Crianças na corrida, pode? Fisioterapeuta explica tudo

Entenda como o esporte influencia na vida da criança

Créditos: Tomsickova Tatyana/Shutterstock
O fisioterapeuta Cássio Siqueira fala sobre as consequências das crianças na corrida; leia mais

Um texto inspirador publicado aqui na RW conta a história do pequeno Frank. Aos 6 anos de idade, ele correu 5Km em 38 minutos para arrecadar dinheiro para um abrigo de cães.

O texto começa com a frase: Nunca é cedo demais para começar a correr. Correto? Corretíssimo. Mas pode ser cedo demais para se especializar em correr.

As redes sociais estão cheias de vídeos de crianças vestidas de pequenos atletinhas praticando atividades físicas.

E vejo muitos de treino funcional e cross-fit. Normalmente, os vídeos são precedidos de textos motivacionais e exaltando os feitos dos pequenos. Além disso, vários comentários do tipo: Ainnnn, meu filho vai ser assim!!

Da mesma forma que na corrida. Lindo de ver os pequeninos todos empenhados em executar os exercícios, mas também pode ser ruim a especialização precoce.

Criança pode correr?

O que quero dizer? Vejo o fato de pais incentivarem a prática de esportes e hábitos saudáveis desde cedo como algo muito positivo.

E é normal que crianças que tenham pais praticantes de atividades físicas provavelmente queiram seguir o exemplo. Assim, vão acabar se interessando pelo esporte dos pais.

Mas do ponto de vista da saúde motora, do desenvolvimento motor, emocional e cognitivo, criança não deve se especializar em um esporte específico.

Pode ser bonitinho ver uma criancinha imitando os movimentos do cross-fit. Entretanto, é horrível ver uma criança se tornar um mini-cross-fiteiro. Idem para qualquer outro esporte.

Criança e esporte

Porque criança tem que brincar, experimentar, vivenciar, sentir, errar, acertar. Criança tem que correr para frente e para trás, tem que virar cambalhota, pular, girar.

Sentir terrenos firmes, moles, lisos e ásperos, quentes e frios, de preferência descalços. Criança tem que andar de patins, de bicicleta, rolimã e até girar dentro de um pneu.

Tem que escorregar na grama, trepar no trepa-trepa, balançar no balanço. Tem que jogar bola, bolinha e bolona. Com os pés, com as mãos, com a cabeça, com raquete ou com taco.

Dessa forma, quanto maior a vivencia motora da criança, mais ela vai conhecer o mundo, o seu próprio corpo, o corpo do outro.

Mais vai conhecer o resultado de seus atos e adquirir um senso de responsabilidade por eles. Assim como também vai aprender a solucionar problemas.

Parece exagero, mas vivenciar o corpo na infância trás todos estes benefícios e muito mais. Crianças com repertório motor melhor se tornam, inclusive, corredores melhores no futuro!

Foto: arquivo pessoal.

Cássio Siqueira é supervisor de fisioterapia do esporte do curso de fisioterapia da USP e fisioterapeuta da Care Club, onde trabalha com reeducação funcional de corredores. É formado em fisioterapia na USP, com especialização em fisioterapia no esporte e fisioterapia em neurologia, mestre e doutorando em ciências da reabilitação também pela USP.