Assimetria corporal prejudica corrida: como identificar e corrigir

Será que você tem? Veja como descobrir, melhorar o desempenho e evitar lesões.

Créditos: mr. teerapon tiuekhom/shutterstock

Trabalhar mais alguns grupos musculares que outros quando corre é normal e pode ter a ver com a assimetria corporal. Entenda mais.

Por Ashley Mateo

Você já deve ter ouvido falar em simetria: um princípio matemático que denota igualdade entre dois lados, como as asas da borboleta, um floco de neve, seu rosto.

Algum professor deve ter te ensinado isso anos atrás, e, provavelmente, você não pensou mais sobre o assunto. Mas deveria, sobretudo quando o assunto for corrida.

Isso porque um corpo assimétrico pode causar lesões ou até impedi-lo de conquistar seu novo recorde pessoal.

“Avaliar e trabalhar a simetria é uma das principais dicas que dou tanto aos corredores iniciantes como aos veteranos”, conta Michael Johnson, velocista norte-americano com quatro medalhas de ouro em Jogos Olímpicos e criador dos programas de treinamento Michael Johnson Performance.

“Ela pode nos dar eficiência, que é muito importante tanto para velocistas como para fundistas. Quanto mais eficiência temos ao correr, mais rapidamente conseguimos percorrer uma distância. Assim, ficamos menos cansados, pois eliminamos ou minimizamos movimentos desnecessários.”

Quando corremos, o corpo se movimenta em três planos, conforme explica David Reavy, fisioterapeuta norte-americano especializado em ortopedia.

“Nós nos movimentamos para frente e para trás no plano sagital, e o corpo também faz rotação, que é um movimento no plano transverso”, diz ele.

“Enquanto isso, os pés se movimentam no plano frontal.” Em um corpo simétrico, os músculos atuam de forma coordenada, como uma unidade, esclarece David.

Mas é claro que ninguém nunca será perfeitamente simétrico porque, veja bem, não somos robôs. Mesmo Usain Bolt, o maior velocista de todos os tempos, foi manchete no início do ano devido à sua marcha assimétrica.

Ainda assim, segundo Lance Walker, diretor global de desempenho na Michael Johnson Performance, “de todos os atletas com os quais trabalhamos, os corredores são os que têm mais potencial para se beneficiar com a simetria, em termos de desempenho e prevenção de lesões”.

Então, resumindo: se você conseguir identificar e corrigir suas assimetrias, vai ter acesso a um grande potencial de corrida.

Importância da simetria do corpo

No fim das contas, o que todo corredor quer é correr melhor e evitar lesões. E a simetria – ou sua ausência – tem um papel crucial nesses dois aspectos.

“Se um corredor é assimétrico, uma parte do corpo pode ter que trabalhar mais que a outra para compensar essa fraqueza. Isso não significa que ele esteja definitivamente fadado a sofrer uma lesão, mas a probabilidade de isso acontecer aumenta”, explica Joe Holder, técnico e treinador no Nike+ Run Club.

“Os corredores têm uma das maiores incidências de lesões, e muito disso tem a ver com não resolver desequilíbrios musculares adequadamente”.

Se pensarmos, por exemplo, em um corredor cujos quadríceps sejam dominantes, isso significa que ele usa muito esse grupo muscular para conseguir força.

Se ele trabalha constantemente esses músculos – em vez de recrutar igualmente os demais, ou seja, os glúteos e os músculos posteriores da coxa –, há uma probabilidade de ele acabar tendo estiramento dos quadríceps, síndrome do trato iliotibial ou dor no joelho, segundo David.

Mesmo que os desequilíbrios não se manifestem como lesões, isso não significa que eles não estejam impedindo sua evolução.

Imagine um corredor cujo ritmo seja 5 min/km e que tenha uma assimetria nos músculos flexores do quadril. Essa assimetria poderia fazer com que seus glúteos quase não fossem acionados.

E, segundo David, o corredor não progride porque não consegue tirar mais força dos glúteos.

“Quando mais músculos são colocados para trabalhar, não nos cansamos tão rapidamente, pois o corpo todo absorve o impacto, o que já não ocorre quando o jogamos em uma única região”, complementa.

Qual é o truque então? Identificar precisamente as áreas de ineficiência.

Assimetria no corpo

Como descobrir

“As assimetrias tendem a ser descoberta em circunstâncias nada favoráveis como, por exemplo, quando estamos correndo uma maratona ou nos treinos de velocidade”, comenta Lance.

