Boston, Sportlight

Sérgio Xavier Filho conta como foi correr a Maratona de Boston

Sérgio Xavier Filho e sua medalha da Maratona de Boston de 2017.

Por Sérgio Xavier Filho

Foram oito anos tentando uma inscrição. Não basta querer correr Boston, é preciso um índice. E para conseguir o índice na faixa etária, ou se nasce abençoado pela genética ou é preciso ralar. Entrei na segunda categoria. Consegui completar uma maratona em 3h26 minutos em 2015, dois minutos de folga para corredores na faixa de 50 anos. Presentão. O dia de abrir o pacote era hoje, 17 de abril de 2017.

Boston é maravilhosa, maravilhosamente dura. Inclemente. Mente quem diz que a primeira parte é de descida e só depois que o bicho pega. No final do primeiro km já tem subida. E descidas pra maltratar a musculatura. O tempo todo. Quase nada de plano de verdade. Nunca vi tanta gente incentivando. Nem NY, nem Chicago, nem Berlim. Em Boston é o local, o morador da casa da frente, que disponibiliza laranjas cortadas em gomos. Ele não se conforma enquanto não souber que seu incentivo mexeu com o corredor. 

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Nunca tinha acontecido isso, me emocionei nos primeiros quilômetros. Não foi por mim, mas por eles. Quem são essas pessoas que sem me conhecer me tratam desse jeito? Não existe a Maratona de Boston. Existe a maratona da região de Boston. Larga em Hopkinton, passa por seis cidadezinhas e só nos últimos 6 quilômetros chega ao centro de Boston. São 121 anos nessa toada. Poucos são os privilegiados. Fui um desses. A quem eu agradeço?

Ah, não falei da minha corrida. Ela foi menor do que tudo isso que escrevi antes. Sofri a valer. Estava quente, mais de 20 graus, terminei branco de sal. Não consegui fazer a reposição correta, enjoei. Tentei fazer uma prova de 3h40, já desisti na metade do caminho. Muito tapinha na mão dos molequinhos que torciam, dei até um beijo na face de uma das mocinhas no colégio Wellesley. É uma tradição, há décadas elas berram pedindo beijos. Quer dizer, mudam as garotas, claro. Nunca faço isso. Boston também pedia atitudes diferentes. As pernas fraquejaram depois. Doeram as costas, a nuca, o joelho. Caminhei, parei para gravar vídeos, tudo diferente. Maravilhosamente diferente. A quem eu agradeço mesmo?