Mente positiva, corpo são

A ciência prova que passar tempo na natureza, com amigos ou em um lugar feliz ajuda a acelerar a recuperação

Ilustração: Janne Ilvonen

Por Kelly Bastone

Depois de uma prova ou um treino intenso, a gente fica acabado mesmo, o corpo parece não responder aos comandos. O cortisol, um hormônio que é liberado quando estamos estressados, inunda nosso sistema. Os músculos, repletos de microlesões, ficam inflamados e doloridos.

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A sensação não é nada agradável, mas essa resposta ao estresse ensina o organismo a se adaptar e ficar mais forte. No entanto, se o cortisol e a inflamação permanecerem, e os músculos desgastados demorarem a se recuperar, você pode esperar por uma queda na performance e até lesões ou doenças.

No ritual pós-treino dos corredores, são conhecidas técnicas como gelo, rolo de espuma e massagem. Mas novos estudos indicam que também podemos usar a mente para restaurar o corpo. O bônus? Os métodos são bem menos dolorosos que um banho de gelo.

Experiências incríveis na natureza

A ciência diz 
Estudos recentes revelam que experiências na natureza – que te fazem perceber o quanto você é pequeno e a natureza, maravilhosa – estão ligadas à diminuição dos índices de IL-6, uma molécula que estimula a inflamação pelo corpo.

Pesquisadores da Universidade da Califórnia (EUA) descobriram que a admiração está ligada à diminuição de IL-6. “Esse sentimento tem um papel forte na redução desse produtor de inflamação, o que é ótimo para corredores”, diz Jennifer Stellar, autora do estudo.

Embora mais pesquisas sejam necessárias para determinar exatamente o porquê de o sentimento de admiração ter esse efeito, Jennifer acredita que “passar por momentos de contemplação nos dá uma sensação maior de bem-estar”. “Esses sentimentos”, ela diz, “podem reduzir o estresse, diminuindo a inflamação.”

Faça você mesmo
“No dia após uma prova ou um treino puxado, considere dar uma caminhada por entre as árvores ou uma corrida leve na hora do nascer ou do pôr do sol”, recomenda Jennifer.

Movimentos leves ajudam na recuperação muscular, estimulando a circulação sanguínea e eliminando alguns metabólitos, e apenas estar na natureza pode reduzir a inflamação mais persistente. “Desconecte-se de tudo e realmente absorva o meio ambiente à sua volta”, diz.

Ilustração: Janne Ilvonen
Ilustração: Janne Ilvonen

Recuperação social

A ciência diz 
Uma pesquisa publicada no periódico Physiology & Behavior mostrou que a relação da testosterona para o cortisol – que age como um bom indicador da recuperação sistêmica (quanto maior, melhor) – era mais elevada em atletas que assistiam a um vídeo pós-treino em um ambiente informal, com amigos, do que em atletas que viam o vídeo em um ambiente neutro, cercados por estranhos. Além do mais, o primeiro grupo teve melhor desempenho em uma prova uma semana depois. “Um ambiente amigável, em que você pode conversar, fazer piadas e comentar sobre a prova com outros atletas, parece ajudar na recuperação e em performances futuras”, diz Christian Cook, um dos autores do estudo e professor de fisiologia e performance na Universidade de Bangor, no Reino Unido.

Os benefícios da interação social estão enraizados na nossa evolução: “Nossa fisiologia deve ter evoluído para recompensar o fato de darmos suporte uns aos outros”, diz Kelly McGonigal, palestrante de psicologia da Universidade de Stanford (EUA). “Sentir-
se conectado a outras pessoas tem efeitos na fisiologia do estresse.” Interação social muda o sistema nervoso para o “modo de recuperação” e libera hormônios como oxitocina, progesterona e vasopressina, que têm propriedades anti-inflamatórias. “O que é mais louco é que a oxitocina ajuda na recuperação do coração. É muito poético pensar que conectar-se a outras pessoas literalmente cura um coração partido.”

Faça você mesmo
Depois de uma prova ou treino puxado, dar apoio a outros corredores ou sair para tomar um café com amigos pode iniciar um processo de recuperação natural. “De todas as coisas que já experimentei para acelerar a recuperação, a interação social é a que parece funcionar melhor”, diz Steve Magness, autor de The Science of Running e técnico da seleção de atletismo e cross-country na Universidade de Houston, nos Estados Unidos.

Depois dos treinos mais fortes de seus atletas, Steve organiza “interações sociais forçadas”, na forma de cafés da manhã e jantares, relaxamentos e conversas em grupo. Seus atletas dizem que a recuperação é melhor depois das atividades sociais, e eles também veem um aumento em suas variações de ritmo cardíaco (a mudança de intervalo de tempo entre batimentos cardíacos, o que serve como um bom indicador da recuperação). Segundo Steve, para a maioria de seus atletas, “esse método tem um impacto maior na variação do ritmo cardíaco do que o banho de gelo e a massagem”.

Ilustração: Janne Ilvonen
Ilustração: Janne Ilvonen

Reflexões positivas

A ciência diz
Pesquisas feitas na Universidade de Bangor descobriram que atletas que recebem feedback positivo e se concentram no que fizeram de melhor depois de uma prova têm uma resposta hormonal melhor que aqueles que têm feedback negativo e focam no que não foi tão bem. Nos corredores mais positivos, havia uma maior concentração de testosterona – hormônio associado à recuperação e ao crescimento ósseo – circulando no sangue.


Faça você mesmo

Basta cultivar um pensamento positivo. “Encontre algo que funcionou e reflita sobre isso”, diz Steve. O que não quer dizer que ele e seus atletas não discutam coisas que não deram certo, “mas tentamos fazer com que o foco seja nos aspectos em que fomos bem. Guardamos as partes negativas para o dia seguinte, quando os atletas já descansaram e não estão estressados”.

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