Mas se você esperar até uma prova para identificá-las e tentar corrigi-las, vai ser tarde demais. “Se você não tiver programado seu treino para que o elo mais fraco não se rompa em condições extremas, vai acabar tendo se preparado para fracassar”, observa Lance.

“Despejar um volume maior, ou quilômetros, sobre o corpo sem fazer o mesmo em termos de força, estabilidade, mobilidade, flexibilidade e equilíbrio significa que as assimetrias só vão aparecer no pior momento possível, levando a um desempenho abaixo do ideal.”

Presença de dor

A dor é o principal sinal de que há um desequilíbrio, entretanto ela pode não estar onde você imagina.

“Em 80% das vezes que sentimos uma lesão, a dor é referida, ou seja, ela é sentida em um local diferente do ponto de origem real”, explica a treinadora norte-americana Kira Stokes. “Por isso, dê atenção especial à dor ou rigidez em um lado só, pois essa é uma clara indicação”.

A pelve é o principal exemplo. “O quadril e o pé dependem da pelve, e o joelho depende do quadril e do pé”. Então, se você tiver dor no joelho, a principal causa pode ser um desequilíbrio na pelve, esclarece David.

Preste atenção

Prestar mais atenção ao seu corpo durante a musculação pode ajudar a identificar exatamente onde estão os problemas.

“Se estiver fazendo um exercício específico para os glúteos, você os sente trabalhando? Há músculos primários e secundários que iniciam movimentos. Agora, se você estiver fazendo agachamento corretamente, os glúteos devem receber a carga primária”, explica David. “Isso é algo que sentimos claramente.”

Tire fotos e vídeos

O celular também pode ser uma ferramenta útil: peça para alguém tirar fotos e filmar você no início, no meio e no fim de uma corrida.

“Analise o material e faça as seguintes perguntas: O que acontece com meus joelhos quando aterrisso? Eles se movem para dentro ou para fora? Até que altura eu elevo a perna? Meus braços estão se cruzando em frente ao meu corpo? Todos esses elementos podem indicar se seu corpo está desalinhado”, explica Kira.

Teste da pisada

Nos Estados Unidos, já existe uma tecnologia que pode ser usada na palmilha do tênis que indica quão assimétrica é a pisada.

Os atletas do Michael Johnson Performance usam o RPM2 (que custa US$ 499, ou seja, mais de R$ 1.600), um dispositivo de medida colocado na palmilha que fornece dados relacionados a deficiências na pisada, amplitude de movimentos, força e energia.

E Lance acredita que vem pela frente mais tecnologia para promoção da simetria. “Agora, nós só medimos, de fato, o tempo, a distância e a frequência cardíaca”, afirma ele.

“Mas quando dirigimos um carro, verificamos não só o quanto ele rodou, com que velocidade e quanto combustível consumiu. Mas também damos uma olhada na pressão do pneu. Analisar a simetria nos dá uma ideia mais clara e abrangente do que está acontecendo”.

Como corrigir 

Não há um único remédio para a assimetria. Assim como a pisada de cada corredor é diferente, os desequilíbrios se apresentam de maneiras particulares.

“O jeito é conhecer o próprio corpo e pedir a pessoas em quem você confia para observá-lo de forma objetiva e quantificável, para que elas possam ajudar a identificar onde você pode melhorar”, afirma Lance.

Primeiro, marque um horário com um médico do esporte ou um fisioterapeuta com sólida experiência em terapia manual.

“Isso significa que ele foi treinado para identificar desequilíbrios musculares e esqueléticos, e muitos oferecem avaliações gratuitas”, afirma David.

“Eles são capacitados para dizer como é o seu alinhamento, avaliar sua flexibilidade e indicar quais músculos estão e quais não estão sendo acionados.”

A partir disso, o fisioterapeuta pode indicar exercícios que sejam adequados para melhorar pontos de fraqueza específicos.

Porém, de modo geral, a recomendação é que corredores incluam microciclos de musculação unilateral (como agachamento e ponte para os glúteos com um apoio).

Além disso, incluir exercícios que trabalhem vários planos de movimento de uma só vez para garantir que o corpo seja igualmente desafiado.

ATENÇÃO: A versão completo do conteúdo acima pode ser conferida na versão online, assinando a revista ou baixando a versão digital paga pelo app no seu celular (ed. de março de 2018).

Para correr melhor

+ Quer evitar lesões na corrida? Aprenda como
+ 5 dicas de postura para correr mais rápido