Há quatro décadas, a corrida era esporte de um pequeno nicho de pessoas no Brasil. Hoje é uma verdadeira paixão nacional. E o mesmo pode ser dito da tatuagem: se na década de 1970 estava restrita ao mundo underground do rock ‘n’ roll e das motocicletas, hoje é comum que as pessoas tenham na pele os mais diversos desenhos.
E por que não juntar as duas coisas? Faz sentido, já que cada vez mais corredores exibem suas tattoos pelas ruas. Contamos aqui histórias de pessoas para quem a prática da corrida é tão importante que precisaram imortalizá-la em suas peles.
É no próprio sangue que uma pessoa pode encontrar suas raízes, suas motivações, seus vícios e suas virtudes. Nas veias do empresário Vinicius Secco corre o sangue de seu avô, que foi atleta do Palmeiras há seis décadas e completou a Corrida de São Silvestre de 1963. Também corre o sangue do pai, falecido em 2008 por conta de problemas cardiovasculares.
Não por acaso, um ano depois da perda do pai, Vinicius mergulhou no universo da corrida, e seu sangue passou a ferver pelo esporte. “Fiquei viciado!”, conta. Desde então, o paulistano tem uma rotina pesada de treinos e chegou a completar uma ultramaratona e duas maratonas – além de uma São Silvestre exatamente 60 anos depois da disputada pelo avô.
Na ligação da corrida com a sua vida e, claro, com a história da sua família, Vinicius viu sangue. “O sangue de corredor que corre nas minhas veias. Todo o sangue dos treinos, da dedicação, da abdicação, do sofrimento e, finalmente, da conquista”, fala. O empresário encontrou na tatuagem uma maneira de representar tudo isso, mas nem esse processo foi fácil: procurou na web entre centenas de tatuadores por aquele que tivesse o traço ideal.
Até que encontrou um que representasse de maneira perfeita, por extenso, os 42,195 km tão importantes em sua trajetória recente. E na “aquarela que mais parece sangue”, como o próprio Vinicius diz, o toque final. “Sou completamente louco pela minha tattoo.”
2. João Passini, 38 anos
Quando os amigos obrigaram o designer digital João Passini a sair de casa para se movimentar – nem que fosse por alguns minutos –, ele passou a se incomodar com a situação crítica em que se encontrava. Pesando 147 kg em 2013, o paulista de Campinas viu a iniciativa dos amigos como a chance de um recomeço.
A princípio, João e cinco colegas saíam para caminhadas e corridas curtas. “Eu sempre chegava por último, e o pessoal até voltava para me buscar no percurso”, conta o designer. “Com o tempo, fui pegando o gosto e vendo resultados.” Depois de perder 30 kg em uma rotina pouco rigorosa, percebeu a eficiência da corrida como um regulador do peso e procurou assessoria de uma nutricionista, que o auxiliou a unir o treinamento com fortalecimento muscular e alimentação saudável.
“Hoje apenas dois amigos ainda me acompanham nas provas, e sou o mais magro da turma”, diz João, com orgulho de ter perdido quase 70 kg. Este ano, o corredor amador completou sua primeira meia maratona e nem pensa em parar de correr. “Para celebrar e marcar toda essa mudança, fiz esta tattoo. Um corredor cruzando a linha de chegada, simbolizando quebra de limites, vitória e realização”, fala.
3. Gabriel Silva e Larrisa Kosoba, 30 e 28 anos
Gabriel Silva
A união de duas pessoas por um objetivo comum pode dar a força necessária para que ambas alcancem-no e cheguem ainda mais longe. Esse é o caso de Gabriel Silva e Larissa Kosoba: desde 2015, o casal começou a praticar corrida no dia a dia como uma forma de perder peso. “Esse exercício salvou minha vida, porque eu estava caminhando para a necessidade de uma cirurgia bariátrica“, conta o engenheiro Gabriel, que chegou a pesar 129 kg e hoje está na casa dos 86 kg.
O caso da psicóloga Larissa, de 28 anos, é menos extremo – de 72 kg antes da corrida para 60 kg hoje –, mas a prática esportiva em casal foi muito além da necessidade física. “Transformamos os horários de treino no nosso momento de lazer juntos. Nós nos divertimos e nos desafiamos a melhorar sempre”, explica Gabriel. “Um dá forças para o outro.”
O projeto de perda de peso foi lentamente dando espaço ao aumento da velocidade e resistência. Desde 2015, o casal treina entre cinco e seis vezes por semana, já passou pelos 5 km e pelos 10 km e agora foca na meia maratona. O objetivo é correr dez provas de 21 km ao longo deste ano (até agora, metade da meta já foi cumprida). Para celebrar as conquistas como dupla, Gabriel e Larissa decidiram marcar a corrida na pele. “Simboliza a nossa evolução, o amor pelo esporte e minha luta contra o peso”, conta o engenheiro.
Para 2018, o alvo é a maratona, embora o casal ainda não tenha decidido qual prova correr. “Apenas sabemos que o céu é o limite”, completa Gabriel.