Fratura por estresse: do diagnóstico ao tratamento

É possível sofrer uma fratura por sobrecarga, mesmo sem um trauma específico durante a corrida

Você sabia que o corredor pode apresentar fratura mesmo que não haja queda ou trauma durante a corrida? É a chamada fratura por estresse, uma das lesões por ‘overuse’ (sobrecarga) mais comuns no corredor.

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O que predispõe a essa fratura?

Vários fatores predispõem à fratura por estresse, entre eles, erros de treinamento, como progressão rápida do treino; volume (correr mais de 32 km/semana), aumento súbito, não gradual da intensidade do exercício; recuperação pós treino inadequada; calçado desgastado, com baixa absorção de impacto, superfície do solo muito rígida, irregular, desnivelada; exposição a condições climáticas extremas de treino, não aclimatação;

Fatores intrínsecos do atleta também contribuem para esta lesão, como sexo feminino, tipo de pisada, tipo de pé, baixa massa muscular, emagrecimento rápido, hábitos nutricionais inadequados, baixo condicionamento físico e emocional, baixa flexibilidade, técnica e gesto esportivo incorretos, membros inferiores de tamanhos discrepantes, predisposição genética, alterações endócrinas e metabólicas.

Por que a fratura ocorre?

O despreparo muscular para exercer ação protetora óssea e a sobrecarga repetitiva ao osso podem ocasionar fraqueza óssea e microfraturas. Com a continuidade do exercício, o tecido ósseo não tem tempo suficiente para remodelar-se e readaptar-se, podendo levar à fratura completa do osso.

O que se sente?

Dor no local da fratura durante corrida, que persiste com continuidade do exercício, associada à mudança do treino (aumento do volume, intensidade, mudança da superfície do treino) ou alteração do tênis de corrida ou mudanças alimentares (dietas restritivas, emagrecimento rápido, balanço energético negativo).

Como é feito o diagnóstico?

A suspeita ocorre com a investigação dos fatores de risco do atleta (treino, composição corporal), com as características da dor (em geral, localizada e piora com exercício) e com exame físico. A confirmação diagnóstica ocorre com exames de imagem, quando necessária, como radiografia, ressonância magnética e cintilografia óssea.

Quais os locais mais comuns de fratura de estresse no corredor?

Ramo púbico, fêmur, patela, tíbia, fíbula, calcâneo, talus, navicular, metatarso, sesamóide.

A determinação do local da fratura é importante para classificá-la se é de alto ou baixo risco. Essa classificação define o prognóstico, ou seja, o risco da fratura não evoluir satisfatoriamente durante o tratamento.

Alto risco: pior prognóstico, pode demorar mais a consolidar-se. Maior risco de recorrência da fratura. Locais: Colo fêmur, córtex anterior da tíbia, maléolo medial, talus, navicular, sesamóide, base do segundo e do quinto metatarso, patela.

Baixo risco: melhor prognóstico, retorno ao treino pode ocorrer mais facilmente do que as de alto grau. Há maior estimulo a consolidação óssea, devido à força de compressão axial. Exemplos: diáfise femoral, diáfise tibial, calcâneo, costelas, rádio, ulna, ramos púbicos, pars interarticulares, sacro.

Como é o tratamento?

O tratamento consiste na diminuição da sobrecarga óssea, redução do treinamento, analgesia, fisioterapia e, dependendo da localização, imobilização.

Em geral, assim como as demais fraturas, a consolidação ocorre em 6 a 12 semanas.

Importante manter condicionamento cardiovascular do atleta. Exercícios dentro d’água (deep running, natação) e bicicleta ergométrica podem diminuir a sobrecarga em fraturas em membros inferiores.

A progressão dos exercícios ocorre conforme melhora da dor e o retorno ao esporte deve ser avaliado pelo Médico do Esporte a fim de evitar complicações como atraso na consolidação óssea e pseudoartrose.

A prevenção de novos episódios deve ocorrer de forma multidisciplinar, com orientação a toda equipe, com avaliação periódica do condicionamento, da técnica e do gesto esportivo do atleta, com equilíbrio de treino, evitando overtrainning disfuncional, com avaliação nutricional e composição corporal.
Natália Guardieiro
é médica do esporte e assistente no Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), especializada em fisiologia do exercício, nutrologia e dor. Trabalha no Clube Paineiras, HCFMUSP e na clínica Move (SP), acompanhou atletas de alta-performance na Copa do Mundo 2014 e nas Olimpíadas de 2016. Praticante de esportes como boxe, ciclismo e yoga, acredita no exercício físico como parte da medicina. Entre em contato em: (11) 975580047 ou  contato@nataliaguardieiro.com.br

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