Com rara doença no fígado, corredora de 14 anos mira Olimpíadas

Camile Napier conta com recorde mundial na sua idade e costuma largar na frente de atletas mais experientes

Foto: Buff Strickland

Por Kit Fox

Quando é dada a largada, Camile Napier, corredora norte-americana de apenas 14 anos, costuma tomar um lugar à frente dos demais – normalmente muito mais altos e fortes que ela – estabelecendo um pace forte e dolorido desde o início. Eles normalmente não a alcançam.

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Camile é um fenômeno desde que começou a correr aos 9 anos de idade. Em dezembro de 2016, ela quebrou o recorde mundial sub-13 nos 8 km. Na cidade onde mora, no Texas, ela bate o tempo de corredores adultos. “A maioria das pessoas dá o gás no fim, mas eu gosto de dar o gás desde o começo”, diz a jovem atleta.

Em parte, essa atitude é porque ela sabe que, em breve, será cada vez mais difícil correr uma prova. Por conta de uma doença rara, seu fígado irá falhar algum dia.

Antes de completar um ano de idade, o fígado de Camile não tinha condições de processar gorduras e toxinas, fazendo com que quase tudo que ela ingerisse fosse tóxico para seu corpo. Na época, ela realizou o único procedimento conhecido pela medicina para tratar esta condição. A operação retomou provisoriamente as funções do órgão, mas de maneira temporária: eventualmente, o fígado desenvolverá cirrose e vai parar de funcionar.

Isto significa que em algum momento – provavelmente antes de chegar à idade adulta – ela precisará de um transplante de fígado. Uma operação como essa, mesmo se tiver sucesso, deve atrasar seu progresso na corrida.

“Nós não ficamos discutindo isso. Quando acontecer, vai acontecer”, diz Jeff Napier, pai de Camile. “Eu acho que correr ajudou ela a manter seu fígado natural até agora. Não consigo imaginá-la sem ser uma corredora”. Sua mãe, Jules, acredita que é a própria condição que a tornou uma atleta tão forte: “Desde que é um bebê, ela sempre conheceu a dor”.

Ao invés de focar em quando vai precisar de um novo fígado, Camile tem outros planos em mente para o futuro: “Quero chegar nas Olimpíadas”, diz. “Todas as vezes que estou na linha de largada, eu penso: ‘eu já fiz isso antes, e posso fazer mais uma vez’.