Corrida ajuda jovem a vencer a anorexia

Por Daniela Fescina

vencer a anorexia
Foto: Diego Cagnato

Uma pesquisa realizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo constatou que 77% dos jovens da cidade apresentam propensão a desenvolver algum tipo de distúrbio alimentar, como anorexia e bulimia. E como vencer a anorexia?

Das meninas de 10 a 24 anos entrevistadas, 85% acreditam que existe um padrão de beleza imposto pela sociedade e metade afirmou que “mulheres magras são mais felizes”.

Uma pesquisa realizada pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo constatou que 77% dos jovens da cidade apresentam propensão a desenvolver algum tipo de distúrbio alimentar, como anorexia e bulimia.

Das meninas de 10 a 24 anos entrevistadas, 85% acreditam que existe um padrão de beleza imposto pela sociedade e metade afirmou que “mulheres magras são mais felizes”.

A anorexia é a doença mental que mais mata no mundo. Todos os dias meninas e mulheres se deparam com a obrigação de serem magras para se sentirem aceitas. Os corpos perfeitos estampam revistas e outdoors e povoam fotos no Instagram. Amar-se acima do peso, mesmo sendo saudável e praticando exercícios, é um desafio.

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A paulistana Ingrid Polini, de 22 anos, é uma das mulheres das estatísticas. Ela jogou futebol durante grande parte da infância e da adolescência, mas, aos 20 anos, interrompeu as atividades por causa de um erro médico que apontou problemas em seu joelho. “Como eu não comia bem e parei de praticar exercícios, só fui ganhando peso exponencialmente, e com isso vieram doenças crônicas, como gastrite e enxaqueca. Desenvolvi compulsão alimentar como uma forma de ‘controlar’ a ansiedade”, conta.

Para vencer a anorexia

Hoje Ingrid percebe que no primeiro semestre de 2015 já lidava com a anorexia. Ela fazia de tudo para esconder o problema e se pesava, escondida, três vezes por dia. “Virou uma obsessão. Os números da balança definiam meu humor: se eu tivesse ganhado ou perdido 100g, já fazia uma enorme diferença no meu estado de espírito. O maior prejuízo que a doença me trouxe foi deteriorar ainda mais minha saúde, principalmente a imunidade.”

No meio desse furacão, Ingrid deu um tiro no escuro, mas acabou acertando o alvo. Para perder peso, decidiu começar a correr. Só que para correr, ela precisava comer. No começo não aguentava fazer um percurso de 400m, mas, motivada pela sensação de bem-estar que a corrida proporciona, ganhou condicionamento. “Comecei a comer melhor antes e depois do treino. Fazia desafios de correr 3 km, depois 5 km. E conseguia cumprir, mesmo que boa parte fosse andando. Aquilo se tornou um vício saudável.”

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Ingrid começou a correr em 2015: na academia e então na rua. Poucos meses depois, fez a sua primeira prova, os 5 km do Circuito das Estações, em 33 minutos. Foi aumentando o volume de treino e mudando as suas metas, até que encarou a sua primeira ultramaratona este ano, a Rei e Rainha de Minas, com 56 km. Ela conseguiu concluir o desafio em 9h55, sabendo onde errou e ainda querendo mais.

A menina que antes se pesava três vezes por dia e sempre se sentia culpada passou a desenvolver uma nova relação com o seu corpo, mesmo que ainda não fosse a de melhores amigos.

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Foto: Diego Cagnato

A grande mudança

Mas hoje, em vez de duas pernas correndo, são quatro pernas e mais quatro patas. No meio do caminho para vencer a anorexia, surgiram Fiona, cadela vira-latas, e o namorado Leonardo Fachetti. “Quando peguei a Fiona, foi apenas para ser lar temporário, mas eu não consegui doar ela. Foi amor à primeira vista. Ela era a minha maior companhia em uma época que eu estava me sentindo muito sozinha.” Já o namorado, Ingrid conheceu se preparando para uma prova de revezamento.

Hoje os três moram e treinam juntos. “Um dia estava passeando com a Fiona e comecei a correr para ver se gastava a energia dela. Acabou gastando a minha, e ela continuava doidinha para correr de novo”, diverte-se. 

Ingrid corre cinco dias por semana e faz fortalecimento nos outros dois. “A minha distância preferida agora está entre os 42 e 60 km na montanha. É um intervalo que ainda está exigindo muito da minha cabeça e que me motiva bastante a treinar.”

Mesmo com objetivos diferentes na corrida – ela busca distância, e ele, velocidade –, ambos têm em comum, além da Fiona, a vontade de serem cada vez melhores.

A relação com o corpo, Ingrid admite, ainda não é perfeita, mas ela também já está aprendendo que a busca constante pela perfeição não é nada saudável. “É muito difícil para quem saiu de um transtorno alimentar não ter altos e baixos. Posso dizer que hoje meu peso não me controla, e que busco um corpo mais forte para correr. Mas eu não me peso mais, por exemplo. Só quando vou à nutricionista, porque sei que isso é um gatilho muito forte para mim. Não é um processo fácil, mas aos poucos a gente vai aprendendo
a se amar do jeito que é.”

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