Como Alyne Xavier superou a morte do irmão com a corrida

Conheça a história emocionante da corredora amadora

Créditos: Diego Cagnato

A corrida começou como uma terapia para Alyne Xavier superar a morte do irmão, mas hoje é o que dá cor e equilíbrio à sua vida

 Por Patricia Beloni

“Meu irmão tinha aquela vontade de viver mesmo doente. Ele lutava para viver e a gente não dava valor à vida. Percebi, então, que eu estava errada. Queria fazer alguma coisa para me sentir viva.”

Foi exatamente esse sentimento que guiou Alyne Xavier até a corrida. Assim, o esporte se tornou uma terapia para encontrar conforto e superar a partida do irmão mais velho, vítima do câncer aos 21 anos.

Allan descobriu a doença em 2007 e enfrentou cerca de dez cirurgias, fora a quimioterapia. “Foram dois anos de luta. Ele faleceu em 2009, e nós éramos muito grudados. Eu fiquei muito deprimida. Só queria dormir”, conta Alyne.

No ano seguinte, ela procurou um psicólogo. Iniciou sessões de terapia para tentar lidar melhor com a perda e também entrou para a academia. “Eu tinha muito fé. Cheguei a tomar remédio, mas parei. E aí fui orientada a fazer alguma atividade física.”

A mineira de 28 anos, natural de Piumhi, próximo da Serra da Canastra, começou a praticar atividade física com a boa e velha musculação. Mas foi só com a corrida, há cinco anos, que encontrou uma nova forma de enxergar a vida.

E foi durante a sua primeira prova, na Corrida Eu Atleta 10k Belo Horizonte, em 2015, que tudo fez mais sentido.

No limite do seu corpo, ela conseguiu se superar e alcançar a linha de chegada. Foi quando sentiu a presença de Allan e dedicou os seus primeiros 10 km oficiais ao irmão.

Lutar sempre, desistir jamais

Prestativo, carinhoso, Allan era muito próximo de Alyne. “Ele tinha muito zelo por mim. Era medroso, não gostava de dormir sozinho, mas era muito forte. Chorou só uma vez na vida, quando já estava no estágio final da doença”, conta a corredora.

Além disso, ele raramente se deixava abater. “Para tudo o que queria, ele dava um jeito. Tudo era para ontem. E mesmo depois da doença ele continuou assim”, revela.

E não é à toa que o lema de vida do irmão segue com Alyne até hoje e dá forças para que ela siga em frente.

“Lutar sempre, vencer talvez, desistir jamais. Ele sempre falava isso. E lutou muito. Porque sabia que o negócio estava difícil, tinha resultado positivo para a doença, mas não desistiu.” E foi na corrida que ela tirou a força de que precisava para continuar a vida sem ele.

Corrida como terapia

Créditos: Arquivo Pessoal

Quase dez anos depois da morte de Allan, a corrida ganhou outro significado para Alyne. “Correr hoje para mim é vida. Eu sei escutar e respeitar meu corpo. Dou mais valor à minha saúde”, diz.

Ela corre quatro vezes por semana, por volta de 1h, cerca de 10 km. Já aos sábados, chega a 14 km. Mas tempo e distância não são seu foco.

“Sou corredora porque gosto de sentir a corrida. Não quero competição nem ficar me preocupando em diminuir meu tempo e aumentar a quilometragem.”

Ela se preocupa mesmo é com o bem-estar. Dessa forma, corre no meio da cidade, nas calçadas, nas ruas. Acorda às 6h para iniciar a prática e faz com prazer. “É gostoso ver as pessoas. A cada dia você nota uma coisa diferente.”

E, apesar de não fazer acompanhamento com um profissional, ela nunca se lesionou. “Se eu não estou legal e meu corpo não quer correr, eu não vou”, explica. Mas não abre mão da prática de jeito nenhum.

“Comecei a correr e vi o tanto que é bom. É aquela coisa, o corpo fica cansado, mas descansado ao mesmo tempo. É muito ruim quando eu não corro. Parece que tem algo faltando.”

Motivação para continuar

No começo, ela caminhava em alguns trechos e corria em outros. “Não foi fácil, tive vontade de parar. Principalmente porque a respiração era difícil de controlar”, confessa.

Corria bem pouco comparado a hoje. Com o tempo, passou a aumentar as distâncias e a melhorar o ritmo.

Além de correr, Alyne mudou a dieta. Ela fez uma promessa e parou de ingerir doces. Açúcar, só o natural das frutas. Quando bate aquele desejo por doce, come uma banana cozida com canela.

Então, de nove meses para cá, emagreceu 9 kg, indo de 64 kg para 55 kg. “Agora tenho mais disposição e muito mais ânimo que antes. Está me ajudando na corrida também”, revela.

E o que motiva Alyne nos treinos? A música. Ela sempre corre de fone de ouvido com axé e pop a todo vapor. Mas quando passa perto de pássaros e praças, não hesita em tirar o fone de ouvido para escutar o barulho da natureza.

“E é legal que você estimule as outras pessoas. Ninguém corria na cidade. Hoje está cheia de corredores.” Com a corrida, passou a valorizar mais a vida e os detalhes que não dava importância.

“É importante as pessoas encontrarem algo que dê a elas motivação. Um esporte que faça a pessoa sentir o quanto é necessário dar valor à vida, desfrutar da saúde. Por tudo o que meu irmão passou, eu dou muito valor para tudo.”

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