Exclusivo: Wilson Kipsang e a busca pelo recorde

Entrevistamos direto de Berlim o queniano, que é um dos favoritos ao lugar mais alto do pódio na Maratona

Divulgação Adidas

Wilson Kipsang fala baixinho e sorri com timidez, mas não se engane: ao ouvir o disparo de uma largada, este queniano cresce – fica gigante. Por 12 meses, o recorde mundial dos 42 km foi dele, depois que fechou a Maratona de Berlim em 2h03min23s em 2013.

Neste domingo, dia 24, Kipsang volta às ruas da capital alemã para uma batalha épica, em que tentará colocar seu nome novamente na história da corrida. Pela primeira vez, os três maiores corredores de longa distância da atualidade – Kipsang, o queniano Eliud Kipchoge e o Etíope Kenenisa Bekele – encararão uma disputa direta, disputando não só a vitória na mítica Berlim como também a quebra do recorde mundial (que hoje é de 2h02min57s, estabelecido em 2014 pelo queniano Dennis Kimetto). Conversamos pessoalmente com Kipsang em Berlim, na véspera da prova:

RW: Na maratona de Berlim, há três corredores com enormes chances de vitória e quebra de recorde. Vencerá aquele que estiver em um dia melhor. Como você se preparou mentalmente para esse embate? E como a pressão te afeta?

Pressão também pode afetar positivamente. Se há muita tensão e entusiasmo, e você tem confiança em seu treinamento e na sua preparação, você pode encarar a prova da melhor forma, dar o melhor de si durante a competição. Eu confio no meu treinamento.

Qual seu objetivo de tempo para a maratona deste domingo?

Qualquer coisa abaixo de 2h02min57s. Nem que seja somente um segundo.

E o sonho de vermos um homem correr uma maratona em menos de duas horas? Você acredita ser possível?

Sim, acho possível. Com preparação e um estratégia muito específica, é possível. A experiência em Monza nos mostrou isso. Se em uma maratona tivermos condições semelhantes, com vários corredores trabalhando para levar cinco atletas muito velozes até quase o fim, pode ser que um deles consiga. O recorde está baixando. Era 2h05min, 2h04min, agora 2h02min57s. Daqui a pouco estaremos em 2h01min e chegará a hora do 2h. Tecnologia, treinamento, esta tudo convergindo para isso.

Você venceu a maratona de Tóquio, no primeiro semestre de 2017, usando pela primeira vez um novo modelo de tênis de seu patrocinador, o Adidas Sub. Como ele afetou sua performance?

O tênis é muito leve, pesa 158 gramas. E ao mesmo tempo continua sendo confortável. Tenho certeza que ele me ajudou a baixar alguns segundos do meu tempo. Vou usá-lo novamente aqui em Berlim.

Ano passado você e Bekele tiraram uma briga boa aqui na Maratona de Berlim (Bekele venceu). Como acha que será este ano, com você, Bekele e Kipchoge se enfrentando?

Este ano será diferente. Não será eu versus Bekele, ou eu versus Kipchoge. Nem mesmo Kipchoge versus Bekele. Serão todos contra todos. Você tem que vencer dois caras, não só um. Uma vez que um tenha ficado pra trás, ainda sobram dois para lutar. Ou vamos os três até o fim. Vamos esperar e ver.

Você já tem uma estratégia definida?

Numa corrida como esta, você tem que estar pronto pra tudo. Se ela começar muito rápida, você tem que estar pronto para ir rápido também. A estratégia será feita lá, na hora.

Qual foi o treino mais duro que você fez em sua preparação para esta maratona?

Fiz alguns longos de 30 km, mas um deles, o último, foi em ritmo de prova. Corri os 30 km pra um ritmo de 3min10s/km. Foi muito duro.

Você tem 35 anos. Quantos anos mais pretende correr competitivamente?

Mais uns cinco anos. Compito em duas grandes maratonas por ano, não é muito. E ainda sinto prazer em correr. Sou um corredor. Essa é a minha vida.