um atleta passar a perna ao lado da barreira, ao invés de por cima, ele pode ser desclassificado. Imagine olhar oito corredores ao mesmo tempo?

“No Estádio Olímpico, teremos um conjunto de câmeras para acompanhar as provas de pista e detectar qualquer infração que não seja percebida pelos árbitros. A sala de controle também receberá todas as imagens de transmissão das televisões que estão cobrindo a prova”, conta o superintendente técnico da Confederação Brasileira de Atletismo, Martinho Nobre dos Santos.

A partir de câmeras instaladas na arquibancada, será também a primeira vez que o Brasil fará a medição do salto em distância e salto triplo por vídeo. “Ninguém entrará na caixa de areia para medir”, diz Martinho. Um dos pontos críticos ainda é no lançamento de dardo. “A ponta de aço deve tocar primeiro o solo. Às vezes ela cai lateralmente. Está em estudo uma câmera que monitore isso.”

OS HOMENS ATRÁS DAS MÁQUINAS

Qualquer tecnologia só pode ser usada se estiver homologada pela IAAF.E para complementar seu uso, o lado humano será representado por 220 árbitros brasileiros e 30 internacionais nas competições de atletismo. Em cada prova, a equipe de arbitragem pode ter mais de 30 profissionais. São chefes, coordenadores e assistentes para cada função específica: verificadores, cronometragem, controle de percurso, inspetores de pista, árbitro da largada etc.

“Dizemos que o bom árbitro é aquele que você não vê, que deixa a área livre para o atleta”, diz Ubiratan Martins Júnior, que será coordenador de pista nos Jogos Olímpicos do Rio. Ele é um dos seis no mundo – o único na América do Sul – habilitado pela IAAF a dar o tiro de largada nas provas olímpicas. Além de apertar o gatilho da pistola, ele precisa ficar atento a qualquer queimada na largada.

Uma saída falsa, como é chamada tecnicamente, acontece com menos de um décimo de segundo, o tempo necessário para um ser humano reagir ao tiro de partida. “Isso é impossível de ser percebido pelo olho humano. Assim, mesmo que o árbitro não note, ela pode ser revelada pelo aparelho, que tem a palavra final”, diz Ubiratan.

CONHEÇA ALGUMAS TECNOLOGIAS BLOCO DE PARTIDA

Adotado pela primeira vez nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, nas provas de até 400m, inclusive revezamentos, para detectar possíveis saídas falsas dos atletas. Cada um deve se posicionar em cinco apoios: os dois pés no bloco, mãos e um dos joelhos no chão. O bloco é capaz de detectar a mínima pressão do calcanhar ou movimento do atleta, pois o tiro só é dado quando todos estão imóveis. Em caso de uma saída falsa, o árbitro é alertado por um bip em seu fone de ouvido. Já nas provas de pista a partir de 800m, a saída é controlada no olho.


CÉLULAS FOTOELÉTRICAS

Elas substituem os tapetes de cronometragem, marcando os tempos intermediários dos atletas a cada 100m. Já para as provas de meio fundo, são usados chips presos no número de peito. Nos Jogos do Rio, será usada uma nova tecnologia, em que esses sensores ficarão sob o piso da pista.

PISTOLA DE PARTIDA

Um sensor no cano da arma dispara o cronômetro e o sistema de câmeras na linha de chegada. Na última Olimpíada ela foi substituída pela e-gun, eletrônica, com transmissão por wi-fi.

ANTENAS E TAPETES DE CRONOMETRAGEM

São usados para marcar os tempos intermediários na marcha e na maratona. No Rio, além da marcação a cada 5 km, haverá também em milhas.

ANEMÔMETRO

Instalado a 50m da chegada da pista, mede a velocidade do vento nas provas de velocidade e de saltos em distância e triplo.

TEODOLITO

Mede as distâncias e é usado nas provas de lançamento, substituindo as trenas. Em caso de recorde, no entanto, a regra obriga a verificação com trena de aço.


PHOTO FINISH

A primeira Olimpíada a usar a câmera fotográfica para registrar a chegada foi a de Londres, em 1948. Desde então, sua evolução foi

contínua. Mesmo as provas longas, como a maratona e a marcha atlética, contarão com o photo finish nachegada.