Corrida e sustentabilidade: como minimizar os impactos das ações cotidianas no meio ambiente

Por João Ortega, da Runner's World Brasil

corrida e sustentabilidade
Ilustração: Vinicius Capioti/Runner's World Brasil

A quantidade de provas de corrida de rua no Brasil só vem aumentando na última década. Esse fato deve ser comemorado, mas também há ressalvas. Enquanto a prática esportiva combate o sedentarismo e traz saúde aos seus adeptos, o uso do espaço público para grandes eventos requer responsabilidade. Como, por exemplo, o respeito com o meio ambiente – desde o lixo jogado no percurso até a emissão de gases que causam o efeito estufa. Mas será possível aliar corrida e sustentabilidade?

Sim. E está se tornando cada vez mais comum a presença de provas que têm a sustentabilidade como um dos seus focos principais. Esses eventos buscam educar os participantes sobre a importância de não deixar “pegadas”, ou seja, minimizar os impactos das ações cotidianas no meio ambiente. Em um futuro próximo, o ideal é que essa premissa esteja enraizada em todo evento esportivo, bem como na cabeça de qualquer corredor do país.

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Corrida e sustentabilidade

Evento neutro

Quando se fala em sustentabilidade na corrida, o que logo vem à cabeça são as embalagens plásticas deixadas nas vias – o copinho descartável, o pacote do suplemento, a garrafinha de isotônico. Segundo Aline da Rocha, responsável pelo marketing da consultoria em sustentabilidade Eccaplan, pensar em um evento ecologicamente responsável vai muito além disso. “Para qualquer evento, você precisa mobilizar uma estrutura e pessoas. Você utiliza energia, traz uma equipe de pessoas, equipamentos. Todas essas atividades vão impactar o meio ambiente, e é possível medir isso em termos de geração de CO2, ou seja, quantos gases responsáveis pelo efeito estufa você está gerando. São esses gases que vão contribuir para o aquecimento global.”

A consultoria Eccaplan criou o selo “Evento Neutro” para as iniciativas com as quais ela colabora. Na corrida de rua, a empresa deu o selo à NatGeo Run, prova que aconteceu no último ano em abril, na cidade de São Paulo, em comemoração ao Dia da Terra. “Em um evento neutro, a gente mede a quantidade de gases emitidos durante o evento e faz a neutralização disso através de apoio a projetos socioambientais. No caso da NatGeo Run, ela apoiou um projeto que preserva uma floresta na Ilha de Marajó, na Amazônia”, explica Aline.

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Consciência coletiva

Entretanto não ficam restritas à organização do evento as ações que podem torná-lo menos poluente. Também é responsabilidade dos próprios corredores o entendimento e a compensação dos próprios impactos gerados. “No caso da NatGeo Run, os corredores poderiam entrar no site da prova, onde nós oferecemos uma calculadora de emissões, por uma ferramenta web em que ele coloca informações como o veículo e o trajeto que utilizou para chegar até a corrida e recebe como resultado a quanti dade de gases que foi emitido por ele para participar daquele evento”, revela Aline. “Aí, cada corredor recebe a opção de neutralizar esses gases gerados doando o equivalente para um projeto socioambiental.”

É claro que, além dos gases, os resíduos sólidos também merecem a atenção das pessoas envolvidas na corrida de rua. Em um evento ideal, a grande maioria do lixo é separada, reciclada e reutilizada para outros fins. Segundo a Eccaplan, algo que está contribuindo para ações sustentáveis na corrida de rua é o interesse das marcas que patrocinam as provas “em agir de forma mais coerente com seus princípios” e por isso estão cobrando a responsabilidade sustentável nos eventos.

Sustentabilidade aos pés

Quando se pensa na corrida não como esporte, mas, sim, como um meio de transporte, ela surge como uma grande ferramenta da sustentabilidade. Caminhar distâncias curtas e médias é uma prática milenar que perdeu adeptos, principalmente nas grandes cidades. Iniciativas ecológicas propõem que as pessoas utilizem menos carros e transportes coletivos, voltando a dar prioridade aos pés para chegar onde precisam.

É o caso da Corrida e Caminhada da Sustentabilidade, evento que aconteceu nos últimos quatro anos na cidade de São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo. “Sustentabilidade vai muito além de não dispensar um copo plástico na rua durante uma corrida”, explica Cristiano Souza, organizador do evento. “Pensando em mobilidade urbana, o incentivo à prática de caminhar até o trabalho, por exemplo, tem um impacto positivo que interfere muito mais para um país mais sustentável.”

Atualmente, a Corrida e Caminhada da Sustentabilidade (hoje chamada de Corrida e Caminhada Luiz Guilherme) acontece em um bairro banhado pela Represa Billings, contaminada com grande quantidade de resíduos. “Por isso surgiu a ideia de fazer um evento sem fins lucrativos com o percurso passando ao lado da represa, apresentando a importância de se preservar o meio ambiente”, diz Cristiano.

O evento conta com orientadores que conversam com o público durante a caminhada, informando os participantes sobre as principais formas de contribuir com a sustentabilidade no dia a dia. “Infelizmente, a maioria dos corredores está mais preocupada com o seu tempo do que com o destino do lixo que ele dispensou na rua, por exemplo. A reeducação é o melhor caminho”, afirma o organizador da corrida. “Na edição de 2019, estamos buscando parcerias com professores e escolas da região para fazer uma ação de limpeza e plantio nas margens da represa com as crianças.”

Plogging: o treino ecológico

Enquanto muitos corredores seguem jogando o lixo no percurso, outros fazem exatamente o caminho contrário. Uma iniciativa que surgiu na Suécia e vem ganhando adeptos pelo mundo é a chamada plogging, que consiste em correr ou caminhar enquanto se retira o lixo do trajeto. O nome vem da junção de “jogging” (corrida, do inglês) e “plocka” (recolher, do sueco).

Para Emerson Corrales, corredor de trilha e fundador da Raiz Trail, que organiza provas no Sul do país, é possível praticar o plogging sem atrapalhar o rendimento no treino. “Levando em consideração que em determinado momento do ciclo de treinamento todo atleta tem aquele ‘trote para soltar’, não custa que, ao fazer seu treino, ele aproveite para realizar um plogging, auxiliando na limpeza do nosso ‘playground’”, diz.

Enquanto a prática vem crescendo muito por conta do alcance das redes sociais (procure #plogging no Instagram), a Raiz Trail se esforça para torná-la cada vez mais recorrente no Brasil. A empresa se associou ao projeto Clean Up The World, chancelado pelo Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente, e, por meio dessa parceria, realizou o primeiro evento de “Plogging Trail” do Rio Grande do Sul.

“Recolhemos bastante lixo nos locais onde treinamos perto de Porto Alegre”, relata Emerson. “A atividade teve grande repercussão nas redes sociais, o que nos motivou a realizar mais ploggings aqui no Rio Grande do Sul. Em breve a Raiz Trail estará divulgando as datas.” Enquanto não surgem mais eventos como esse, por que não começar a retirar o lixo do percurso no fim dos seus treinos?

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