O guerreiro do sertão

Conheça Anderson Crisostomo, o minerador que cravou 2h30 na Maratona de Buenos Aires

Anderson na Maratona de Buenos Aires.

Por Patricia Julianelli

Treinar para uma maratona não é nada fácil. Completar os 42 km é para poucos. Correr abaixo de 3 horas, se você não vive do esporte, definitivamente é para uma minoria. Agora imagine passar parte do dia trabalhando como minerador e completar os 42 km em 2h30min36? Pois esse foi o feito de Anderson Crisostomo, na Maratona de Buenos Aires do último dia 9 de outubro. Ele obteve o 6º lugar geral e foi o 1º entre brasileiros e na faixa etária de 30 a 34 anos. O atleta amador tem 33 anos – corre há 16 – e treina em dois períodos do dia, além de trabalhar na extração de scheelita – mineral do qual se pode obter tungstênio. A rotina de trabalho vai das 6h às 12h no subsolo (são 250 metros de profundidade) da Mineração Acauan em Currais Novos (RN). Confira a entrevista com o corredor:

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Qual foi seu tempo exato em Buenos Aires? E quantas maratonas você já tinha feito antes dessa?

Completei a prova em 2h30min36. Essa foi minha 5ª maratona. Minha estreia nos 42 km foi em 2012, em Recife. Fiquei em 11º lugar com 2h41min. Depois fiz Chile em 2013 (16º lugar, com 2h25min45) e Recife novamente em 2013 (8º, com 2h37) e 2015 (7º lugar, com 2h35).

No que você acha que acertou para conseguir esse 2h30 em Buenos Aires?

Acredito que cheguei lá graças a treinos regulares sempre seguidos de boa alimentação. É isso.

Foto: arquivo pessoal.
Foto: arquivo pessoal.

Mas você conta com a ajuda de um treinador? E me fale um pouco do seu treino para Buenos Aires.

Sim, treino com o Hipólito, da equipe Guerreiros do Sertão. Meu treinamento começa às 5h. Corro 10 km até o trabalho, o que dá mais ou menos 40 minutos. No fim do expediente, volto no carro da empresa com meus colegas. À tarde, por volta de 16h30/17h, faço 1h20 de corrida em ritmo de 3min50 a 4min/km.

E duas vezes por semana faço trabalho de velocidade. Para a maratona, os tiros sempre eram mais longos na quarta-feira: 5 tiros de 2 km com ritmo de 6min40/6min50 com intervalos de 1min30 entre os tiros. Já no sábado, eu fazia 5 tiros de 3 km no ritmo de 9min50/10min por tiro com intervalos de dois minutos. E sempre com trote de 15 minutos no começo e no final. O restante do treinamento sempre foi 10 km pela manhã e 1h20 à tarde. O segredo é a sequência de treinos.

Qual foi o maior longão da sua preparação?

Fiz apenas dois longões – 33 e 38 km – nos meus 90 dias de treinamento visando a Maratona de Buenos Aires. O longo de 33 km eu corri 35 dias antes da prova a um ritmo de 3min45/km. Já os 38 km eu fiz 20 dias antes com pace de 3min40/km.

Você correu a segunda metade da prova mais rápido ou manteve um ritmo relativamente constante?

Sempre em ritmo relativamente constante! Quebrei muito pouco a primeira metade da prova, em que passei em 1h14min50. Isso daria no final 2h29min40 (terminei em 2h30min36). Então sempre fui constante, quebrei apenas 56 segundos. Do Km 36 para frente, ultrapassei o segundo brasileiro.

Você almeja viver só do atletismo?

Se talvez eu tivesse um patrocinador efetivo, conseguiria melhores resultados. O mais perto que cheguei foi em 2005, quando fui o 3º melhor brasileiro sub-23 no ranking da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Por isso, eu teria direito ao bolsa atleta, mas só recebi um documento e mais nada.